Cortesia
de wikipedia e jdact
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Foi face a esta escassez de estudos acerca de Arzila, e particularmente
relativos à sua conquista, que surgiu a ideia para a elaboração desta
dissertação de mestrado. Essa falta de estudos de caso sobre as conquistas
portuguesas em Marrocos, visível não só no que em cima deixamos dito mas também
num artigo da autoria de João Gouveia Monteiro e Miguel Gomes Martins,
revela-se para nós uma oportunidade, uma vez que nos permite inserir a nossa
dissertação de mestrado numa lacuna da historiografia portuguesa, ao estudarmos
de forma o mais aprofundada possível a conquista de Arzila, algo que até ao
presente momento é inédito. Assim sendo, e face a tudo o que até este momento foi
dito, parece-nos importante fazer uma análise mais detalhada daquele que será o
objecto de estudo desta dissertação de mestrado. Antes de mais é necessário
compreender a conquista de Arzila enquanto um acontecimento situado num tempo e
espaço específicos. A dissertação terá o seu início com a escolha do alvo a
atacar, passará pelos preparativos feitos para a expedição, humanos e materiais,
pela conquista de Arzila propriamente dita, pela ocupação de Tânger e pelo
tratado de tréguas assinado com o sultanato de Fez, para terminar com o
regresso do rei e boa parte da armada ao reino. Todos estes acontecimentos
ocorrem no ano de 1471, mas por vezes será necessário, para melhor ilustrar
determinadas situações, recorrer a exemplos de campanhas anteriores, como a
conquista de Alcácer Ceguer em 1458, ou posteriores, como a guerra contra
Castela de 1475-1479.
Num
primeiro momento serão estudadas as conjunturas internas dos reinos ibéricos,
Portugal, Castela, Aragão, Navarra e Granada, e do sultanato de Fez, para
compreender como estas permitiam, ou não, o lançamento de uma expedição militar
em 1471. Para Afonso V era particularmente importante não só ter um reino
pacificado a nível interno, mas também ter garantias suficientes de que
Portugal não seria invadido por Castela assim a armada zarpasse rumo ao Norte
de África. Mais, era essencial conhecer a situação interna do sultanato de Fez
por forma a saber quais as hipóteses de sucesso da campanha, face à oposição
que seria expectável que se viesse a enfrentar, bem como o alvo mais propício a
atacar, Arzila ou Tânger. Sendo consideradas propícias as conjunturas interna e
externa e estando escolhido o alvo a atacar, era então chegada a altura de
começar a preparar os meios para a campanha. O recrutamento dos homens será
estudado de acordo com as crónicas e os registos da chancelaria régia por forma
a compreender não só quantos indivíduos participaram na conquista de Arzila,
mas também quem eram estes homens, que papéis desempenharam e como foram
recompensados pelo serviço prestado à Coroa. Já no que diz respeito aos
preparativos materiais, como sejam a compra de mantimentos e armas, defensivas,
ofensivas, de cerco etc., bem como o fretamento de navios, será feito recurso
a, sobretudo, documentação de chancelaria. Tentaremos ainda compreender como
foi possível a Coroa portuguesa pagar a expedição tendo em conta os seus
rendimentos à época.
O cerne da dissertação é a conquista propriamente dita, e é
sobre o decorrer desta que esperamos construir uma narrativa que permita
compreender a forma como julgamos terem tido lugar os acontecimentos. Serão
analisados da forma mais completa possível as várias fases do cerco, desde o
desembarque até à conquista derradeira, dando especial atenção às figuras que
desempenharam papéis mais importantes nas várias fases, desde o rei e do
príncipe, até aos condes de Monsanto e Marialva. Também as repercussões da
conquista de Arzila são essenciais ao nosso estudo, como a ocupação de Tânger,
o assinar da trégua com o sultanato de Fez e o retorno das ossadas do infante
Fernando a Portugal, e como tal serão alvo de estudo. Procuraremos ainda analisar
as razões que levaram Afonso V a assinar as já referidas tréguas, o que
significava o final das suas ambições marroquinas. Estas razões permanecem até
hoje alvo de interrogação por parte dos historiadores, pelo que as procuraremos
explicar, demonstrando que o rei teria já noção de que não existia em Portugal
capacidade material e humana suficiente para conquistar todo o sultanato de
Fez.
Este
estudo será elaborado tenho em conta sobretudo os relatos legados por Jean
Wavrin, borgonhês, contemporâneo dos acontecimentos e bem informado, e por Rui
Pina e Damião Góis, funcionários da Coroa portuguesa que escreveram as suas
crónicas respectivamente em inícios e meados do século XVI, bem como por outra
documentação de tipo narrativo, como sejam os Anais, Crónicas e Memórias Avulsas de Santa Cruz de Coimbra,
organizados por António Cruz, da Crónica
da Fundação do Mosteiro de Jesus, de Aveiro, e Memorial da Infanta Joana filha
del Rei Afonso V: Códice quinhentista, organizada por António Gomes Rocha
Madahil, ou dos Anais de Arzila
da autoria Bernardo Rodrigues e organizados por David Lopes. Como já
tivemos oportunidade de referir, a documentação da chancelaria de Afonso V
desempenhará ao longo da dissertação um papel de suma importância. Será, de
resto, feito recurso também a colectâneas documentais já publicadas como a Monumenta Henricina e os Descobrimentos Portugueses: Documentos para
a sua História de João Martins Silva Marques. Como já antes
referimos, os estudos que até ao momento abordaram a conquista de Arzila
pecaram pela falta de uso de documentação de chancelaria, uma vez que esta permite
trazer nova luz sobre algumas afirmações menos claras dos cronistas, ou mesmo
revelar algumas lacunas relativas a datas ou factos que estes cometem». In
Paulo A. Mesquita Dias, A Conquista de Arzila pelos Portugueses, 1471,
Dissertação de Mestrado em História, Especialidade História Moderna e
Descobrimentos, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de
Lisboa, 2015.
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