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«Comuna e judiaria identificavam-se por vezes na documentação, mas não
significavam o mesno. Enquanto a primeira se definia pela autonomia administrativa
e jurisdicional perante o concelho e os oficiais cristãos, a segunda era o
espaço físico, a rua ou ruas habitadas pelos judeus e cujo centro era a sinagoga,
onde se reuniam para rezar e ouvir ler a Torah, os homens separados das mulheres,
tendo ao lado o balneário para o banho ritual ou “mikvah”.
A localização das judiarias desta região é ainda hoje, na sua maioria,
problemática, pois a documentação coeva é escassa e imprecisa na sua informação.
Conhecemos com uma certa precisão a área do bairro judaico de Castelo de Vide,
a sinagoga, ou melhor: uma parte dela porque não creio que se limitasse só ao
espaço conhecido, a menos que houvesse outra, dadas as características
populacionais desta comunidade, e talvez o poço que abastecia de água.
Dificuldades tive e tenho quanto a Campo Maior pois ignoro se aqueles pátios
labirínticos poderão ser identificados com a judiaria e a toponímia s os documentos
não nos ajudam muito.
Sabemos que, com o baptismo, os bairros judaicos , consoante a sua
extensão, se passaram a designar por Rua Nova ou por Vila Nova. Na toponímia da
actual cidade de Portalegre existe ainda hoje a Rua Nova, perto da Sé. Poderá
ela ser identificada com a antiga judiaria? Sabemos pelos processos de Inquisição
que muitos cristãos novos habitavam na freguesia de Santa Maria, e outros na de
S. Lourenço.
Em Elvas, a Rua Nova ou antiga judiaria era também designada, no século
XVI , por Rua do Alcamim e nela continuavam a habitar muitos descendentes dos
antigos judeus que igualmente se espalhavam pela Praça, pele rua da Feira, pela
rua da Porta de Olivença e pela porta de Évora.
As sinagogas, na sua generalidade foram adaptadas a habitação, como a de
Castelo de Vide. Outras teriam sido transformadas em templos cristãos. Na
tradição de Quinhentos, difundida em surdina entre os cristãos novos, tal teria
sucedido com a sinagoga de Portalegre. En seu lugar, erguer-se-ia a igreja de
invocação de S, Lourenço ou S. Lourencinho.
Mas, em traços gerais, que podemos dizer sobre e localização das judiarias
que nos possa auxiliar na sua identificação? À semelhança do que ocorrera na maior
parte dos outros concelhos, os judeus fixavam-se no exterior da muralha
primitiva, próximo da designada Rua Direita, de rossios ou de praças e das vias
importantes para o tráfego local e regional. Só mais tarde com o século XIV e com
o surto de construção de muralhas à volta das diversas vilas do reino, o espaço
geográfico ocupado pelo bairro judaico ficou integrado na área defendida,
localizando-se geralmente próximo da muralha e de una das portas desta.
Avizinhava-se também com as alcaçarias da curtimenta, ou seja, a zona
habitacional e oficinal dos sapateiros e curtidores, profissões a que eles
bastante se dedicavam.
Igualmente característico era a proximidade de uma ou mais igrejas,
visando a conversão da minoria religiosa. Lembremos, para exemplificar, os
casos de Lisboa, Évora, Porto, Lamego, Trancoso, Guarda, Ponte de Lima, Silves
e Faro.
Ignora-se também o sítio certo dos adros ou cemitérios dos judeus, normalmente
extra-muros. Em Portalegre é provável que a sua localização tivesse sido nas
proximidades da igreja do Espirito Santo, pois quando se fez o “tanque” ou pia
baptismal foram descobertas, em meados do século XVI, inúmeras ossadas que
teriam sido na altura identificadas com as dos judeus falecidos antes do
baptismo e que viriam a ser roubadas e levadas como re1íquias pelos seus
descendentes.
Designados, desde os nosso primeiros soberanos, por “meus judeus”, a minoria
judaica tinha o direito de poder habitar e circular livremente em Portugal, mantendo a sua individualidade religiosa que
se resumia essencialmente na autorização para ter sinagoga, poder celebrar os
ritos e festas moisaicas, praticai o direito talmúdico entre si e reger-se por autoridades
próprias, eleitas pelos membros da comunidade entre os seus correligionários
elegíveis para os diversos cargos». In Maria Ferro Tavares, Judeus e Cristãos
Novos no distrito de Portalegre, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da
Universidade Nova de Lisboa, Acta do I Encontro da História Regional e Local,
Setembro de 1987.
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