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«Há já alguns anos fomos alertados pelo nosso colega José Olívio Caeiro
para existência na Biblioteca Pública de Évora de um manuscrito que descrevia
Castelo de Vide e igualmente fazia referências a Cidade Romana de Ammaia e a
Marvão.
Com relativa facilidade encontrámos o referido manuscrito na
inesgotável fonte de informação que é a "Sala dos Cimélios" daquela biblioteca.
Pela forma como se encontra preservado e pelo tipo de letra, Parece já não se
tratar do documento original, mas de uma cópia elaborada posteriormente.
Embora não se encontre assinado, nem datado, nem incluído na
correspondência dirigida a Fr. Manuel do Cenáculo Vilas Boas, Bispo de Beja e
posteriormente Arcebispo de Évora, poderá, sobretudo pela forma como se
encontra redigido, corresponder a uma das muitas permutas epistolares trocadas
entre aquele erudito prelado e algum clérigo, de letra grossa, de Castelo de
Vide. Basta uma simples leitura por algumas das cartas dirigidas a Fr. Manuel
do Cenáculo para encontrarmos algumas semelhanças com o documento agora em
apreciação. Outra hipótese poderá ser colocada. A forma como se encontra
elaborada a descrição de Castelo de Vide e especialmente o parágrafo
introdutório, não se afasta, igualmente, das descrições feitas pelos párocos
nas célebres Memórias Paroquiais. Embora desconheçamos o autor e data da sua
redacção, pela letra e pelas informações que contém, poderemos posicionar a
elaboração deste interessante documento na segunda metade do século XVIII. Não
deixa de ser perturbadora a forma como o autor do texto descreve as relações
existentes entre as gentes de Castelo de Vide e os vizinhos castelhanos, onde
os episódios de fronteira são bem evidenciados. Igualmente bem evidenciada é a
amenidade do clima e paisagem que claramente se opõe ao tratamento dado pelos
castelovidenses dessa época aos do lado de lá da raia. Algum fundamento terá a
expressão que um actual filho adoptivo de Castelo de Vide nos ensinou sobre
esta vila: "Castelo de Vide é uma colmeia muito bonita…” Seguramente essa
era a opinião dos castelhanos que acabaram os seus dias nas covas que os de
Castelo de Vide abriram nas suas casas, como nos relata este documento intitulado
"Antiguidades e algumas notabilidades da Villa de Castelo de Vide e seu
Termo" e que se guarda na Biblioteca Pública de Évora com a cota: Cod
CIV/1-4 d. a fl 278.
Pela importância que assume para a História do Nordeste Alentejano
parece-nos, perfeitamente justificável a publicação deste interessante
documento.
Transcreve-se integralmente o manuscrito, sem qualquer correcção de
texto, ou desdobramento de abreviaturas.
ANTEGUIDADES E ALGUAS NOTABILIDADES DA VILLA DE CASTELO DE VIDE E SEU
TERMO
Como ordinariam-te, as cousas que se escrevem das
origens, e aanteguidade de alguns Lugares se tenhão pellos que as tem por
fabulozas; Tratei buscar origem desta Villa de Castello de Vide, e suas notabilidades
por innumeraveis papeis, pera me liuar da calunia de fabulozo; e pera que esta
escriptura tivesse nome de verdadeira. Mas como nossa Lusitania fosse nos
principios tam pouco pulida, e menos curiosa de escripturas não só menos deixou
de escrever a origem, e principio de suas cousas notaveis; mas ainda suas
vertudes, e obras escritas; que não somente podião dar Lustre a ella; mas a
todos os Reinos que della tem algua dependencia, como essa causa fosse de se porem
muitas cousas dignas de memoria com esquecimento; assim as dos principios desta
villa; estão detal maneira, que senão pode achar cousa de que peguar salvo per
tradiçoens, que dos velhos alcanço e como taes as vendo; o credito se lhes pode
dar como à seus tradições». In Jorge de Oliveira, Ibn Maruán, Revista Cultural do Concelho de Marvão, Coordenação de
Jorge Oliveira, nº 7, 1997.
continua
Cortesia da C. M. de Marvão/JDACT