A
Mulher que Amou Jesus
«(…)
É lindo, disse Quezia. Maria, subitamente, não conseguia falar. Gostei
muito de fazer esse trabalho, disse o jovem. Tinha uma voz agradável e,
de certa forma, diferente. Preveni meu pai para que não o trouxesse nesta
viagem. Se o perder, não posso prometer fazer um trabalho igual. Pelo menos,
nunca seria igual. Nem sempre se podem fazer réplicas de um trabalho. Exactamente
o que eu estava pensando, sobre perder aquele cajado, pensou Maria. Que
estranho! Mas o que quis ele dizer com não poder esculpir outro castão? As
coisas nunca ficam iguais da segunda vez, explicou novamente, como se
lesse os seus pensamentos. Mesmo que o queira fazer. Então, sorriu, um sorriso
sedutor e reconfortante, mudando por completo a sua fisionomia, com os olhos
brilhando. De onde são?, perguntou, quando ela não respondeu de imediato
ao seu comentário sobre o cajado. De Magdala, disse uma das primas. De
Magdala, repetiu Maria.
Qual é o seu nome?, perguntou
ele. Maria, respondeu ela, baixinho. O nome da minha mãe, disse
Jesus. Deveria conhecê-la. Ela sempre gosta de conhecer outras Marias. Acenou
para trás, com a mão, para uma mulher que caminhava cercada por crianças. Obedientes,
Maria, suas primas e Quezia ficaram para trás, esperando para conhecer a outra
Maria. Ela caminhava rapidamente, ocupada com os meninos à sua volta. Falava
menos que o seu marido ou o filho mais velho, mas era acolhedora. Também fez
perguntas, mas delicadamente, sem importunar. Queria saber de onde eram e quem
eram as suas famílias. Sabia quem era Natã. E quem não ouvira falar dele e dos
seus bem-sucedidos negócios?, e chegou a dizer que invejava os seus filhos, que
tanto o ajudavam no trabalho. As suas feições, finas, faziam o seu rosto
parecer clássico, como o da efígie de uma moeda ou de uma estátua. Tinha modos
calmos e reconfortantes. Disse que ela, ou outra pessoa da família, viajava
anualmente a Magdala para comprar peixes em conserva, que eram incomparáveis.
Não temos pescadores na família,
disse. Por isso, temos de confiar nos outros. Fez uma pausa. Pelo
menos, até agora. Será que algum de vós vai ser pescador? Dirigia-se aos três
meninos que vinham caminhando atrás: um menino moreno, de cerca de 12 anos,
seguido de outro, baixinho e atarracado, uns dois anos mais novo, e finalmente
pelo caçula. Tiago, disse ela, mostrando o moreno e Judas. O caçula é José,
mas nós o chamamos de Zé. Dois Josés na família gera confusão. O menino sorriu
e acenou para elas, enquanto Tiago meneou a cabeça, em sinal de assentimento. Tiago
mostra pouco interesse em brincar ao ar livre, disse a sua mãe, despreocupada.
Gosta mais de ficar em casa, lendo. É como o meu irmão Eli, disse
alegremente Maria. Talvez houvesse um deles em cada família. Ah, ele está aqui?,
perguntou a Maria mais velha. Sim, está ali com o grupo de Magdala. Como se
chama? Maria. Mas é também o meu nome!, disse, contente. Estou
muito satisfeita por a ter conhecido. E parecia dizê-lo com sinceridade. Muito
obrigada, disse Maria. Ninguém jamais lhe dissera isso. Então, somos as
filhas de Miriam, disse a outra Maria, embora os nossos nomes sejam a
forma grega da palavra. Fez um gesto para que se aproximassem as suas outras
crianças. Esta aqui é Rute, disse, apresentando uma menina mais alta e mais
velha que Maria. Rute baixou a cabeça. E Lia. E, de repente, apareceu
uma menina forte, mais ou menos da idade de Maria». In Margaret George, A Paixão de
Maria Madalena, 2002, Saída de Emergência, Edições Fio de Navalha, 2005, ISBN
972-883-911-1.
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