sábado, 9 de fevereiro de 2019

Dona Estefânia de Hohenzollern. Maria Antónia Lopes. «A cerimónia revestia-se de grande importância, assumindo o carácter de solene ritual de passagem da infância à adolescência e de entrada na vida activa cristã, realizando-se nesta época pelos 13 ou 14 anos…»

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Rainha que o povo amou. Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen (1837-1859)
«(…) Em 1831 Estefânia de Beauharnais casou Luísa (1811-1854), a filha mais velha, com Gustavo Vasa, filho do rei destronado da Suécia. Tiveram uma filha, Carola (1833-1907), que desposou aos 20 anos o príncipe herdeiro da Saxónia. A segunda filha de Carlos de Baden e Estefânia de Beauharnais era Josefina, mãe da futura rainha de Portugal. Era afilhada de Josefina, ex-imperatriz francesa, repudiada três anos antes. A terceira filha de Estefânia de Beauharnais, de nome Maria (1817-1888), casou com Guilherme Alexandre Douglas-Hamilton, 11o duque de Hamilton. Nasceram deste casamento Guilherme Alexandre (1845-1895), Carlos (1847-1886) e Maria Vitória (1850-1922). São estes, pois, os tios e primos, pelo lado materno, da princesa Estefânia de Hohenzollern-Siemaringen. Com a subida ao poder de Napoleão III (que era Bonaparte pelo pai e Beauharnais pela mãe), a avó Estefânia, tia do novo imperador por laços de adopção, estava de novo protegida e instalou-se na corte francesa, onde vivia quando Pedro V e a princesa Estefânia se casaram.
Pelo lado paterno, Estefânia tinha apenas uma tia, Amália (1815-1841), casada com Eduardo, príncipe da Saxónia-Altenburg. Os seus filhos foram Teresa (1836-1914), Antonieta (1838- 1908), Luís (1839-1844) e João (1841-1844). Os pais de Estefânia, cujo casamento se realizou em 1834, tiveram no ano seguinte o seu primeiro filho, Leopoldo. Virá a casar com dona Antónia de Bragança, irmã de Pedro V e Luís I, já após a morte de Estefânia. A esta, dois anos mais nova do que Leopoldo, seguiram-se os nascimentos de Carlos (Carol) em 1839, António em 1841, Frederico em 1843 e Maria em 1845. Até aos seus 8 anos de vida, Estefânia viu, pois, surgir um novo irmão em cada dois anos.
Em Agosto de 1848 Carlos III abdicou no seu filho, pai de Estefânia. Dois anos depois, com a cedência da soberania de Sigmaringen ao primo afastado Frederico Guilherme IV, rei da Prússia, a família Hohenzollern-Sigmaringen abandonou a capital do ex-principado e residiu por algum tempo em Basileia e em Neisse, na Silésia. Em Maio de 1852, tinha então Estefânia 15 anos de idade, o pai foi nomeado para um alto cargo militar e a família mudou-se para Dusseldorf, na Renânia, instalando-se no castelo ou palácio de Iagerhof. Todos os anos, a família Hohenzollern-Sigmaringen passava o Outono numa das suas propriedades na Suíça, perto do lago Constança.

Formação de uma princesa
Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen era uma mulher culta. Bilingue, pois falava como línguas nativas o alemão e francês, exprimia-se facilmente em inglês e italiano. Gostava de história, de literatura, de poesia, que lia nos quatro idiomas que dominava, e possuía bons conhecimentos de arte. Aos 8 anos a sua educação foi confiada a madame Naudin, francesa. Provavelmente a sua mãe, filha de francesa, falava com os seus filhos em francês, língua que Estefânia utiliza sempre nas cartas que lhe escreve. Aprendeu desenho com o professor Mucke, cujo estilo religioso lhe agradava particularmente e que também a orientou na educação religiosa e na história e princípios teóricos e estéticos das artes gráficas. Teve como professora de música a célebre pianista e compositora Clara Wieck Schumann e recebeu lições de doutrina cristã de Lampenscherf. Como qualquer princesa da sua época, Estefânia aprendeu equitação. Montava bem, diz Katharina Diez, e, segundo a mesma, chegou a receber lições de exercícios militares com um oficial do regimento do pai. Mas não devia ser uma boa cavaleira, pois, já em Portugal, Pedro V obrigou-a a ter 1ições de equitação por ter sofrido uma queda de um cavalo que não soube dominar. A princesa foi também treinada, como é óbvio, nos tradicionais lavores femininos. Nas suas temporadas em Mafra, por vezes orientava essas matérias na aula das meninas pobres, ensinando-as a executar um ponto de renda novo, que passou a ser conhecido como ponto da rainha, ou renda alemã. Como a qualquer burguesa que tem de governar a sua casa, a mãe mandou-a ainda seguir lições de culinária e doçaria.
É conhecida uma gravura representando a sua primeira comunhão. Nela se veem os pais, em lugar de honra, e a princesa junto de outras comungantes. A cerimónia revestia-se de grande importância, assumindo o carácter de solene ritual de passagem da infância à adolescência e de entrada na vida activa cristã, realizando-se nesta época pelos 13 ou 14 anos, pois entendia-se só dever comungar quem tivesse adquirido uma sólida formação doutrinal. Posteriormente, já em Dusseldorf, a princesa recebeu o crisma na Igreja de São Lamberto, pelo cardeal, arcebispo de Colónia, monsenhor Geissel». In Maria Antónia Lopes, Rainha que o povo amou, Dona Estefânia de Hohenzollern, Círculo de Leitores, 2011, ISBN 978-972-424-718-2.

Cortesia de CLeitores/JDACT