«(…) O
labirinto das catedrais, ou labirinto de Salomão, é, diz-nos Marcellin
Berthelot, uma figura cabalística que
se encontra no começo de certos manuscritos alquímicos e que faz parte das
tradições mágicas atribuídas ao nome de Salomão. É uma série de círculos concêntricos
interrompidos em certos pontos, de maneira a formarem um trajeto bizarro e inextricável.
A imagem do labirinto oferece-se-nos, então, como emblemática do trabalho
completo da Obra, com as suas duas dificuldades maiores: a da via que
convém seguir para atingir o centro, onde se trava o rude combate das duas
naturezas, e a outra, a do caminho que o artista deve seguir para sair. É aqui
que o fio de Ariana se
lhe torna necessário, se não quer errar entre os meandros da obra sem chegar a
descobrir a saída. A nossa intenção não é de escrever, como fez Batsdorff, um
tratado especial para ensinar o que é o fio de Ariana que permitiu a Teseu cumprir o seu
desígnio. Mas, apoiando-nos na cabala, esperamos fornecer aos investigadores
sagazes algumas precisões acerca do valor simbólico do famoso mito.
Ariana
é uma forma de airagne
(em francês, araignée:
aranha) por metátese do i. Em espanhol, ñ pronuncia-se nh (araignée, airagne, aranha) pode
então ler-se arahnê, arahni, aranhe.
Não é a nossa alma a aranha que tece o nosso próprio corpo? Mas esta palavra
apela ainda para outras formações. O íman,
a virtude encerrada no corpo que os Sábios chamam a sua magnésia. Prossigamos.
Em provençal, o ferro é chamado aran
e iran, segundo os
diferentes dialectos. É o Hiram maçónico,
o divino Carneiro, o arquitecto do Templo de Salomão.
A aranha, entre os félibres, diz-se aranho
e iranho,
airanho; em picardo, arègni.
Ariana, a aranha mística,
desaparecida de Amiens, apenas deixou no pavimento do coro o traçado da sua
teia... Lembremos, de passagem, que o mais célebre dos labirintos antigos, o de
Cnossos, em Creta, que foi descoberto em 1902 por Evans, de Oxford, era chamado
Absolum. Ora, deve notar-se que
este termo é vizinho de Absoluto,
que é o nome pelo qual os alquimistas antigos designavam a pedra filosofal.
Todas as igrejas têm
a sua ábside virada para sueste e a sua fachada para noroeste, enquanto os
transeptos, formando os braços da cruz, estão orientados do nordeste para o sudoeste.
Trata-se de uma orientação invariável, de tal maneira que fiéis e profanos,
entrando no templo pelo Ocidente, caminhem em direcção ao santuário, a face
voltada para o lado onde o sol se ergue, na direcção do Oriente, a Palestina,
berço do Cristianismo. Saem das trevas e dirigem-se para a luz. Por causa desta
disposição, uma das três rosáceas que ornamentam os transeptos e o grande
portal nunca é iluminada pelo sol; é a rosácea setentrional, que se abre na
fachada do transepto esquerdo. A segunda incendeia-se com o sol do meio-dia; é
a rosácea meridional, aberta na extremidade do transepto direito. A última
ilumina-se com os raios coloridos do sol-pôr; é a grande rosácea, a do portal,
que ultrapassa em superfície e em brilho as suas irmãs laterais. Assim se
desenvolvem no frontão das catedrais góticas as cores da Obra, segundo um
processo circular que vai das trevas, figuradas pela ausência de luz e pela cor
negra, à perfeição da luz rubra, passando pela cor branca, considerada como intermédia entre o negro e o vermelho.
Na Idade Média, a
rosácea central dos portais chamava-se Rota, a roda. Ora a roda é o hieróglifo
alquímico do tempo necessário à cocção da matéria filosofal e, por consequência,
da própria cocção. O fogo constante e igual que o artista mantém dia e noite
durante essa operação é chamado, por essa razão, fogo de roda. No entanto, além
do calor necessário à liquefação da pedra dos filósofos, é necessário ainda um
segundo agente, dito fogo secreto ou filosófico. É este último fogo, excitado
pelo calor vulgar, que faz girar a roda e provoca os diversos fenómenos que o
artista observa no seu vaso:
De ir por este caminho, e não por outro, eu te autorizo;
Nota apenas os traços da minha roda,
E para dar por toda a parte calor igual.
Demasiado perto de terra e céu não subas nem baixes.
Porque, subindo demasiado, o céu queimarás.
E, descendo muito baixo, a terra destruirás.
Mas se pelo meio o teu caminho ficar,
A viagem é mais unida e a via mais segura».
In
Fulcanelli, 1926, Le Mystère des Cathédrales, 1964, O Mistério das Catedrais,
Interpretação Esotérica dos símbolos herméticos, Edições 70, colecção Esfinge,
1975.
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