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de wikipedia e jdact
As heresias
«(…) O
termo também é usado para definir qualquer tipo de deturpação de sistemas
filosóficos instituídos, bem como alterações observadas em ideologias políticas
ou até mesmo em movimentos artísticos. O fundador de uma heresia, mesmo que não
a considere como tal, passa a ser conhecido como heresiarca. O historiador José
D’Assunção Barros, que também é musicólogo, coloca o termo herege como alguém,
investido de poder eclesiástico e institucional que classificou a sua prática
ou as suas ideias como destoantes e contrárias a uma ortodoxia oficial que se
autopostula como o caminho correcto. É claro que, para quem não conhece, a
associação entre heresia e religião, principalmente com a católica, é quase
imediata. A própria ortodoxia religiosa define a heresia como desvio da verdade
universal, de modo que mesmo se todos os seres humanos acreditarem num erro,
ele não passará, por isso, a ser verdade, segundo Barros. Mas como surgiu esse
termo? Pelos registos históricos, foi com os cristãos, que o usavam para nomear
ideias que vinham de encontro às suas crenças, que eram catalogadas como falsas
doutrinas. Assim, terminou por ser adoptado tanto pela Igreja Católica quanto
pelas denominações protestantes, já que ambas afirmam que heresia é uma
doutrina contrária à verdade que teria sido revelada por Jesus Cristo, ou seja,
seria uma má interpretação da Bíblia, dos profetas e até do próprio Cristo, sem
falar de uma deturpação dos conceitos aplicados quando uma pessoa se torna sacerdote,
o que representaria risco para o próprio magistério. Isso tudo calcado na
própria Bíblia, que alerta em Gálatas 5:20 sobre os perigos da existência de idolatria,
feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias.
No
livro O Nome da Rosa, de Umberto Eco, a personagem principal, o monge
franciscano Guilherme, oi William, de Baskerville é um ex-inquisidor que,
cansado de pactuar com as atrocidades da maldita Inquisição, deixa o cargo. A acção
passa-se durante uma série de assassinatos que acontecem na abadia onde
ocorrerá um debate sobre uma questão teológica ligada à filosofia da Igreja, um
inquisidor real chamado Bernardo Gui (1261/62-1331 chega para analisar a série
de assassinatos. O inquisidor descobre um despenseiro que se envolve com
bruxaria para atrair uma jovem camponesa para que faça sexo em troca de comida.
Interessado em impor o poder da maldita Inquisição sobre os componentes da
abadia, Bernardo Gui acusa outras personagens menores e os condena a serem
queimados na fogueira. Para corroborar o seu veredicto, ele pede para que
Guilherme o confirme. E o monge franciscano sabe o que acontece com quem
contesta a opinião de um inquisidor, ele próprio poderia ser acusado de compactuar
com os supostos heréticos e, assim, se tornar um deles por associação.
As
acusações
O acusado na maldita Inquisição era
responsabilizado por uma crise de fé, pela qual poderia, ou não, ter relação
com fenómenos naturais como pestes, terramotos, doenças e miséria social. Ele
era então preso e entregue às autoridades estatais para ser punido. As penas
variavam de confisco de bens à pena de morte na fogueira. O uso do fogo foi o
modo de punição mais famoso, embora outros meios fossem utilizados. Essas
punições tinham um significado religioso, já que o fogo era o símbolo da
purificação e materialização da desobediência a Deus, ou seja, do pecado e
ilustração da imagem do inferno. As punições com fogo também envolviam
autores de livros polémicos. Em 1756, em Londres, por exemplo, há o registo do
que teria sido levado à execução um Cavaleiro de Oliveira, na verdade o
escritor português Francisco Xavier Oliveira (1702-1783): a publicação da obra Discours pathetéque ou
suget des calamites, publicado naquela cidade. Há duas versões
para essa execução: numa delas, o cavaleiro foi queimado com o livro suspenso
ao pescoço como herege convicto. Na segunda, o livro foi colocado numa estátua
do escritor e então queimada.
É
importante lembrar, entretanto, que os tribunais da Inquisição (maldita) não
eram permanentes, e sim entravam em funcionamento em casos de heresia
comprovada e depois eram desactivados.
Quando houve a Reforma Protestante, no século XVI, foram instituídos outros métodos judiciários de combate à heresia. Neles o delator que
apontava um herege garantia a sua
própria fé em público e sua condição perante a sociedade. Basta lembrar que a
caça às bruxas teve origem em países protestantes e não foi liderada pela
Inquisição (maldita)». In Sérgio P. Couto,
Os Arquivos Secretos do Vaticano, Da Inquisição à renúncia de Bento XVI,
Editora Gutenberg, 2013, ISBN 978-856-538-385-1.
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