quarta-feira, 15 de novembro de 2017

As Nove Magníficas. Helena S. Cabral. «… se teria dado em Guimarães, mas, nos nossos dias, já se admitem Coimbra e Viseu como alternativas possíveis. Sobre a data, aceita-se, agora, a de 25 de Julho de 1109»

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Teresa, a Bastarda
«(…) Consta, ainda, que de uma mulher de qualidade terá tido o conde Henrique um filho natural. Esse varão ter-se-á chamado Pedro Afonso e, por ter ficado órfão de pai com nove anos, foi protegido pelo meio-irmão. Segundo documentos da época, Teresa era astuta, insinuante e formosa. A sua beleza recebe elogios de todas as fontes, mesmo das que lhe são adversas e que a descrevem, de forma realista, como bela e maléfica. Unânime apreço merecem, também, as suas energia, ambição e inteligência, relevando-se a fortíssima determinação de carácter, que nunca lhe permitiu deixar em mãos alheias a realização dos seus objectivos. O que mostra, afinal, que a política no feminino, embora muito esquecida e até menosprezada, marcou bem a nossa História quando esta permitiu que fosse exercida!

O Condado Portucalense
Ignoram-se as condições em que o governo do Condado Portucalense foi entregue ao conde Henrique. Admite-se que fosse o dote de Teresa. Mas, dado que, na altura, o significado desta palavra não correspondia ao de hoje, a dúvida persiste. No entanto, acredito que essa dádiva suporia algum tipo de sujeição a conde Raimundo. Todavia, a ter existido, ela foi de curta duração... De facto, os seus domínios, após a derrota dos sarracenos perto de Lisboa, foram separados definitivamente da Galiza, para constituírem um território à parte, regido por Henrique. Admite-se que terá sido a incapacidade militar de Raimundo um dos motivos que aconselhou a sua substituição, na zona portuguesa, pelo primo, que era excelente guerreiro e estava em melhores condições de enfrentar a iminência de uma invasão almorávida.
Portugal, naquele tempo, era uma faixa de território estreita e pouco extensa, infestada de mouros por todos os lados, que tão depressa eram vencidos como eram vencedores. Foi a partir da governação do conde Henrique que o Condado começou a respirar mais livremente, pese embora a guerra fosse o estado normal da sua existência. Ao casá-lo com Teresa, Afonso VI não lhe entrega apenas o governo da província portucalense, mas também as propriedades regalengas, património do rei e da Coroa, que passam, assim, a constituir bens próprios e hereditários dos dois consortes. Claro que o conde ficava ligado a Afonso VI, seu suserano, pelos habituais actos de vassalagem, como a fidelidade e a ajuda sempre que necessárias, o que, aliás, nunca deixou de cumprir até à morte do sogro. Contudo, meio século irá bastar para que o Condado Portucalense, conduzido com inegável pendor autónomo pelos condes Henrique e dona Teresa, se venha a transformar num Reino independente.

A Vida de Casada
Ignora-se, como já referi, que idade teria Teresa à época do casamento. Os modernos historiadores têm-na por ainda menor, o que será verdadeiro, caso tenha nascido em 1081, como me parece mais admissível. Dos quatro filhos do casal, o varão, Afonso Henriques, tornar-se-á o primeiro rei de Portugal. Durante muito tempo, julgou-se que o nascimento deste último se teria dado em Guimarães, mas, nos nossos dias, já se admitem Coimbra e Viseu como alternativas possíveis. Sobre a data, aceita-se, agora, a de 25 de Julho de 1109». In Helena S. Cabral, As Nove Magníficas, 2008, Clube do Autor, 2017, ISBN 978-989-724-330-1.

Cortesia de CdoAutor/JDACT