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Rainha
que o povo amou. Maria Pia de Sabóia (1847-1911)
Família,
nascimento e baptismo
«(…) O pai de Maria Pia era ainda
desconhecido na Europa. Depois irá impor-se ao mundo dito civilizado. Unificador
da Itália, rei constitucional, combatente pelos ideais da liberdade, opositor do
poder temporal da Igreja e galantuomo. Este cognome tem sido mal interpretado
em Portugal. É verdade que foi um conquistador de amores, que os filhos ilegítimos
se sucederam a partir de 1848, mas o epíteto enaltecia uma atitude
filosófico-política: a probidade e a fidelidade à palavra como determinantes da
acção política, na antítese do maquiavelismo. Maria Pia tinha, pois, 17 meses quando
os pais subiram ao trono, a 24 de Março de 1849. A mãe, Maria Adelaide de Habsburgo-Lorena,
era uma arquiduquesa austríaca. A Casa de Áustria, porque dominava a Lombardia e
o Veneto, territórios vizinhos do Piemonte, e ainda, através de diversos membros
da família, várias outras unidades políticas da Península Itálica (como a Toscana),
tinha relações difíceis com os Saboias. No processo de unificação italiana serão,
a par do papa, os grandes adversários, Mas quando Vítor Manuel se casou, não começara
ainda a expansão piemontesa. E a noiva foi uma austríaca como, afinal, também já
era a sua mãe, Maria Teresa de Habsburgo-Lorena, princesa de Módena. Além disso,
Vítor Manuel e Maria Adelaide eram primos direitos (pelo lado Saboia), sendo
ambos Saboias e Habsburgos. Não só Carlos Alberto se unira a uma austríaca, como
uma irmã dele, Maria Isabel de Saboia-Carignano, se consorciara com o arquiduque
de Áustria, Renato (Rainier) de Habsburgo, vice-rei da Lombardia-Veneto e filho
do imperador Leopoldo II da Áustria. E eram estes os pais de Maria Adelaide. Maria
Pia era, pois, uma Habsburgo, tanto pelo lado paterno como pelo materno. Durante
a sua vida adulta manterá correspondência e relações de afecto com os parentes austríacos.
Quando Maria Pia nasceu, tinha a mãe
25 anos e o pai 27 . Estavam casados desde 1842 e já existiam os irmãos Maria
Clotilde, que nascera a 2 de Março de 1843, Humberto, em 14 de Março do ano seguinte,
Amadeu, em 30 de Maio de 1845, e Otão (Oddone), em 11 de Julho de 1846. A seguir
a Maria Pia, Maria Adelaide deu à luz três outros rapazes que não sobreviveram,
numa sucessão de partos demasiado próximos. A família real habitava em Turim. Dela
faziam parte, depois do exílio e morte de Carlos Alberto, o jovem casal reinante
e seus filhos, a rainha-viúva Maria Teresa de Habsburgo-Lorena (1801-1855), o
duque de Génova, Fernando de Saboia (1822-1855), que era irmão de Vítor Manuel,
a mulher deste, Maria Isabel da Saxónia (1830-1912) [irmã de Jorge da Saxónia,
com quem casou, em 1859, a infanta Maria Ana de Bragança] e os filhos, Margarida,
quatro anos mais nova do que a prima Maria Pia, e Tomás Alberto, nascido em 1854.
Era ainda viva uma bisavó, a mãe de Carlos Alberto, Maria Cristina da
Saxónia-Curlândia (1770-1851). O bisavô, Carlos Manuel de Saboia, tinha morrido
há muito, em 1800.
A família materna era mais
numerosa, mas estrangeira e residindo longe. Pouco tempo depois do nascimento de
Maria Pia, as relações familiares degradaram-se por motivos políticos. Quando a
princesa nasceu, viviam ainda os avós Renato de Habsburgo (1783-1853) e Isabel
de Saboia-Carignano (1800-1856), além de Maria da Saxónia-Curlândia, que era
bisavó tanto pelo lado paterno como materno. Os tios Áustrias eram cinco:
Leopoldo (1823-1898), Ernesto (1824-1899), Segismundo (1826-1891), Renato (1827-1913)
e Henrique (1828-1891).
Em 1845, Vítor Manuel conheceu Rosa
Vercellana, uma jovem de l4 anos, plebeia analfabeta, que o atraiu para toda a vida.
Desta ligação nasceu Vitória em 1848 e Manuel em 1851. Em 1852 e 1853 o rei teve
mais um filho e uma filha da actriz Laura Bon, a quem se ligara já em 1844.
Depois da viuvez, Vítor Manuel terá também uma filha de Vitória du Plessis, que
morreu na infância; e de Virgínia Rho nascerão Donato em 1858, Vítor Manuel em 1861
e Maria Pia em 1866. Mas com estes meios-irmãos Maria Pia de Saboia não
convivia, naturalmente. Rosa Vercellana, a dilecta de Vítor Manuel II, e muito menos
as outras, nunca foram admitidas na corte. Neste século XIX já não se consentiam
tais ofensas à família legítima». In Maria Antónia Lopes, Rainha que o povo
amou, Dona Maria Pia de Saboia, Círculo de Leitores, 2011, ISBN
978-972-424-718-2.
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