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Huginus de Barma, na Prática, da sua obra emprega os mesmos termos para exprimir
a matéria da Grande Obra, sobre a qual a estrela aparece: tomai terra verdadeira, diz ele, bem
impregnada dos raios do sol, da lua e dos outros astros. No século IV, o
filósofo Calcidius que, como diz Mullachius, o último dos seus editores,
professava que era necessário adorar os deuses da Grécia, os deuses de Roma e
os deuses estrangeiros, conservou a menção da estrela dos Magos e a explicação
que os sábios dela davam. Depois de ter falado de uma estrela chamada Ahc pelos Egípcios e que
anuncia desgraças, acrescenta:
Há uma outra história
mais santa e mais venerável que atesta que, pelo nascer de uma certa estrela
foram anunciadas, não doenças e mortes, mas a vinda de um Deus venerável para a
graça da conversação com o homem e para vantagem das coisas mortais. Os mais
sábios dos Caldeus, tendo visto essa estrela quando viajavam de noite, e sendo
homens perfeitamente exercitados na contemplação das coisas celestes,
procuraram, segundo se conta, o nascimento recente de um Deus e, tendo
encontrado a majestade desse Menino, renderam-lhe as homenagens que convinham a
um tão grande Deus. O que conheceis muito melhor do que outros.
Diodoro de Tarso mostra-se
ainda mais positivo quando afirma que essa
estrela não era uma dessas que povoam o céu, mas uma certa virtude ou força
urano-diurna, que tomou a forma de um astro para anunciar o nascimento do
Senhor de toda a gente. O Evangelho
segundo S. Lucas, II:
Ora, naquela mesma região havia uns pastores que vigiavam e se
revezavam entre si nas vigílias da noite para guardarem os seus rebanhos. Eis
que apareceu junto deles um Anjo do Senhor e uma luz divina os cercou e
sentiram grande temor. O anjo, porém, disse-lhes: não receeis porque vos venho
anunciar a Boa Nova que trará uma grande alegria a todo o povo. É que hoje vos
nasceu na cidade de David um Salvador que é o Cristo-Senhor; e este é o sinal
que vos fará reconhecê-lo: encontrareis um Menino envolto em panos e deitado
numa manjedoura. No mesmo instante juntou-se ao Anjo uma multidão da milícia
celeste que louvava a Deus e dizia: Glória a Deus no mais alto dos céus e paz
na terra aos homens de boa vontade.
Evangelho segundo S.
Mateus, II:
Tendo pois nascido Jesus em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis
que do Oriente uns magos vieram a Jerusalém, dizendo: Onde está Aquele que
nasceu, rei dos Judeus, pois vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo?
… Então Herodes, tendo chamado secretamente os Magos, inquiriu deles, com todo
o cuidado, acerca do tempo em que a estrela lhes tinha aparecido e enviando-os
a Belém disse-lhes: ide e informai-vos bem que Menino é esse e depois que o
houverdes achado vinde dizer-mo para que eu possa também ir adorá-lo. Eles,
tendo ouvido as palavras do rei, partiram e logo a estrela que tinham visto no Oriente lhes apareceu, indo adiante deles, até que chegou e se
deteve sobre o lugar onde estava o Menino. Quando eles viram a estrela foi
grande a sua alegria e, entrando na casa, encontraram o Menino com Maria, sua
Mãe e, prostrando-se, adoraram-no; depois, abrindo os seus tesouros,
ofereceram-lhe presentes, ouro, incenso e mirra.
Nesse lugar baixo, húmido
e frio, o observador tem uma sensação rara e que impõe o silêncio, a do poder
unido às trevas. Estamos aqui no asilo dos mortos, como na basílica de Saint-Denis,
necrópole dos ilustres, como nas Catacumbas romanas, cemitério dos cristãos. Lages
de pedra, mausoléus de mármore, sepulcros, ruínas históricas, fragmentos do
passado. Um silêncio lúgubre e pesado entre os espaços abobadados. Os mil
ruídos do exterior, esses vãos ecos do mundo, não chegam até nós. Iremos
desembocar nas cavernas dos ciclopes? Estamos no limiar de um inferno dantesco
ou sob as galerias subterrâneas, tão acolhedoras, tão hospitaleiras, dos
primeiros mártires? Tudo é mistério, angústia e temor neste antro escuro... À
nossa volta, numerosas colunas, enormes, maciças, por vezes emparelhadas, erguidas
sobre as suas bases largas e chanfradas. Capitéis curtos, pouco salientes,
sóbrios, atarracados. Formas rudes e sumidas em que a elegância e a riqueza
cedem lugar à solidez. Músculos fortes, contraídos sob o esforço, que partilham
sem desfalecer o peso formidável do edifício inteiro. Vontade nocturna, muda,
rígida, tensa numa resistência perpétua ao esmagamento. Força material que o
construtor soube ordenar e repartir, dando a todos estes membros o aspecto
arcaico de um rebanho de paquidermes fósseis, soldados uns aos outros, arredondando
os dorsos ossudos, contraindo os ventres petrificados sob o peso de uma carga excessiva.
Força real, mas oculta, que se exerce em segredo, se desenvolve na sombra, age sem
tréguas nas profundezas dos subterrâneos da obra. Tal é a impressão dominante
que sente o visitante ao percorrer as galerias das criptas góticas». In Fulcanelli, 1926, Le
Mystère des Cathédrales, 1964, O Mistério das Catedrais, Interpretação
Esotérica dos símbolos herméticos, Edições 70, colecção Esfinge, 1975.
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