quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Estudos sobre a Ordem de Avis. Séculos XII-XV. Maria Cristina Cunha. «Assim, à cabeça da Cavalaria encontramos o Mestre que, como máxima autoridade entre os freires, tinha poderes ao nível espiritual e temporal»

jdact

A Comenda de Oriz da Ordem de Avis
«(…) Tratando-se da análise de uma parte do património de uma Ordem Militar, como afirmámos mais acima, pareceu-nos importante situar um pouco a comenda no conjunto da Milícia de Avis, sobretudo no que respeita à sua organização interna. Não podemos, no entanto, esquecer que a documentação estudada não engloba a totalidade dos diplomas do cartório de Avis, mas quase exclusivamente os respeitantes ao património nortenho.

A organização interna da Ordem de Avis: breve abordagem
A administração central
São, infelizmente, escassos os trabalhos de conjunto que nos permitam, em breves palavras, sintetizar a evolução geral da Ordem Avis, sobretudo no que respeita à sua organização interna. Tal como escreveu Lomax, La historia de la Orden esta muy descuidada y el investigador solo puede acudir-se a las historias de Portugal para buscar algun que outro detalle. O mesmo autor atribui este vazio à obsessão pelo estudo das relações entre Avis e Calatrava que os historiadores nacionais sentiram durante muito tempo, esforçando-se por provar a independência de uma face à outra. Pela nossa parte, acreditamos que a organização da milícia portuguesa era semelhante à da castelhana, pelo que tentaremos adaptar, de acordo com a documentação que conhecemos, o que se aí se passava à Ordem de Avis.
Assim, à cabeça da Cavalaria encontramos o Mestre que, como máxima autoridade entre os freires, tinha poderes ao nível espiritual e temporal. De entre estes salientam-se conceder forais a lugares do seu senhorio, efectuar contratos de compra e venda e de escambos, bem como acordar composições. A sua autoridade não era, contudo, ilimitada, já que muitos casos exigiam o consentimento do Capítulo Geral, constituído pelas mais altas dignidades da Ordem e pelos Comendadores. Conhecemos um Catálogo do século XVIII que enumera os Mestres de Avis mas que difere um pouco da lista apresentada por frei Jerónimo Román na sua Crónica sobre esta Cavalaria, pelo que se impõe um estudo rigoroso a breve prazo.
O segundo, em grau de importância dentro da Ordem, era o Comendador-mor. Eleito em Capítulo Geral presidido pelo Mestre, o seu cargo consistia em ser general lugar teniente del Maestre en absencia suya, assi en la paz como en la guerra. Pertencia-lhe também el derecho de governar la Orden estando vaco el maestradgo y convocar Capitulo para eleccion dei Maestre. Sendo assim, o Comendador-mor deveria aparecer como o natural sucessor dos mestres quando estes morriam ou deixavam o lugar vazio. No entanto, o único caso que conhecemos é o de Fernão Rodrigues Sequeira que toma o lugar de João I quando este é aclamado rei de Portugal.
O Craveiro, encarregado da guarda do Castelo e convento de Avis, poderia, pensamos, substituir o Comendador-mor na sua ausência. Apenas conhecemos um Craveiro de Avis, frei Garcia Peres Campo, e já em finais do século XIV, o que não nos permite saber o seu real valor na Ordem Militar portuguesa. Alguns cargos, pela sua natureza, eram obrigatoriamente desempenhados por freires clérigos, nomeadamente o priorado do Convento e a sacristia. Destes, o Prior era a dignidade mais importante, já que era o responsável pela vida espiritual dos freires. Segundo Rades Andrada por concession apostolica usa de Mitra y Baculo Pastoral y de otras insígnias Pontificales (...) y puede dar menores ordenes a los conventuales, y bendezir ornamentos y vasos para el uso y servicio de las dichas Yglesias y reconciliar las si fuerem pollutas o violadas, sendo assim como que um abade mitrado.
O Sacristão, à semelhança do que acontecia nos Cabidos Catedralícios e das Colegiadas, teria a seu cargo a guarda de relíquias e objectos de culto e ornamentos, bem como a Biblioteca do Convento. As referências a este oficial são abundantes, mas o mesmo não podemos dizer quanto ao arquivo e livros da milícia raramente mencionados na documentação medieval da Ordem. Subordinados ao Mestre haveria também alguns outros cavaleiros mas ignoramos quais seriam as suas funções, se é que as tinham. Em Calatrava, são conhecidos um Sub-Craveino, um Encarregado das Obras e Reparações
do Castelo, um Sub-Comendador do Convento, um Alferes e Visitadores, dignidades até agora não surgidas nos documentos portugueses. Contudo, Avis contava ainda com um Tesoureiro e um Celeireiro, cujas funções seriam, pensamos, as que o seu nome indica». In Maria Cristina A. Cunha, Estudos sobre a Ordem de Avis, séculos XII-XV, Faculdade de Letras, Biblioteca Digital, Porto, 2009.

Cortesia da FdeLdoPorto/JDACT