terça-feira, 14 de novembro de 2017

A Verdadeira História. Margaret George. «E foram passando por mais montanhas, com mais fama do que tamanho: o monte Gilboa, à esquerda, onde Saul morrera a lutar contra os filisteus…»

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A Mulher que Amou Jesus
«(…) Chegaram a um lugar onde o terreno era plano, vasto e agradável. Algumas árvores, espalhadas, formavam sombras que pareciam ser frescas; o Sol, agora, estava precisamente sobre as suas cabeças. Havia montanhas isoladas, de ambos os lados da estrada: à direita, o monte Tabor, e à esquerda, o monte Moré. Quando se aproximavam da ladeira do monte Moré, Silvanus surgiu, de repente, ao seu lado e apontou para a montanha. Cuidado com a feiticeira!, gracejou. A feiticeira de Endor! Ela pareceu não compreender e ele explicou-lhe: é a feiticeira que o rei Saul procurou para trazer de volta o espírito de Samuel. Era aqui que ela vivia. E as pessoas dizem que é um lugar assombrado. Se fores até ali, sentares-te debaixo de uma árvore e esperares..., quem sabe não trarás de volta algum espírito? Isso é verdade?, perguntou Maria. Diz-me a sério. Parecia uma coisa terrível, ser-se capaz de invocar espíritos, principalmente os espíritos de pessoas mortas. Não sei se é realmente verdade, confessou Silvanus, sem sorrir. Está nas escrituras, mas..., encolheu os ombros. Também está nas escrituras que Sansão matou mil homens com o osso maxilar de um burro morto. Como é que eu iria saber que era um espírito?, insistiu Maria, deixando de lado a história do osso.
Dizem que se reconhecem os espíritos pelo medo que eles inspiram, disse Silvanus. Mas, falando sério, se alguma vez te encontrares com um espírito, sugiro que corras na direcção oposta. A única coisa que se sabe é que são perigosos. O que eles querem é desencaminhar as pessoas, destruí-las. Acho que foi por isso que Moisés proibiu qualquer contacto com eles. E tornou a ficar céptico. Se é que o fez... Por que é que dizes essas coisas? Não acreditas que seja verdade? Ele hesitou. Bem..., sim, acho que deve ser verdade. E se não for absolutamente verdadeiro que Moisés o tenha dito, ainda assim é uma boa ideia. A maioria das coisas que Moisés disse foram boas ideias. Maria riu-se. Às vezes falas realmente como um grego. Se parecer um grego significa pensar cuidadosamente nas coisas, então eu teria orgulho em ser rotulado como tal. E riu-se também.
E foram passando por mais montanhas, com mais fama do que tamanho: o monte Gilboa, à esquerda, onde Saul morrera a lutar contra os filisteus; e à direita, ao longe, apenas visível no final da extensa planície, erguendo-se como uma torre, o monte Megido, onde seria travada a batalha do Juízo Final. Pouco depois do monte Gilboa, atravessaram a fronteira com a Samaria. A Samaria! Maria agarrou-se com força à garupa do seu burro. Perigo! Perigo! Seria realmente perigoso? Olhou com atenção à sua volta, mas a paisagem era a mesma, os mesmos morros pedregosos, as planícies poeirentas e algumas árvores espalhadas. Tinham dito que havia bandidos e rebeldes que utilizavam as cavernas próximas de Magdala para se esconderem, mas ela nunca os vira perto de casa. Agora, esperava ver alguma coisa, pois já tinham entrado em território inimigo. Não tiveram de esperar muito. Pouco tinham andado quando um grupo de miúdos, à beira da estrada, começou a atirar pedras, injuriando e gritando insultos nas vozes roucas, guturais: cães… Escória da Galileia…» In Margaret George, A Paixão de Maria Madalena, 2002, Saída de Emergência, Edições Fio de Navalha, 2005, ISBN 972-883-911-1.

Cortesia de SdeEmergência/JDACT