Pitágoras
«(…) Embora, hoje em dia, Pitágoras
(581-497 a. C.) seja conhecido, sobretudo, pelo seu trabalho matemático, ele foi
um dos mais destacados filósofos religiosos dos séculos anteriores a Cristo, detendo
a sua influência sobre a religião esotérica e as sociedades secretas uma importância
de monta. A Encyclopaedia of Dates and Events diz sobre ele, de forma lapidar, que
foi um grande filósofo e matemático, mas a abordagem científica foi prejudicada
pelo misticismo. Isto é o mesmo que dizer que William Blake foi um grande poeta
e artista, cujo trabalho foi estragado pelo seu misticismo. Diz-se que Pitágoras
terá vagueado durante muitos anos pelo Egipto e pela Mesopotâmia, chegando
talvez à Índia, e terá estudado religião, filosofia e ciência numa tentativa de
encontrar uma teoria do campo unificado que abrangesse todo o conhecimento. (Vários
fundadores de movimentos esotéricos recentes, entre eles Blavatsky e Gurdjieff,
seguiram o seu exemplo, quer na realidade, quer com um mito da sua própria criação).
Por volta de 530 a. C., Pitágoras instalou-se na comunidade grega de Crotona, no
Sul de Itália, e fundou uma academia com critérios de acesso muito rígidos. A matemática,
a música e a astronomia faziam parte dos ensinamentos, não enquanto disciplinas
individuais, mas sim como parte do sistema pitagórico de crenças, ao qual a famosa
citação de Forster, apenas ligar! se adequaria na perfeição. A matemática e a geometria,
as propriedades ocultas dos números e a relação entre eles, estavam por trás do
mundo e dos céus lá em cima. Julga-se que Pitágoras terá formulado a ideia da
oitava musical e explicado a base matemática dos intervalos e das harmonias
musicais. Todo o Universo está em vibração, a cantar, a produzir a música das
esferas. Diz-se que terá calculado a Proporção Áurea, o rácio matemático por trás
de grande parte do significado esotérico da arquitectura (ligando-se assim ao simbolismo
da Maçonaria).
Ensinou sobre a reencarnação,
crença base da Tradição do Mistério Ocidental. Ensinou sobre a relação entre o homem
e o cosmo, o microcosmo e o macrocosmo; isto está naturalmente ligado à astrologia,
que na altura, e durante vários séculos depois disso, era o mesmo que astronomia.
Os seus ensinamentos sobre o significado esotérico dos números continuam a estar
por trás da numerologia moderna. À semelhança de muitos fundadores de sociedades
ocultas, Pitágoras assumia características semidivinas para os seguidores: era referido
como a deidade harmónica, a meio caminho entre os Deuses e os homens.
Insistia num modo de vida asceta, com muitas proibições para os seguidores: tinham
de seguir uma dieta vegetariana, por exemplo, mas não podiam comer feijões. A pureza
de corpo e de comportamento, a par da completa dedicação mental, eram essenciais.
Eram precisos três anos para passar a primeira fase de iniciação e cinco para a
segunda; um seguidor pitagórico necessitava de grande empenho. As ideias de Pitágoras
influenciaram profundamente Platão (429-347 a. C.), um dos mais influentes
filósofos gregos. Pode dizer-se que sem Pitágoras não haveria Platão, e sem este
não haveria Neoplatonismo (onde se incluía o Neopitagorismo), de suma importância
para o pensamento esotérico do início da era cristã e durante o Renascimento. Já
foi sugerido que Pitágoras terá, a dada altura, sido ensinado pelos druidas do Noroeste
da Europa, ou que ele e os seus seguidores os ensinaram.
Neoplatonismo
Neoplatonismo é um termo moderno
para a última encarnação dos filósofos gregos nos primeiros cinco ou seis séculos
da era cristã; encerrava em si ensinamentos de várias fontes e influenciou bastante
o Cristianismo exotérico e esotérico. Muitos dos Pais da Igreja conheciam o pensamento
neoplatónico, era impossível que homens formados, como S. Paulo, não conhecessem
a filosofia grega nesses primeiros séculos, e algumas das batalhas teológicas
que terminaram na criação do dogma cristão basearam-se nos desacordos entre os defensores
e os críticos das ideias neoplatónicas. Todavia, mais importante para as nossas
necessidades é a influência que o neoplatonismo teve sobre o lado esotérico do
Cristianismo e de outras religiões maiores e, logo, sobre as sociedades secretas».
In
David V Barrett, As Grandes Sociedades Secretas, 1997, 2007, Clube do Autor,
2016, ISBN 978-989-724-333-2.
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