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De volta de Ceuta
«(…)
Cantando por um valle docemente
Desciam dous pastores, quando
Phebo
No reino Neptunino se escondia.
De idade cada qual era mancebo,
Mas velho no cuidado, e descontente
Do que lhe elle causava parecia.
O que cada um dizia,
Lamentando seu mal, seu duro
fado,
Não sou eu tão ousado.
Que o pretenda cantar sem
vossa ajuda;
Porque, se a minha ruda
Frauta deste favor vosso
for dina,
Posso escusar a fonte Caballina.
Nota: Esta egloga, segundo creio, é dirigida a dona
Francisca de Aragão, a tão formosa, como ajuizada dama da rainha dona Catharina.
Della diz o J. Priebsch: Raras vezes uma dama da corte portuguesa foi alvo de
tantas e tão enthusiasticas manifestações de admiração... Os poetas mais ilustres
do seu tempo tributaram-lhe homenagem, cantando o esplendor da sua belleza e lamentando
a altivez do seu desdém. Namorador incorrigível, Camões, ao voltar do Oriente,
enfileirou também entre os apaixonados adoradores da que annos depois era nora de
S. Francisco de Borja.
Este amor que vos tenho,
limpo e puro.
De pensamento vil nunca tocado.
Em minha tenra idade começado.
Tê-lo dentro nesta alma só
procuro.
De haver nelle mudança estou
seguro.
Sem temer nenhum caso ou
duro fado.
Nem o supremo bem ou baixo
estado,
Nem o tempo presente nem
futuro.
A bonina e a flor asinha
passa;
Tudo por terra o inverno
e estio deita;
Só para meu amor é sempre
maio.
Mas ver-vos para mim, Senhora,
escassa,
E que essa ingratidão tudo
me enjeita,
Traz este meu amor sempre em desmaio.
Já agora também o soneto de despedida, quando a formosa senhora, em seguida
ao seu casamento, acompanhou o marido para a corte do imperador Rodolpho II:
Ai imiga cruel! Que apartamento
É este que fazeis da pátria
terra?
Ai! Quem do amado ninho
vos desterra.
Gloria dos olhos, bem do
pensamento?
Is tentar da fortuna o movimento
E dos ventos cruéis a dura
guerra?
Ver brenhas d’ondas? feito
o mar em serra,
Levantado de um vento e de
outro vento?
Mas já que vos partis, sem
vos partirdes,
Parta comvosco o ceu tanta
ventura,
Que se avantaje áquella que
esperardes.
E só desta verdade ide segura,
Que fazeis mais saudades
com vos irdes.
Do que levais desejos por
chegardes.
Servem de commentario a alguns
versos deste soneto as seguintes palavras de Sánchez Moguel {Reparaciones historicaSy
Madrid, 1894: En el ano siguiente (1576) debió verilicarse el matrimonio de Juan
(de Borja, que era embaixador de Philippe II na corte de Lisboa desde 1569, e
tinha enviuvado em 1575) y dona Francisca, pues de las pruebas para el hábito de
Santiago del hijo mayor de ambos, Francisco Borja, resulta que este nació em 1577,
según unos testigos en el mar, según otros en Génova… Caminaban entonces Juan y
dona Francisca para Alemanía, adonde iba Juan de Embajador, á pesar de los ruegos
de dona Catalina á Felipe II para que le
hubiessc dado otro puesto, á causa de lo mal que probaba á dona Francisca el passaje
de la mar. A futura condessa de Ficalho, que ia ser mãe de mais de um
vice-rei espanhol, partia-se, sem se partir, sem deixar uma parcela do coração
ao seu desconsolado adorador.
Nada conseguiram também as
senhoras que se prestaram a ser intermediarias, terceiras, no assumpto, e ás quais
o poeta se dirige nestas redondilhas:
Pois a tantas perdições,
Senhoras, quereis dar vida.
Ditosa seja a ferida,
Que tem tais cirurgiões.
Pois ventura
Me subiu a tanta altura,
Que me sejais valedoras,
Ditosa seja a tristura,
Que se cura
Por vossos rogos. Senhoras.
Ser minha pena mortal.
Já que intendeis que é assi,
Não quero fallar por mi.
Que por mi falia meu mal.
Sois formosas,
Haveis de ser piedosas.
Por ser tudo de uma côr;
Que pois Amor vos fez rosas
Milagrosas,
Fazei milagres d'amor.
Pedi a quem vós sabeis
Que saiba de meu trabalho,
Não pelo que eu nisso valho,
Mas pelo que vós valeis.
Que o valer
De vosso alto merecer,
Com lh'o pedir de giolhos.
Fará que em meu padecer
Possa ver
O poder que tem seus olhos.
Vossa muita formosura
Com a sua tanto vai.
Que me rio de meu mal.
Quando cuido em quem me cura.
A meus ais
Peço-vos que lhe
valhais,
Damas, de Amor tão
validas,
Que nunca tal dór sintais,
Que queirais,
Onde não sejais queridas.
[…]
In José Maria Rodrigues (3 1761 06184643.2), Coimbra 1910, PQ 9214 R64 1910 C1 Robarts/.
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