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A
Mulher que Amou Jesus
«(…) Olá, disse Lia. Não é
de Nazaré. Seria uma pergunta? Um desafio? Não, disse Maria. Eu, e
minha amiga e minhas primas, aqui, somos de Magdala. Como Lia parecia não ter
compreendido, Maria continuou: fica no mar da Galileia. O mar de Quinerete. Ah,
já sei, disse Lia, contente. Parece um espelho de manhã cedo e ao pôr-do-sol.
Tem sorte de morar lá. Deveria visitar-nos e eu lhe mostraria tudo. Talvez eu
vá, disse, fazendo um gesto com o braço. Acho que já conheceu todos nós,
menos o bebé, disse Lia. Olha ele ali. E apontou para um burrico de cor
escura, com um pirralho sobre a sela, que era segurada com força por outro
primo, que caminhava ao lado. É o Simão. Caminhavam, conversando, e nem Maria,
nem Quezia, nem as suas primas repararam que o sol sumia do céu. Era gostoso
viajar com esta família de Nazaré. Todos eles, ou, pelo menos, Maria, Jesus e
Lia, pareciam prestar atenção a tudo que ela dizia e, de certa forma, o achavam
importante. Maria percebia que Tiago também escutava, mas ele falava pouco. As
perguntas que lhe faziam, por alguma razão misteriosa, eram as que ela queria
responder, e não aquelas perguntas maçantes que todo o mundo fazia e faziam que
as respostas fossem igualmente vazias.
De repente, o grupo inteiro
diminuiu o ritmo da marcha. Está aproximando-se o Sabá, disse a Maria mais
velha. O Sabá! Maria e as outras olharam entre si. Tinham esquecido por completo!
E agora, a caravana teria que parar ali, bem no meio da Samaria, em respeito ao
Sabá! Seria melhor voltarem para o seu grupo. Fique connosco, disse a
Maria mais velha. Sim, passe a noite do Sabá connosco. Temos bastante espaço.
Era Jesus que falava. Maria olhou para ele, tentando ver se falava com
sinceridade ou se estava apenas sendo delicado. Por favor. E ele tinha
um sorriso de boas-vindas. E será que a sua família não ficaria aborrecida? Ou
preocupada? As pessoas visitam-se umas às outras a toda a hora, dizia
Maria, a mais velha. É uma boa forma de celebrar o Sabá. Mas Jesus poderia ir avisar
a sua família sobre onde está, para que não se preocupem. E as nossas famílias
também?, perguntaram, excitadas, as primas e Quezia. Claro que sim. Muito
obrigada, disse Maria, mordendo o lábio para não demonstrar a sua
excitação com a perspectiva de passar o Sabá com aquelas pessoas estranhas, que
eram tão misteriosas quanto reconfortantes.
Começaram a procurar um lugar
adequado para acampar, mas com o pouco tempo que tinham antes que começasse o
Sabá, não podiam ser muito exigentes. Rapidamente, escolheram um lugar que era
plano e onde havia algumas árvores, que ofereciam protecção e onde se podiam
amarrar os animais. As outras famílias de Nazaré também se acomodavam em volta deles,
e em pouco tempo havia surgido uma cidadezinha de barracas. Rápido, agora, disse
a Maria mais velha aos seus filhos. Vamos fazer a fogueira! Judas e
Tiago começaram a apanhar gravetos, empilhando-os em frente à barraca e depois
pondo fogo. Meninas, ajudem-me a preparar a comida para pôr na panela. Abriu um
saco, de onde tirou panelas e conchas para servir e apontou para outro. O
feijão, ali. Será que dá tempo de assar pão? E olhou na direcção do sol,
avaliando a luz.
Entretanto, José estava cuidando
dos jumentos, aliviando-os, dos arreios e das selas, e levava-os ao poço para
beber água. Dentro da barraca maior, Maria, as primas e Quezia ocupavam-se
preparando as cobertas onde as pessoas iriam dormir. As luzes!, disse a
Maria mais velha, acenando para Rute. Por favor, filha, prepare as luzes do
Sabá. Rute começou a procurá-las numa das trouxas e, por fim, achou duas
lamparinas. Com destreza, encheu-as de azeite de oliva quase até o pavio e
deixou-as prontas. Um pequeno fogareiro de barro foi colocado sobre as achas da
fogueira e a panela com o feijão foi posta no fogo; a massa do pão, preparada
às pressas, foi coberta e colocada para crescer. Havia um clima de expectativa,
pela pressa e pelo que restava por fazer. Preparou-se mais comida, pois deveria
haver o suficiente até ao pôr-do-sol do dia seguinte, e assim que ficou pronta,
foi retirada do fogo, dando lugar a outra fornada». In Margaret George, A Paixão de
Maria Madalena, 2002, Saída de Emergência, Edições Fio de Navalha, 2005, ISBN
972-883-911-1.
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