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Infanta
dona Urraca (1150?-1222?). Filha de Leão;
filha de Afonso Henriques de Portugal; mulher do rei Fernando II de Leão; mãe
do rei Afonso IX de Leão
«(…)
Em 1143, Afonso Henriques firmara com o agora defunto monarca um acordo, por
meio do qual ele o reconhecia como rei de Portugal. Inteirado da sua decisão,
fez uma visita ao novo soberano leonês. Segundo os historiadores, o motivo
principal foi falar das fronteiras, em especial a galega de Toroño, sobre as
quais o monarca português tinha alguma jurisdição. Terá sido então adiantado
nessas conversações o nome de Urraca como possível mulher do jovem rei? Fernando
acabara de fazer vinte anos, e parece que até ao momento não se falara do seu
casamento. Agora convertido em soberano, e numa idade mais do que respeitável
para contrair matrimónio, por que não haveria o rei de Portugal de tentar a
possibilidade de casar a sua filha primogénita? É certo que na altura Urraca
tinha apenas sete anos, mas isso não constituía impedimento da realização de
negociações para o seu futuro matrimónio. Segundo as regras da época, o
matrimónio católico constava de duas partes; a primeira, chamada palavras de
futuro, isto é, os esponsais, era válida a partir dos sete anos; só para a
segunda, ou palavras de presente era necessário que a esposa tivesse
cumprido doze anos.
Fosse
como fosse, poucos meses depois do encontro, ou seja, em Maio de 1158, Fernando
reuniu-se em Sahagún com o seu irmão, Sancho, rei de Castela, para tentar
acabar com as pretensões reais daquele que viria a ser seu sogro. E ali assinaram
um tratado que tornava letra morta os de 1143 de Afonso Henriques com Afonso VII
de Castela e Leão, que mencionámos antes. A má nova não tardou a chegar à corte
em Coimbra. Contudo, a morte prematura de Sancho de Castela pareceu reduzir o
perigo. Os interesses de Fernando II de Leão a respeito de Portugal sofreram necessariamente
uma demora, não só porque lhe faltou o seu irmão e principal aliado, mas também
porque a instabilidade do reino castelhano, devido a que o novo rei não
atingira ainda a maioridade, lhe abria perspectivas de ingerência mais
apetecíveis. A conjuntura foi rapidamente aproveitada pelo oportuno monarca português
para atacar a parte mais vulnerável da fronteira com o reino leonês, isto é, a
Galiza e ocupar a região de Toroño, sobre a qual podia fazer valer certos
direitos.
A
demonstração de força por parte dos portugueses obrigou Fernando a deixar de
momento a meseta castelhana, onde se encontrava, e a dirigir-se para norte. O
bispo de Braga, tradicional aliado do rei português, serviu como mediador para
que os diplomatas fernandinos começassem a preparar conversações com Afonso
Henriques. Essas conversações entre os dois soberanos tiveram lugar em Cabrera,
em Novembro de 1158. Escreveu-se que apenas assentaram num diferimento das
questões suscitadas e numa delimitação provisória das fronteiras. O rei de
Portugal aproveitou a ocasião para iniciar negociações com o conde de
Barcelona, ali presente, com a ideia de casar a sua filha Mafalda com o
herdeiro do catalão. De qualquer forma, essa aliança só seria selada a 30 de
Janeiro de 1160. Afonso Henriques pretendia, com esse matrimónio, garantir o
apoio de fora da órbita castelhano-leonesa. A partir de então, Fernando de Leão
desencadeou uma reacção aos planos matrimoniais do monarca português, que deu
lugar a uma verdadeira estratégia de tensão.
A
primeira provocação, leonesa consistiu no repovoamento, em 1161, da então
aldeia de Ciudad Rodrigo, situada num ponto estratégico do caminho que ia da
leonesa Salamanca à portuguesa Coimbra. Afonso Henriques respondeu tomando
Salamanca em l163, onde chegou a contar com a ajuda dos seus habitantes. Mas a
posse foi efêmera, ao contrário do que sucedeu com os seus ataques com êxito à
região galega, que iriam pressagiar a conquista de Compostela». In
Marsilio Cassotti, Infantas de Portugal, Rainhas de Espanha, tradução de
Francisco Boléo, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2012, ISBN 978-989-626-396-6.
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