domingo, 17 de junho de 2018

A Mensagem dos Construtores de Catedrais. Christian Jacq. «O demiurgo bíblico desempenha assim a mesma função que o deus egípcio Thot que separa as línguas de país em país»

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Do Tempo das Pirâmides ao Tempo das Catedrais. Viagens ou Comunhão de Espírito?
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O Egipto e a Bíblia
A Bíblia foi um livro de referência para os imagineiros da Idade Média. A Bíblia no seu sentido mais alargado, uma vez que os livros ditos apócrifos, fundamentalmente por razões de propaganda dogmática, foram também largamente utilizados como livros canónicos. O sábio alemão Siegfried Morenz, que se debruçou sobre o problema das relações entre a Bíblia e o Egipto, considerava que a contribuição egípcia para o livro sagrado dos cristãos era bastante considerável. Quando os escultores faziam nascer na pedra os temas bíblicos, prolongavam desse modo o pensamento egípcio sob a forma que lhes era própria. Em certos casos, as passagens da Bíblia, nomeadamente no domínio dos Hinos, dos Salmos ou dos tratados relativos à Sabedoria, são adaptações, ou melhor, traduções de originais egípcios. Pensemos, por exemplo, na adaptação bíblica do grande hino do faraó Akhenaton, na glória do poder divino que anima todos os seres criados. Para interpretar a Bíblia à luz do Egipto, seriam necessários, sem dúvida, vários volumes.

O Coração dócil de Salomão
O princípio de realeza hebraico não pode ser entendido sem referência à realeza egípcia. O orientalista Frankfort demonstrou claramente que o abandono do princípio real pelos hebreus isolou-os da grande corrente tradicional. Quando reza, o grande Salomão faz um pedido particular ao Senhor: ter um coração dócil. Expressão de cariz muito egípcio. Na simbólica faraónica, o coração é, o símbolo da consciência. Nos hieróglifos, a palavra coração á representada por um vaso. É entendido como o receptáculo interior do homem, o lugar, onde acolhe as directivas divinas. O coração dócil de Salomão não é mais que a inteligência do coração, a intuição das causas de que o rei das tradições antigas se serve para fazer do seu reino uma terra celeste. Somos também levados a pensar num dos aspectos da simbólica do Graal, por vezes considerado como um cálice tão precioso que contém os segredos do universo; e igualmente evocamos o sagrado coração, de Cristo onde os fiéis encontram refúgio.

A Sombra do Senhor
É no Rei-Deus, concebido não como um indivíduo mas como uma entidade simbólica à medida do cosmos, que os indivíduos encontram equilíbrio e segurança, As Lamentações mostram que as nações vivem na sombra do senhor, que é o sopro das narinas, ou seja, o princípio vital que anima os seres. Ora o faraó Ramsés II era evocado nesses termos: tu que és o sopro das nossas narinas, falcão que protege os seus súbditos com as asas e sobre eles derrama a sombra. A sombra pode, por conseguinte, ter um valor positivo. Não é o peregrino, no interior da catedral, protegido pela sombra das abóbadas para que o sol nele renasça?

A Torre de Babel
Jeová, inquieto pelos conhecimentos ostentados pela comunidade dos construtores, estabelece a confusão das línguas para impedir que os Irmãos se compreendam e levem a bom termo a construção da torre de Babel. O demiurgo bíblico desempenha assim a mesma função que o deus egípcio Thot que separa as línguas de país em país». In Christian Jacq, Le Message des Constructeurs de Cathédrales, Éditions du Rocher, 1980, A Mensagens dos Construtores de Catedrais, Instituto Piaget, Romance e Memória, Lisboa, 1999, ISBN 972-771-129-4.

Cortesia  de IPiaget/JDACT