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Panteísmo
[…]
«Ide!
Crescei sem medo! Não e avara
A
alma eterna que em vós anda e palpita...
Onda,
que vai e vem e nunca pára!
Em
toda a forma o Espírito se agita!
O
imóvel é um deus, que está sonhando
Com
não sei que visão vaga, infinita...
Semeador
de mundos, vai andando
E a
cada passo uma seara basta
De
vidas sob os pés lhe vem brotando!
Essência
tenebrosa e pura..., casta
E
todavia ardente... , eterno alento!
Teu
sopro é que fecunda a esfera vasta...
Choras na voz do mar..., cantas no vento...
II
Porque
o vento, sabei-o, é pregador
Que
através das soidões vai missionando
A
eterna Lei do universal Amor.
Ouve-o rugir por essas praias, quando,
Feito
tufão, se atira das montanhas,
Como
um negro Titã, e vem bradando...
Que
imensa voz! que prédicas estranhas!
E
como freme com terrível vida
A
asa que o libra em extensões tamanhas!
Ah!
quando em pé no monte, e a face erguida
Para
a banda do mar, escuto o vento
Que
passa sobre mim a toda a brida,
Como
o entendo então! e como atento
Lhe
escuto o largo canto! e, sob o canto,
Que
profundo e sublime pensamento!
Ei-lo
o Ancião-dos-dias! ei-lo, o Santo,
Que
já na solidão passava orando,
Quando
inda o mundo era negrume e espanto!
Quando
as formas o orbe tateando
Mal
se sustinha e, incerto, se inclinava
Para
o lado do abismo, vacilando;
Quando
a Força, indecisa, se enroscava
Às
espirais do Caos, longamente,
Da
confusão primeira ainda escrava;
Já
ele era então livre! e rijamente
Sacudia
o Universo, que acordasse...
Já
dominava o espaço, onipotente!
Ele
viu o Princípio. A quanto nasce
Sabe
o segredo, o gérmen misterioso.
Encarou
o Inconsciente face a face,
Quando a Luz fecundou o Tenebroso».
[…]
In
Antero de Quental, Antologia, Odes Modernas
Organizacao de José Lino Grunewald e Maria Fernanda AM Andrade
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