Isabel. Maio de 1588
«(…) O grupo agora estava maior.
Não era composto apenas do trio interno: Burghley, Leicester e Walsingham. Tínhamos
também sir Francis
Knollys; Henry Carey, o lorde Hunsdon; e John Whitgift, o arcebispo de Cantuária;
bem como Charles Howard, o novo lorde almirante. Seja bem-vindo, disse a Drake.
O que acha da nossa situação? Ele olhou ao redor. Era um homem atarracado,
parecia um barril. Conveniente para alguém que destruiu as aduelas dos barris
da Armada no ano passado. A cabeleira loira ainda era espessa, e, embora o
rosto apresentasse marcas de expressão, parecia jovem. Estava avaliando uma possível
oposição no Conselho antes de falar. Finalmente disse: Sabíamos que isso ia
acontecer, mais cedo ou mais tarde. E é chegada a hora. Não havia como
contradizê-lo. E a sua recomendação, qual é?, perguntei. A senhora sabe a minha
recomendação, amável rainha. É sempre melhor atacar o inimigo e desarmá-lo
antes que ele alcance a nossa costa. Uma acção ofensiva é mais fácil de ser
controlada do que uma acção defensiva. Portanto, proponho que nossa frota zarpe
das águas inglesas, navegando até interceptar a Armada antes que ela chegue
aqui. Toda a frota?, perguntou Charles Howard. Isso nos deixaria desprotegidos.
Se a Armada conseguir escapar, entrará aqui sem resistência alguma, afirmou,
arqueando as sobrancelhas para expressar a sua preocupação.
Charles era um homem calmo,
diplomático, que conseguia lidar com personalidades difíceis, o que fazia dele
um alto comandante ideal. Mas Drake era difícil de ser controlado e acalmado. Nós
os encontraremos, disse. E, quando encontrarmos, não poderemos ter poucos
navios. Robert Dudley, conde de Leicester naquele ambiente formal, irritou-se com
a afirmação e disse: preocupa-me mandar todos os navios de uma só vez. Parece
uma velhota falando!, bradou Drake. Então somos duas velhotas, disse Knollys.
Ele era reconhecidamente cauteloso e tinha muitos escrúpulos. Se fosse um monge,
usaria uma camisa de silício com frequência para se punir a si mesmo. A sua militância
pelo protestantismo foi um bom substituto. Somos três, disse Burghley,
unindo-se aos demais. William Cecil sempre defendeu uma estratégia defensiva,
tentando manter tudo dentro das fronteiras inglesas. Tudo depende de recebermos
informações precisas sobre quando a Armada sairá de Lisboa, disse o secretário
Walsingham. Caso contrário, será um risco inútil e perigoso. Achei que essa
fosse a sua função, disse Drake. Walsingham ficou mais tenso e disse: faço o
melhor que posso com o que está ao meu dispor. Mas não há meios para transmissão
instantânea de notícias. Os navios são mais rápidos do que os meus mensageiros.
Ah, posso ver portos distantes, disse Drake com uma risada. Não sabia disso?
Sei que os espanhóis creditam a El Draque, o dragão, esse feito, disse
Walsingham. Mas eles são ingénuos e simplórios em geral. Concordo!, respondi. Chega
dessa conversa. Quais são as outras opções de defesa? Proponho dividirmos a
frota em duas: esquadrão oeste para vigiar a entrada do Canal e esquadrão leste
para vigiar o estreito de Dover, explicou Charles Howard. Sei qual é o plano do
inimigo, disse Drake, interrompendo Charles. A Armada não está vindo para
lutar. O exército de Parma de Flandres fará isso, a Armada os escoltará pelo
Canal. Vão vigiar os barcos cheios de soldados afim de encurtar a travessia. São
somente trinta e poucos quilómetros. O exército inteiro poderia fazer a
travessia entre oito e doze horas. Esse
é o plano deles!
Drake bradou, olhando em redor
com os olhos claros penetrando nas dúvidas dos conselheiros, e continuou a
argumentar: devemos desarmar a frota. Devemos impedi-los de aportar na Costa de
Flandres. Os nossos aliados holandeses nos ajudarão. Eles já vêm impedindo
Parma de conseguir um porto para ancorar há anos e podem atrapalhar quando
tentarem usar os canais menores. A imensa frota da Armada, destinada a
assegurar uma travessia segura, pode ser também a sua ruína. Ele fez uma pausa
e continuou a dizer: claro que um plano alternativo seria conquistar a Ilha de
Wight do nosso lado do Canal e construir uma base lá. Mas, se passarem por ela,
só avistarão um porto novamente quando chegarem a Calais. O nosso papel é apressá-los.
Isto é, obviamente, supondo que consigam chegar lá. Agora, se seguirmos o meu
plano original para interceptá-los...» In Margaret George, Isabel I, O Anoitecer de
um Reinado, tradução de Lara Freitas, Geração Editorial, 2012, ISBN
978-858-130-076-4.
Cortesia de GeraçãoE/JDACT