Isabel. Maio de 1588
«(…) Chegamos ao jardim das
rosas, onde os canteiros eram feitos de acordo com a cor e a variedade. Havia
madressilvas-dos-bosques, com pétalas cor-de-rosa abertas como molduras;
pequenas rosas marfim almiscaradas, protegidas por seus arbustos espinhosos;
vigorosos arbustos com rosas damasco com muitas pétalas vermelhas e brancas, e
rosas da província; canteiros de rosas amarelas e vermelhas, exalando canela.
Os aromas misturados estavam particularmente doces naquela tarde. Enganei-me ao
chamá-la de lírio, ele explicou Vejo agora que as rosas reflectem melhor a sua
verdadeira natureza. Há tantos tipos diferentes, assim como a senhora tem
tantas facetas. Mas o meu lema pessoal é Semper eadem, Sempre a mesma, nunca mudar. Eu tinha
escolhido tal lema por considerar que a imprevisibilidade num soberano era um
grande fardo para os súbditos. Não seria assim que os seus conselheiros a
descreveriam, ele disse. Nem os seus pretendentes. Ele desviou o olhar e
acrescentou: eu deveria saber disso, já que vivi as duas situações. Ainda bem
que não pude ver o rosto dele para interpretar o que quis dizer com aquele, mas
acabei explicando. Apenas brinco de ser imprevisível, por dentro sou firme como
uma rocha. Sou sempre leal e estou sempre presente. Mas um pouco de encenação dá
um tempero à vida e mantém os meus inimigos em alerta. E os amigos também,
Majestade, disse. Até mesmo sendo os seus olhos há muito tempo, às vezes não
sei se devo acreditar no que vejo. Pode sempre perguntar-me, Robert. Sempre lhe
responderei. Prometo-lhe.
Robert Dudley: a única pessoa
para a qual poderia revelar a minha alma, com quem conseguia ser a pessoa mais
honesta possível. Há muito tempo, amei-o desesperadamente, do jeito que uma
mulher só consegue amar apenas uma vez na vida. O tempo mudou esse amor,
transformando-o numa coisa mais resistente, espessa, forte e silenciosa, assim
como dizem que acontece com casamentos muito longos. Os russos dizem: o
martelo estilhaça vidro, mas forja o aço. Certa vez, disse a um embaixador
que se eu me casasse algum dia seria como rainha e não como Elizabeth. Se algum
dia eu fosse convencida de que um casamento era uma necessidade política, então
levaria a situação adiante, apesar da minha relutância pessoal. Mas, em minha
coroação, prometi aceitar a própria Inglaterra como o meu esposo. Permanecendo virgem,
não me doando a ninguém a não ser ao meu povo, era o sacrifício visível que ele
teria como prémio e honra e nos manteria unidos. E foi isso que aconteceu.
E, apesar de poupá-los dos
horrores do enlace estrangeiro e do fantasma da dominação, deixei-os com a
mesma coisa que fez meu pai virar o reino de cabeça para baixo para evitar que
acontecesse: nenhum herdeiro para me suceder. Não posso dizer que isso não me
preocupa. Mas tenho outras decisões mais importantes a tomar, de igual ou maior
urgência para a sobrevivência do meu país. Francis Drake levou a maior parte da
semana para atravessar os mais de 300 quilómetros que separavam Plymouth de
Londres. Mas agora ele estava diante de todo o Conselho Privado, e eu, na sala
de reunião no Whitehall. Não quis descansar, e sim vir directamente a nós. Vê-lo
sempre fazia com que me sentisse mais segura. Ele tinha tal optimismo que
conseguia convencer qualquer um a ouvir os seus planos e mostrar que todos eram
realizáveis e sensatos». In Margaret George, Isabel I, O Anoitecer de
um Reinado, tradução de Lara Freitas, Geração Editorial, 2012, ISBN
978-858-130-076-4.
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