Teresa, a Bastarda
«(…) Consta, ainda, que de uma mulher
de qualidade terá tido o conde Henrique um filho natural. Esse varão ter-se-á
chamado Pedro Afonso e, por ter ficado órfão de pai com nove anos, foi protegido
pelo meio-irmão. Segundo documentos da época, Teresa era astuta, insinuante e formosa.
A sua beleza recebe elogios de todas as fontes, mesmo das que lhe são adversas e
que a descrevem, de forma realista, como bela e maléfica. Unânime apreço merecem,
também, as suas energia, ambição e inteligência, relevando-se a fortíssima
determinação de carácter, que nunca lhe permitiu deixar em mãos alheias a
realização dos seus objectivos. O que mostra, afinal, que a política no feminino,
embora muito esquecida e até menosprezada, marcou bem a nossa História quando esta
permitiu que fosse exercida!
O Condado Portucalense
Ignoram-se as condições em que o governo
do Condado Portucalense foi entregue ao conde Henrique. Admite-se que fosse o dote
de Teresa. Mas, dado que, na altura, o significado desta palavra não
correspondia ao de hoje, a dúvida persiste. No entanto, acredito que essa dádiva
suporia algum tipo de sujeição a conde Raimundo. Todavia, a ter existido, ela foi
de curta duração... De facto, os seus domínios, após a derrota dos sarracenos perto
de Lisboa, foram separados definitivamente da Galiza, para constituírem um território
à parte, regido por Henrique. Admite-se que terá sido a incapacidade militar de
Raimundo um dos motivos que aconselhou a sua substituição, na zona portuguesa,
pelo primo, que era excelente guerreiro e estava em melhores condições de enfrentar
a iminência de uma invasão almorávida.
Portugal, naquele tempo, era uma
faixa de território estreita e pouco extensa, infestada de mouros por todos os lados,
que tão depressa eram vencidos como eram vencedores. Foi a partir da governação
do conde Henrique que o Condado começou a respirar mais livremente, pese embora
a guerra fosse o estado normal da sua existência. Ao casá-lo com Teresa, Afonso
VI não lhe entrega apenas o governo da província portucalense, mas também as propriedades
regalengas, património do rei e da Coroa, que passam, assim, a constituir bens próprios
e hereditários dos dois consortes. Claro que o conde ficava ligado a Afonso VI,
seu suserano, pelos habituais actos de vassalagem, como a fidelidade e a ajuda
sempre que necessárias, o que, aliás, nunca deixou de cumprir até à morte do sogro.
Contudo, meio século irá bastar para que o Condado Portucalense, conduzido com inegável
pendor autónomo pelos condes Henrique e dona Teresa, se venha a transformar num
Reino independente.
A Vida de Casada
Ignora-se, como já referi, que idade
teria Teresa à época do casamento. Os modernos historiadores têm-na por ainda menor,
o que será verdadeiro, caso tenha nascido em 1081, como me parece mais
admissível. Dos quatro filhos do casal, o varão, Afonso Henriques, tornar-se-á o
primeiro rei de Portugal. Durante muito tempo, julgou-se que o nascimento deste
último se teria dado em Guimarães, mas, nos nossos dias, já se admitem Coimbra e
Viseu como alternativas possíveis. Sobre a data, aceita-se, agora, a de 25 de Julho
de 1109». In Helena S. Cabral, As Nove Magníficas, 2008, Clube do Autor, 2017,
ISBN 978-989-724-330-1.
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