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A
Comenda de Oriz da Ordem de Avis
«(…) Tratando-se da análise de
uma parte do património de uma Ordem Militar, como afirmámos mais acima,
pareceu-nos importante situar um pouco a comenda no conjunto da Milícia de
Avis, sobretudo no que respeita à sua organização interna. Não podemos, no
entanto, esquecer que a documentação estudada não engloba a totalidade dos diplomas
do cartório de Avis, mas quase exclusivamente os respeitantes ao património nortenho.
A organização interna da Ordem de Avis:
breve abordagem
A
administração central
São, infelizmente, escassos os
trabalhos de conjunto que nos permitam, em breves palavras, sintetizar a
evolução geral da Ordem Avis, sobretudo no que respeita à sua organização
interna. Tal como escreveu Lomax, La historia de la Orden esta muy
descuidada y el investigador solo puede acudir-se a las historias de Portugal
para buscar algun que outro detalle. O mesmo autor atribui este vazio à
obsessão pelo estudo das relações entre Avis e Calatrava que os historiadores
nacionais sentiram durante muito tempo, esforçando-se por provar a
independência de uma face à outra. Pela nossa parte, acreditamos que a
organização da milícia portuguesa era semelhante à da castelhana, pelo que
tentaremos adaptar, de acordo com a documentação que conhecemos, o que se aí se
passava à Ordem de Avis.
Assim, à cabeça da Cavalaria
encontramos o Mestre que,
como máxima autoridade entre os freires, tinha poderes ao nível espiritual e temporal.
De entre estes salientam-se conceder forais a lugares do seu senhorio, efectuar
contratos de compra e venda e de escambos, bem como acordar composições. A sua
autoridade não era, contudo, ilimitada, já que muitos casos exigiam o consentimento
do Capítulo Geral, constituído pelas mais altas dignidades da Ordem e pelos
Comendadores. Conhecemos um Catálogo do século XVIII que enumera os Mestres de Avis
mas que difere um pouco da lista apresentada por frei Jerónimo Román na sua
Crónica sobre esta Cavalaria, pelo que se impõe um estudo rigoroso a breve
prazo.
O segundo, em grau de importância
dentro da Ordem, era o Comendador-mor.
Eleito em Capítulo Geral presidido pelo Mestre, o seu cargo consistia em ser
general lugar teniente del Maestre en absencia suya, assi en la paz como en
la guerra. Pertencia-lhe também el derecho de governar la Orden estando
vaco el maestradgo y convocar Capitulo para eleccion dei Maestre. Sendo
assim, o Comendador-mor deveria aparecer como o natural sucessor dos mestres
quando estes morriam ou deixavam o lugar vazio. No entanto, o único caso que
conhecemos é o de Fernão Rodrigues Sequeira que toma o lugar de João I quando
este é aclamado rei de Portugal.
O Craveiro, encarregado da guarda do Castelo e convento de
Avis, poderia, pensamos, substituir o Comendador-mor na sua ausência. Apenas
conhecemos um Craveiro de Avis, frei Garcia Peres Campo, e já em finais
do século XIV, o que não nos permite saber o seu real valor na Ordem Militar
portuguesa. Alguns cargos, pela sua natureza, eram obrigatoriamente
desempenhados por freires clérigos, nomeadamente o priorado do Convento e a
sacristia. Destes, o Prior
era a dignidade mais importante, já que era o responsável pela vida
espiritual dos freires. Segundo Rades Andrada por concession apostolica usa
de Mitra y Baculo Pastoral y de otras insígnias Pontificales (...) y puede dar
menores ordenes a los conventuales, y bendezir ornamentos y vasos para el uso y
servicio de las dichas Yglesias y reconciliar las si fuerem pollutas o violadas,
sendo assim como que um abade mitrado.
O Sacristão, à semelhança do que acontecia nos Cabidos
Catedralícios e das Colegiadas, teria a seu cargo a guarda de relíquias e
objectos de culto e ornamentos, bem como a Biblioteca do Convento. As
referências a este oficial são abundantes, mas o mesmo não podemos dizer quanto
ao arquivo e livros da milícia raramente mencionados na documentação medieval
da Ordem. Subordinados ao Mestre haveria também alguns outros cavaleiros mas ignoramos
quais seriam as suas funções, se é que as tinham. Em Calatrava, são conhecidos
um Sub-Craveino, um
Encarregado das Obras e Reparações
do Castelo, um Sub-Comendador do Convento, um
Alferes e Visitadores, dignidades até agora
não surgidas nos documentos portugueses. Contudo, Avis contava ainda com
um Tesoureiro e
um Celeireiro, cujas
funções seriam, pensamos, as que o seu nome indica». In Maria Cristina A.
Cunha, Estudos sobre a Ordem de Avis, séculos XII-XV, Faculdade de Letras,
Biblioteca Digital, Porto, 2009.
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