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A amizade de AMG e MM
A importância da água na vila de Borba e os antecedentes da Fonte das
Bicas
«(…) Catarina Matilde, a obra feita para restituir a água aos
populares:
e assim com o procuradro deste povo e atendendo ao bem comum e a se tre
faltado as condisois do dito alvará que em todo se devia cumprir requeria que
mandasem notificra Catherina Matilde veuva do mesmo pera que em tremo de trinta
dias mande fazre o chafaris e tanque na froma disposto em o dito alvará com
cominassão de que não o fazendo de se mandra demolri a dita fonte como justa,
digo, fonte pondo-se esta no mesmo estado que de antes estava seu chafaris.
Três anos passaram e Catarina Matilde nada fez para restituir a água ao
povo e construir a fonte a que seu marido se havia obrigado. A Câmara fez uma
nova notificação, a l2 de Agosto de 1744, tendo esta sido entregue em mão pelo
escrivão do município, Diogo Sande Vasconcellos Corte Real. Contudo, a referida
senhora não deve ter reagido bem à nova notificação da Câmara, já que se registou
nas actas que se lhe tirará o dito ógoa yisto a rebeldia. A obra feita
por Francisco Morais Barreto foi demolida para se restituir a água ao povo e
entregou-se as contas à referida Catarina Matilde. Quem ficou encarregue de
fazer a cobrança da dívida foi o juiz de fora, mais uma vez devido à rebeldia
da senhora. Em 1753, a questão da fonte que Francisco Morais Barreto deveria ter
construído volta a aparecer nas sessões da Câmara. A consequência de todo o
processo foi que o chafariz construído pelo defunto fora demolido e a Fonte dos
Finados continuava seca, continuando o povo sem ter a água a que tinha direito,
possivelmente por se não ter remodelado as canalizações subterrâneas que
levavam a água para as hortas:
consta que o sobredito tenha feito hum xafaris próximo do lagar de Diogo
Francisco desta villa (...) o qual de prezente se acha demolido e com a fonte
daonde lhe corria a ágoa para o mesmo totalmente seca.
A Câmara entendeu que se devia intimar os actuais proprietários da
horta que recebia as águas da Fonte dos Finados a construir o chafariz definido
na provisão régia:
hum xafaris com três bicas e hum tanque grande para beberem as bestas e
seo lavadouro.
O actual proprietário era Diogo Melo, morador na cidade de Évora, que
recebeu uma carta do município intimando-o a construir a fonte, sob pena de lhe
serem tiradas as águas que lhe abasteciam a horta. Como, provavelmente, Diogo Melo
nunca tinha ouvido falar nesta obrigação, nem respondeu à carta da Câmara de
Borba. Os vereadores, perante a falta de água, decidiram aproveitar as canalizações
feitas por Francisco Morais Barreto, transferindo a Fonte dos Finados para o
Rossio de Baixo, construindo-lhe as três bicas, o tanque e o lavadouro, como
estava estipulado pelo alvará régio:
Visto o referido e ter o sobredito mais utilidade na mudança deste xafaris
para as ágoas da dita Fonte dos Finados do que em faze-llo de novo, como hé
obrigado, acordaram os sobreditos vereadores que na forma da dita provizam e à
vista do referido se devia por emposo a obra seguinte: mudouce o dito xafaris
que se acha sem água para lugar mais conviniente que pudece receber as ágoas da
dita Fonte dos Finados, fazendo-o no mesmo três bicas e juntamente hum tanque e
no fim deste outro tanque que posa servir de lavadouro e que deste deve entam
ser feito o cano que posa receber as sobras destas ágoas para dellas se utilizar
o sobredito para a sua orta.
A Câmara não cortou o abastecimento de água à horta de Diogo Melo,
apenas fez cumprir a disposição já antiga que obrigava à construção de uma
fonte com mais capacidade e infra-estruturas». In João Miguel Simões, A Fonte
das Bicas, Centro de Estudos Documentais do Alentejo, Edições Colibri e CEDA,
Lisboa, 2002, ISBN 972-772-344-6.
Cortesia de Colibri/JDACT