quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Um Rei Avesso à Política. Fernando II. Maria Antónia Lopes. «… o paço para receber o novo marido, o que irá provocar um conflito com a madrasta, que teve de se instalar noutro palácio, significando, portanto, a sua perda de influência e afastamento definitivo do centro da corte»

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A renitente autorização do pai
«(…) O duque Fernando Jorge reuniu-se com o irmão mais velho em Praga, mas regressou a Viena e só em Novembro partiu com a família para Coburgo. Ernesto, Vitória e Leopoldo não tinham cessado de o pressionar. O mesmo fizera o governo britânico. A 22 de Setembro, Palmerston informa a duquesa Vitória que, caso as negociações do consórcio corressem bem, o governo britânico tomaria a prominent part in the matter. Nesse sentido, Guilherme IV autorizara já os seus ministros a tomarem as providências necessárias para que o enlace se viesse a concretizar. Mas Fernando Jorge continuava a resistir. Ainda a 31 de Outubro, Ernesto dirige-lhe uma longa carta que é quase um ultimato em nome dele, de Leopoldo e de Vitória: tem de partir para Coburgo sem mais dilações porque Lavradio já está a caminho, sendo inadmissível que o não encontre à chegada. Alerta-o para o facto de ser já impossível recuar e que tanto Vitória como Leopoldo e a própria Inglaterra estavam comprometidos no assunto. Fernando Jorge Coburgo continuava muito receoso da reacção de Metternich e temia também agora um possível apoio da rainha de Inglaterra à família Leuchtenberg, a da madrasta de dona Maria II, recorde-se. Ernesto procura tranquilizar o irmão, garantindo-lhe que a rainha de Inglaterra tem uma posição completamente neutral. Quanto a Metternich, nunca declarou os seus planos abertamente e, em todo o caso, é preferível afastar-se dele. Reitera, pois, que só vê benefícios e nenhuma desvantagem em que Fernando se afaste de Viena e avance com o casamento do filho. E refere-se já a pormenores como se fosse assunto decidido: cerimónia em Coburgo, casamento por procuração, viagem do noivo para Portugal, residência de Toni e da filha durante essa viagem. Envia-lhe ainda uma carta de Leopoldo que lhe garante que será acolhido na Inglaterra, onde se deseja que acompanhe o filho, e o mesmo acontecerá em Portugal, e dá-lhe conta da opinião de Vitória, segundo a qual a resolução do assunto não pode ser adiada para a Primavera seguinte, como Fernando Jorge pretendia, sob pena de não ser concluído.
Também Alberto, com apenas 16 anos, mas já muito senhor de si, escrevia ao primo: felicitava-o, informava-o de que tudo se preparava para receber a delegação portuguesa, comentava o turbilhão de sentimentos que Fernando deveria estar a experimentar, entre a alegria esfuziante e a angústia, pois não seria fácil tornar-se marido tão cedo e menos ainda separar-se dos pais e irmãos; por fim, dizia-lhe que o aguardava impaciente e que conversariam sobre o seu futuro. Alberto já então oferecia conselhos a Fernando, o que talvez irritasse o primo mais velho, como aconteceria mais tarde.
Não menos ansiosa pelo sucesso das negociações estava a jovem rainha de Portugal, que comunica a Lavradio que se ajustar esse casamento será o maior milagre que o conde pode fazer. E pede que lhe envie um retrato do príncipe, ainda que seja daqueles pretos como se fazem em Inglaterra. De imediato começa a preparar o paço para receber o novo marido, o que irá provocar um conflito com a madrasta, que teve de se instalar noutro palácio, significando, portanto, a sua perda de influência e afastamento definitivo do centro da corte. Realizado que foi o casamento, dona Maria voltará a afirmar que o considera um verdadeiro milagre, sobretudo devido aos esforços que se fizeram para que se realizasse com o irmão da duquesa de Bragança, o príncipe Max, que tem cara de batata frita.

Difíceis negociações
Num bom resumo da questão, o marquês de Fronteira escreve: A proposta do conde do Lavradio foi aceite pela rainha e seus ministros e os esponsais e escrituras matrimoniais fizeram-se na corte de Gotha. As escrituras foram idênticas às do príncipe Augusto; o príncipe Fernando, futuro marido da rainha, desistiu da grande fortuna a que tinha direito por morte de sua mãe e os seus parentes exigiram do governo de Portugal que ele estivesse na mesma posição do príncipe Augusto, inclusivamente comandante em chefe do exército, o que provocou uma grave questão na imprensa e no Parlamento. Mas este acordo matrimonial exigiu ao conde do Lavradio muito trabalho, engenho e paciência». In Maria Antónia Lopes, D. Fernando II, Um Rei Avesso à Política, Círculo de Leitores, 2013, ISBN 978-972-42-4894-3.

Cortesia de CL/JDACT