segunda-feira, 13 de novembro de 2017

As Grandes Sociedades Secretas. David V Barrett. «Os dois mais importantes legados, a longo prazo, do Neoplatonismo para a religião esotérica e as sociedades secretas foram a ênfase do experiencial»

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«(…) As ideias neoplatónicas alteraram-se e desenvolveram-se ao longo dos séculos, à medida que os diferentes líderes aprimoravam ou rejeitavam os ensinamentos dos antecessores. Tal como acontece com o Gnosticismo, não existe um conjunto fixo de crenças neoplatónicas. Assim, Plotino (204/5-270), que se opunha à magia, defendia a virtude, a castidade e a contemplação mística de Deus. O seu aluno e sucessor, Porfírio (c.232/4-c.305), que organizou os trabalhos de Plotino, procurava modos éticos práticos (boas acções) para que a alma chegasse a níveis mais elevados. O seu aluno Jâmblico (c.250-c. 330), que, à semelhança de Porfírio, escreveu uma Vida de Pitágoras, acentuou muito mais o lado experiencial da filosofia mística: usando o ritual religioso e ritos mágicos para a teurgia, invocar o poder de Deus ou dos seres espirituais. Esta ênfase levaria a um conflito entre o Neoplatonismo e o Cristianismo emergente, além de dar aos imperadores romanos motivo para impedir, de tempos a tempos, as práticas religiosas não cristãs.
Os dois mais importantes legados, a longo prazo, do Neoplatonismo para a religião esotérica e as sociedades secretas foram a ênfase do experiencial (ou seja, o real poder do ritual) e o ensinamento quanto às hierarquias dos seres espirituais que, resumidamente, trouxe uma solução para a dicotomia entre politeísmo e monoteísmo. Acima de tudo havia um Deus infinito, universal e incompreensível; a filosofia (do grego, amor pela sabedoria) era o grande meio de aproximação a esse Deus, sendo as religiões tentativas menores de abordar deuses menores, na prática servos, ou daemons, Deus Único). O termo demónio é a forma incorreta de daemons, que incluía seres bons e maus, bem como Deuses menores e os espíritos dos mortos. O seu uso pejorativo para referir, especificamente, espíritos malignos é uma alteração cristã posterior do seu significado. Na teologia cristã, o termo poderia ser substituído por autoridades e poderes, criados pelo Deus Único e que podem ser bons ou maus. Os anjos enquadram-se nessa mesma categoria. A distinção entre demónios e daemons é importante. Alguns neoplatónicos ensinavam a teurgia, que pode ser chamada de convocação de espíritos,  mas é, mais correctamente, a invocação de daemons bons. Na magia ritual tardia dos filósofos herméticos e dos alquimistas, e na Ordem Hermética da Aurora Dourada de finais do século XIX e início do século XX (banalizada e erroneamente representada como magia negra, a ideia não era, habitualmente, invocar o diabo e a hoste infernal, algo muito raro e reconhecido como sendo extremamente perigoso, mas sim os daemons, os deuses menores, os anjos, as autoridades e poderes, e os espíritos poderosos de quem fora espiritualmente poderoso em vida». In David V Barrett, As Grandes Sociedades Secretas, 1997, 2007, Clube do Autor, 2016, ISBN 978-989-724-333-2.

Cortesia de CdoAutor/JDACT