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«(…) André, recenseado há quatro anos, recensaído
de Máfrica onde deixou dois ciclos como instruendo antiguerrilha na temida
especialidade de, que o poupe a sorte, atirador de infantaria, aguarda por estes
dias a decisão da selecção, no vertente caso colocação segundo dados do centro
de estudos psicotécnicos do exército transmitidos aos serviços mecanográficos
do exército que enviarão saber ao destinatário o que espera: trópicos e então
terá de desertar a curto prazo ou, se for classificado entre os três melhores,
ou quatro, qualquer quartel de cá, onde será instrutor de atiruenses como ele,
amanuenses do tiro. Passará três anos mais a marchar, a estar especado diante
de formaturas obtusas de atenção companhia olhar à direita à esquerda alinhar
de esquerda em linha atenção batalhão sentido atenção pelotão descansar à
vontade. Desmotivados guerreiros marimbando-se prá guerra e prá G3, arma
destinada à execução do tiro individual, eficaz até aos 400 metros, podendo
utilizar-se no corpo a corpo quando se lhe adapta o sabre-baioneta (modelo com
guarda-mão de baquelite ou madeira), pode ainda utilizar-se, quando o modelo em
questão apresenta bipé e guarda-mão metálico, como arma de apoio colectivo de
determinada unidade, é automática, de cano fixo, funcionando por acção indirecta
de gases (os gases exercem acção na culatra, por intermédio da base do
invólucro), também executando tiro simples (tiro a tiro), alcance máximo 4000
metros, alcance útil 400 metros, alcance prático 500 metros, velocidade inicial
700 a 800 metros por segundo, cadência de tiro 550 a 600 por minuto, caso haja
bala, o que só sucedia na carreira de tiro onde, diante de brancos alvos,
depois de estarem deitados no chão coberto de cápsulas, lhes davam as munições,
não fosse algum mais afoito lembrar-se de usar a mira contra chefes detestados,
aspirantes-aspirinas sabujos dos superiores, alferes e tenentes e por aí acima
até ao comandante da escola, figura avistada ao longe, muito escutada à saída-entrada
na porta-de-armas pelos toques especiais do corneteiro da casa-de-armas ou
sentinela ou lá como se chamava. André resistiu sem sucesso àquela trampa de
rigidez emperrante, ler e escrever tornaram-se complicadas operações depois dum
par de semanas metido na engrenagem de andar a toque-de-caixa desde o acordar
com ecos da trombeta fantástica de juízo final percorrendo corredores abobadados
próprios para mancebos se perderem nos primeiros tempos, nesse ex-convento
transformado em caserna como quase todos os mosteiros donde expulsaram frades
para lá meter militares e daí certa semelhança entre eles. Houve quem desertasse
levando dentro da mala a G3 desmontada: tapa-chamas e lança-granadas, anel de
ligação, extractor, mola do extractor, roletes da culatra, suporte superior
para o zarelho da bandoleira, fixador do guarda-mão, punho do manobrador, peça
do comando de travamento, detentor da cabeça da culatra, manga do
ponto-de-mira, caixa da culatra, fundo da mesma e armação para o punho, punheta
para isto tudo e mais para quem fabrica armas». In Almeida Faria, Cortes,
Editorial Caminho, o Campo da Palavra, Lisboa, 1986.
Cortesia de Caminho/JDACT