sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Breve Panorama dum Mito Português. O Sebastianismo. «No surto do fenómeno teve também importância o “messianismo judaico” vivido pelos cristãos-novos. Os judeus tinham sido expulsos de Portugal em 1496, depois de acolhidos por João II em 1492»

Cortesia de coleccao

Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.

Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem loucura o que é o homem
Mais que a besta sadia, cadáver adiado que procria?
In Fernando Pessoa

Triste de quem é feliz! In Fernando Pessoa, 1934.

O rei Sebastião, ele mesmo
«Sebastião (1554-1578), filho do príncipe João e de D. Joana de Áustria, sucedeu a seu avô, João III. Rei aos 3 anos, ficou sob a tutória da avó, D. Catarina, regente do reino. Sucedeu-se na regência o cardeal Henrique e só em 1568 foi Sebastião coroado rei. De saúde frágil, o novo rei tinha um espírito imprudente e exaltado. Vivendo alheio à realidade política e económica portuguesa, acalentou o sonho de uma cruzada em África. Em 1578 partia para ela com um exército de 1800 homens, sendo derrotado em Alcácer-Quibir por Mulei Almelique. Perdeu a vida nessa batalha. Sucedeu-lhe então o cardeal Henrique.

Marco Túlio, o falso Sebastião
Cortesia de coleccao

O Mito
Mito de raiz popular, crença no regresso do rei Sebastião desaparecido em Alcácer-Quibir, o sebastianismo traduz a nostalgia de uma idade de ouro que passara e o sentimento de humilhação nacional de um povo ocupado pelo estrangeiro, bem como a espera messiânica duma comunidade incapaz de resolver os seus destinos.
No surto do fenómeno teve também importância o “messianismo judaico” vivido pelos cristãos-novos. Os judeus tinham sido expulsos de Portugal em 1496, depois de acolhidos por João II em 1492.
As célebres trovas de Bandarra, da primeira metade do século XVI, profetizando a vinda do rei ”Encoberto” que ‘fará paz em todo o mundo’, tiveram grande audiência junto da população cripto-judaica e grande favor popular.
Gonçalo Annes, de alcunha o ‘Bandarra’ (Bandarra é um mandrião, um vadio), sapateiro de Trancoso, na Beira Alta, viveu na primeira metade do século XVI, no reinado de João III. As suas trovas proféticas datam de 1510-1540. Preso pela Inquisição (maldita) por via delas, prometeu não voltar a escrever nem a deixar-se consultar como teólogo. Viveu ainda depois de 1556. Em 1603 são as trovas impressas pela primeira vez». In O Sebastianismo, Breve Panorama dum Mito Português, Colecção Portugal Ontem, Portugal Hoje, Lisboa.

JDACT