A
Mulher que Amou Jesus
«(…)
Chegaram a um lugar onde o terreno era plano, vasto e agradável. Algumas árvores,
espalhadas, formavam sombras que pareciam ser frescas; o Sol, agora, estava
precisamente sobre as suas cabeças. Havia montanhas isoladas, de ambos os lados
da estrada: à direita, o monte Tabor, e à esquerda, o monte Moré. Quando se
aproximavam da ladeira do monte Moré, Silvanus surgiu, de repente, ao seu lado
e apontou para a montanha. Cuidado com a feiticeira!, gracejou. A feiticeira de
Endor! Ela pareceu não compreender e ele explicou-lhe: é a feiticeira que o rei
Saul procurou para trazer de volta o espírito de Samuel. Era aqui que ela vivia.
E as pessoas dizem que é um lugar assombrado. Se fores até ali, sentares-te
debaixo de uma árvore e esperares..., quem sabe não trarás de volta algum espírito?
Isso é verdade?, perguntou Maria. Diz-me a sério. Parecia uma coisa terrível,
ser-se capaz de invocar espíritos, principalmente os espíritos de pessoas
mortas. Não sei se é realmente verdade, confessou Silvanus, sem sorrir. Está
nas escrituras, mas..., encolheu os ombros. Também está nas escrituras que
Sansão matou mil homens com o osso maxilar de um burro morto. Como é que eu
iria saber que era um espírito?, insistiu Maria, deixando de lado a história do
osso.
Dizem que se reconhecem os
espíritos pelo medo que eles inspiram, disse Silvanus. Mas, falando sério, se
alguma vez te encontrares com um espírito, sugiro que corras na direcção
oposta. A única coisa que se sabe é que são perigosos. O que eles querem é
desencaminhar as pessoas, destruí-las. Acho que foi por isso que Moisés proibiu
qualquer contacto com eles. E tornou a ficar céptico. Se é que o fez... Por que
é que dizes essas coisas? Não acreditas que seja verdade? Ele hesitou. Bem...,
sim, acho que deve ser verdade. E se não for absolutamente verdadeiro que
Moisés o tenha dito, ainda assim é uma boa ideia. A maioria das coisas que
Moisés disse foram boas ideias. Maria riu-se. Às vezes falas realmente como um
grego. Se parecer um grego significa pensar cuidadosamente nas coisas, então eu
teria orgulho em ser rotulado como tal. E riu-se também.
E foram passando por mais
montanhas, com mais fama do que tamanho: o monte Gilboa, à esquerda, onde Saul
morrera a lutar contra os filisteus; e à direita, ao longe, apenas visível no
final da extensa planície, erguendo-se como uma torre, o monte Megido, onde
seria travada a batalha do Juízo Final. Pouco depois do monte Gilboa,
atravessaram a fronteira com a Samaria. A Samaria! Maria agarrou-se com força à
garupa do seu burro. Perigo! Perigo! Seria realmente perigoso? Olhou com
atenção à sua volta, mas a paisagem era a mesma, os mesmos morros pedregosos,
as planícies poeirentas e algumas árvores espalhadas. Tinham dito que havia
bandidos e rebeldes que utilizavam as cavernas próximas de Magdala para se
esconderem, mas ela nunca os vira perto de casa. Agora, esperava ver alguma
coisa, pois já tinham entrado em território inimigo. Não tiveram de esperar
muito. Pouco tinham andado quando um grupo de miúdos, à beira da estrada,
começou a atirar pedras, injuriando e gritando insultos nas vozes roucas,
guturais: cães… Escória da Galileia…» In Margaret George, A Paixão de Maria
Madalena, 2002, Saída de Emergência, Edições Fio de Navalha, 2005, ISBN
972-883-911-1.
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