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A Carreira na historiografia moderna
«(…) Saturnino Monteiro teve a sensatez
de avisar logo a abrir que o seu trabalho não pretende ter um rigor científico inabalável,
devendo ser considerado mais como uma obra de divulgação. Neste sentido, obtém não
só uma obra plenamente conseguida como supera largamente esse sentido de divulgação
e constitui-se como um reportório muito interessante e importante de informações
muitas delas só acessíveis a alguém que, como o autor, estudou alguns dos meandros
da história juntando-os aos seus conhecimentos enquanto marinheiro e militar. Um
último lamento prende-se com a não divulgação de todo o material estatístico
ligado a este tipo de trabalhos. Já na década de 1960 Frédéric Mauro defendia a
necessidade e utilidade da criação de uma base de dados sobre os navios
portugueses. Chegados ao século XXI não só não temos nada de semelhante (e todos
pareciam já então não contar com o trabalho de Quirino Fonseca, Os portugueses
no mar) como se vai eternizando a promessa da criação de algo de semelhante,
mesmo que seja só para os navios da Carreira da Índia. Embora com objectivos
diferentes, Botelho Sousa seguiu também um piano bastante bem conseguido para uma
obra que, parece-nos, tem vindo a ser pouco valorizada. Apesar de poder ser datada
politicamente isso não impede o autor de reunir urna série de informações muito
interessantes sobre a Carreira e, principalmente sobre o tema central do nosso trabalho
que é a torna-viagem. Botelho Sousa revela um profundo conhecimento dos Livros
das monções, nos quais recolheu boa parte da informação mais interessante e
reveladora do seu trabalho. Igualmente datável do ponto de vista político, mas
mesmo assim muito interessante para a Carreira da Índia, é a obra de Alberto
Iria em que o autor recorre à imensa documentação existente no Arquivo
Histórico Ultramarino para nos fornecer alguns quadros importantes.
Estamos, no entanto, ainda longe de
algo semelhante àquilo que os holandeses fizeram no que respeita à sua navegação
para o Oriente, embora as condições de trabalho e as fontes de pesquisa sejam,
neste caso, bastante mais acessíveis e de fácil utilização. Noutras áreas surgiram
importantes estudos para a Carreira (para além dos já bem conhecidos para as escalas,
vida a bordo, etc.) como o de Frédéric Mauro, fundamental para a análise do Atlântico
não só para a Carreira da Índia mas também para os outros destinos da navegação
portuguesa. Com um impacto directo igualmente importante em termos de Atlântico
temos o estudo de José Roberto Amaral Lapa, que, apesar de sair um pouco fora do
contexto tratado do nosso trabalho, é de inegável valor para a compreensão de uma
escala como a Baía. Vários outros assuntos mereciam destaque mas iremos referir
apenas mais três autores que nos parecem fundamentais para um trabalho como este
sobre a torna-viagem. Em primeiro lugar, citamos os estudos de Joaquim Rebelo Vaz
Monteiro sobre as rotas da carreira e a forma clara e precisa como apresenta os
seus resultados. Em segundo lugar, e com um âmbito cronológico muito preciso,
surge o trabalho de A. Disney sobre a companhia portuguesa de comércio e todo
um período conturbado e de viragem para a própria Carreira. Por fim, e alargando
de novo o espaço temporal, surge o trabalho de James Boyajian que incorpora novos
elementos de análise económica, misturando-os com a realidade naval da carreira
para atingir uma súmula de informações significativa para a compreensão dos seus
mecanismos». In Rui Landeiro Godinho, Aspectos e Problemas da Torna-Viagem
(1550-1649), Fundação Oriente, Orientalia, 2005, ISBN 972-785-058-8.
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