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Rainha
que o povo amou.
Estefânia
de Hohenzollern-Sigmaringen (1837-1859)
«(…) Estefânia cresceu num
ambiente de grande religiosidade mas, segundo os biógrafos seus contemporâneos,
sem exageros, sem demasiadas manifestações exteriores, íntima e esclarecida.
Esta apreciação deve corresponder à realidade, pois é isso que as suas cartas
revelam: uma jovem mulher profundamente religiosa, que procura agir em coerência
com as suas crenças, que se chocou com a impreparação, preguiça e hipocrisia do
clero português, que não gostava das longuíssimas cerimónias religiosas a que
assistia em Lisboa, que não aceitava ser orientada por clérigos pouco esclarecidos.
Em Dusseldorf, Estefânia contactou com as Ursulinas, que aí tinham um convento
e se dedicavam ao tratamento de doentes e ao ensino de crianças, o que será
fundamental na sua formação. Descobria o catolicismo social. É nestas mulheres,
religiosas não contemplativas, que Estefânia acredita. Elas poderão regenerar a
sociedade. O que a levará, já rainha de Portugal, a colocar-se indefectivelmente
ao lado das Irmãs da Caridade. O que levará também Pedro V a refreá-la, não a
deixando agir às claras.
A princesa envolveu-se em acções de
caridade. Katharina Diez afirma que visitava os pobres em suas casas, entrando
em portas onde dificilmente passava a crinolina (armação por debaixo das saias
que as abriam em grande balão), tão rebelde em se dobrar. Outras vezes saía à
noite disfarçada com roupas de camponesa, a socorrer as famílias necessitadas. Deixara
já, pois, quando veio para Portugal, essa imagem de anjo da caridade ou
ter-se-ia forjado mais tarde, com o seu destino tão ao gosto romântico. Com
certeza que a fama cresceu depois da elevação a rainha e da morte prematura,
mas a condessa do Lavradio testemunha em 1857 que indo com ela às terras do
pai, viu que ela conhecia e falava a todos os pobres; que todos a vinham
cumprimentar e que a acompanhou uma vez a um hospital (fundado pelo avô da
princesa) aonde teve a prova que ela lá ia muitas vezes, pois conhecia todos os
doentes e de todos era conhecida. As cartas que a rainha irá escrever de Lisboa
demonstram também que em Dusseldorf se empenhara activamente em acções de
beneficência.
Em finais de 1855, com 18 anos,
quando em Portugal Pedro iniciava o seu reinado de facto, a mãe acompanhou Estefânia
a Berlim, onde foi apresentada na corte. Tinha atingido a idade de aparecer e
de lhe procurarem marido. Sob a protecção da princesa Augusta, mulher do príncipe
herdeiro (futuro Guilherme I), participou em saraus, festas, bailes, etc. A jovem
também viajou ao estrangeiro, pelo menos à Escócia, como a sua correspondência
demonstra. Uma passagem de uma carta de 10 de Maio de 1859 revela que esteve
com a mãe em casa da tia Maria na ilha de Arran, ou seja, no castelo de
Brodick, mansão dos duques de Douglas-Hamilton.
Por essa altura, Napoleão III, ou
talvez, por detrás dele, a tia Estefânia, avó da jovem, tentou casar a princesa
de Sigmaringen com o rei da Sardenha-Piemonte Vítor Manuel II, que enviuvara em
1855, aos 35 anos, mas o soberano recusou. A princesa Estefânia poderia ter sido
madrasta de Maria Pia de Saboia, então com 8 anos e sua sucessora como rainha
de Portugal. O que, por certo, nenhuma das duas alguma vez soube.
De
Dusseldorf para Lisboa
Negoceia-se
o casamento
«(…)
Em Janeiro de 1857, o príncipe Alberto de Saxe-Coburgo-Gotha, marido da rainha Vitória
de Inglaterra, aconselhou Pedro V de Portugal a escolher para esposa a princesa
Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen. Pedro tinha 19 anos, como Estefânia. Era
filho da rainha dona Maria II, falecida em 1853, e de Fernando de
Saxe-Coburgo-Gotha, intitulado rei desde o nascimento do seu primogénito. Porque
o filho era menor, o rei viúvo assumiu a regência à morte da rainha, mas já desde
16 de Setembro de 1855, ao completar 18 anos, que Pedro reinava de facto. Vitória
e Alberto, primos direitos
entre si (Vitória era Saxe-Coburgo
pela mãe), eram também primos direitos do rei-consorte de Portugal, o que
explica as estreitas relações. O jovem rei Pedro de Bragança nutria uma
profunda admiração por Alberto de Inglaterra, a quem tratava por tio, como era costume
chamar aos primos dos pais. Alberto também admirava a seriedade e sentido de responsabilidade
do sobrinho, qualidades que não encontrava no filho, o futuro Eduardo VII. Em contrapartida,
Pedro e o pai possuíam personalidades muito distintas e as relações entre eles eram
tensas». In Maria Antónia Lopes, Rainha que o povo amou, Dona Estefânia de
Hohenzollern, Círculo de Leitores, 2011, ISBN 978-972-424-718-2.
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