Cortesia
de wikipedia e jdact
«Desde há muito que existe polémica e descontentamento à
volta do ensino da Matemática. Tanto os intervenientes directos (professores e
alunos), como todos os que se interessam pelo assunto, manifestam
invariavelmente frustração e preocupação. No entanto, as razões invocadas são
muito diversas. Por detrás da frase os alunos não sabem Matemática escondem-se
significados e desejos de mudança muito diversos, por vezes contraditórios. Por
isso, a questão do insucesso em Matemática não pode ser abordada de um prisma
puramente técnico. Impõe-se uma abordagem histórica e epistemológica. É o que
procurei fazer nas páginas que se seguem. Começo por rever alguns dos marcos
mais salientes do percurso do ensino desta disciplina no nosso país, posto o
que analiso os elementos fundamentais que caracterizam o ensino da Matemática
como fenómeno social. A partir deste quadro, procuro identificar os factores
que contribuem para a crise no ensino da Matemática e apontar caminhos para a
sua resolução.
Momentos significativos no ensino da matemática em Portugal
É importante termos uma noção nítida do nosso passado. Como é
evidente, num texto desta natureza, é impossível fazer justiça a tudo o que de
significativo, pela negativa e pela positiva, tem acontecido no ensino da
Matemática em Portugal. Não falarei dos projectos nem das múltiplas iniciativas
de natureza local, tema que, de resto, já abordei noutros momentos. Destacarei,
antes, cinco momentos principais:
A acção pedagógica de Bento Caraça;
O programa-piloto de José Sebastião e Silva;
A proposta curricular de Milfontes;
O reajustamento do programa do ensino secundário;
A identificação de competências essenciais no ensino básico.
O ensino tradicional dos
anos 40 e 50
Em termos de ensino, os anos 40 e 50 são marcados pela memorização
e mecanização. É preciso saber de cor demonstrações de teoremas geométricos e
praticar listas infindáveis de exercícios segundo o paradigma do tristemente
célebre Palma Fernandes. No entanto, os resultados deste ensino não eram
propriamente brilhantes. Temos disso vários testemunhos. Por exemplo, Maria
Teodora Alves (1947), publicou na Gazeta de Matemática um estudo sobre a
competência em cálculo numérico dos alunos do 2º ano do liceu (actual 6º ano de
escolaridade). O estudo teve por base um teste com 50 questões distribuídas por
9 grupos. Por exemplo, duas das questões eram:
(9) 2 – 3 – 4 + 7
(10) 9 – 2 + 5 - 4
No
conjunto destas duas questões, que não se podem considerar especialmente difíceis,
as respostas erradas foram de 76,75%. A autora conclui que os alunos revelam
graves deficiências na técnica de cálculo.
Num
outro trabalho, realizado alguns anos mais tarde, publicado nos Cadernos de
Psicologia e Pedagogia (1958), verifica-se que a disciplina de Matemática é a
que apresenta o maior número de notas negativas (34% no 2º ciclo do liceu, um
pouco mais no 1º ciclo), sendo seguida de perto pelo Português. É curioso
comparar estes resultados com os que têm na actualidade os alunos do 9º ano.
Segundo o relatório Matemática 2001 (APM, 1998), em 1992/93 e 1994/95, na
região de Lisboa, no fim do ano, a percentagem de alunos com nível inferior a 3
ou desistentes é de… 34%. É claro que os níveis de exigência podem ser
diferentes, mas o facto é que as percentagens de insucesso não podiam ser mais
semelhantes…» In João
Pedro Ponte, O ensino da Matemática em Portugal, Uma prioridade educativa?, Conferência realizada no Seminário sobre O Ensino da
Matemática: Situação e Perspectivas, promovido pelo Conselho Nacional de
Educação, em Lisboa, no dia 28 de Novembro de 2002, Wikipédia.
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