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Rainha
que o povo amou.
Estefânia
de Hohenzollern-Sigmaringen (1837-1859)
«(…) Em 1831 Estefânia de
Beauharnais casou Luísa (1811-1854), a filha mais velha, com Gustavo Vasa,
filho do rei destronado da Suécia. Tiveram uma filha, Carola (1833-1907), que
desposou aos 20 anos o príncipe herdeiro da Saxónia. A segunda filha de Carlos
de Baden e Estefânia de Beauharnais era Josefina, mãe da futura rainha de Portugal.
Era afilhada de Josefina, ex-imperatriz francesa, repudiada três anos antes. A
terceira filha de Estefânia de Beauharnais, de nome Maria (1817-1888), casou
com Guilherme Alexandre Douglas-Hamilton, 11o duque de Hamilton.
Nasceram deste casamento Guilherme Alexandre (1845-1895), Carlos (1847-1886) e
Maria Vitória (1850-1922). São estes, pois, os tios e primos, pelo lado
materno, da princesa Estefânia de Hohenzollern-Siemaringen. Com a subida ao
poder de Napoleão III (que era Bonaparte pelo pai e Beauharnais pela mãe), a
avó Estefânia, tia do novo imperador por laços de adopção, estava de novo
protegida e instalou-se na corte francesa, onde vivia quando Pedro V e a
princesa Estefânia se casaram.
Pelo lado paterno, Estefânia
tinha apenas uma tia, Amália (1815-1841), casada com Eduardo, príncipe da
Saxónia-Altenburg. Os seus filhos foram Teresa (1836-1914), Antonieta (1838- 1908),
Luís (1839-1844) e João (1841-1844). Os pais de Estefânia, cujo casamento se
realizou em 1834, tiveram no ano seguinte o seu primeiro filho, Leopoldo. Virá
a casar com dona Antónia de Bragança, irmã de Pedro V e Luís I, já após a morte
de Estefânia. A esta, dois anos mais nova do que Leopoldo, seguiram-se os
nascimentos de Carlos (Carol) em 1839, António em 1841, Frederico em 1843 e
Maria em 1845. Até aos seus 8 anos de vida, Estefânia viu, pois, surgir um novo
irmão em cada dois anos.
Em Agosto de 1848 Carlos III
abdicou no seu filho, pai de Estefânia. Dois anos depois, com a cedência da
soberania de Sigmaringen ao primo afastado Frederico Guilherme IV, rei da
Prússia, a família Hohenzollern-Sigmaringen abandonou a capital do
ex-principado e residiu por algum tempo em Basileia e em Neisse, na Silésia. Em
Maio de 1852, tinha então Estefânia 15 anos de idade, o pai foi nomeado para um
alto cargo militar e a família mudou-se para Dusseldorf, na Renânia,
instalando-se no castelo ou palácio de Iagerhof. Todos os anos, a família
Hohenzollern-Sigmaringen passava o Outono numa das suas propriedades na Suíça,
perto do lago Constança.
Formação de uma princesa
Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen
era uma mulher culta. Bilingue, pois falava como línguas nativas o alemão e
francês, exprimia-se facilmente em inglês e italiano. Gostava de história, de
literatura, de poesia, que lia nos quatro idiomas que dominava, e possuía bons
conhecimentos de arte. Aos 8 anos a sua educação foi confiada a madame Naudin,
francesa. Provavelmente a sua mãe, filha de francesa, falava com os seus filhos
em francês, língua que Estefânia utiliza sempre nas cartas que lhe escreve.
Aprendeu desenho com o professor Mucke, cujo estilo religioso lhe agradava
particularmente e que também a orientou na educação religiosa e na história e
princípios teóricos e estéticos das artes gráficas. Teve como professora de
música a célebre pianista e compositora Clara Wieck Schumann e recebeu lições
de doutrina cristã de Lampenscherf. Como qualquer princesa da sua época,
Estefânia aprendeu equitação. Montava bem, diz Katharina Diez, e, segundo a
mesma, chegou a receber lições de exercícios militares com um oficial do
regimento do pai. Mas não devia ser uma boa cavaleira, pois, já em Portugal, Pedro
V obrigou-a a ter 1ições de equitação por ter sofrido uma queda de um cavalo
que não soube dominar. A princesa foi também treinada, como é óbvio, nos
tradicionais lavores femininos. Nas suas temporadas em Mafra, por vezes
orientava essas matérias na aula das meninas pobres, ensinando-as a executar um
ponto de renda novo, que passou a ser conhecido como ponto da rainha, ou
renda alemã. Como a qualquer burguesa que tem de governar a sua casa, a
mãe mandou-a ainda seguir lições de culinária e doçaria.
É conhecida uma gravura
representando a sua primeira comunhão. Nela se veem os pais, em lugar de honra,
e a princesa junto de outras comungantes. A cerimónia revestia-se de grande
importância, assumindo o carácter de solene ritual de passagem da infância à
adolescência e de entrada na vida activa cristã, realizando-se nesta época
pelos 13 ou 14 anos, pois entendia-se só dever comungar quem tivesse adquirido
uma sólida formação doutrinal. Posteriormente, já em Dusseldorf, a princesa recebeu
o crisma na Igreja de São Lamberto, pelo cardeal, arcebispo de Colónia,
monsenhor Geissel». In Maria Antónia Lopes, Rainha que o povo amou, Dona Estefânia de
Hohenzollern, Círculo de Leitores, 2011, ISBN 978-972-424-718-2.
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