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A
pálida luz da manhã de Inverno
«A
pálida luz da manhã de Inverno,
O cais
e a razão
Não dão
mais 'sperança, nem menos 'sperança sequer,
Ao meu
coração.
O que
tem que ser
Será, quer eu queira que seja ou que não.
No
rumor do cais, no bulício do rio
Na rua
a acordar
Não há
mais sossego, nem menos sossego sequer,
Para o
meu 'sperar.
O que
tem que não ser
Algures será, se o pensei; tudo mais é sonhar».
A
'sperança, como um fósforo inda aceso
«A
'sperança, como um fósforo inda aceso,
Deixei
no chão, e entardeceu no chão ileso.
A falha
social do meu destino
Reconheci,
como um mendigo preso.
Cada
dia me traz com que ‘sperar
O que
dia nenhum poderá dar.
Cada
dia me cansa de Esperança...
Mas
viver é ‘sperar e se cansar.
O prometido
nunca será dado
Porque
no prometer cumpriu-se o fado.
O que
se espera, se a esperança e gosto,
Gastou-se
no esperá-lo, e está acabado.
Quanta
ache vingança contra o fado
Nem deu
o verso que a dissesse, e o dado
Rolou
da mesa abaixo, oculta a conta.
Nem o buscou o jogador cansado».
A
tua voz fala amorosa...
«Qual é
a tarde por achar
Em que
teremos todos razão
E
respiraremos o bom ar
Da
alameda sendo Verão,
Ou,
sendo Inverno, baste 'star
Ao pé
do sossego ou do fogão?
Qual é
a tarde por voltar?
Essa
tarde houve, e agora não.
Qual é
a mão cariciosa
Que há-de
ser enfermeira minha
Sem
doenças minha vida ousa
Oh,
essa mão é morta e osso...
Só a
lembrança me acarinha
O coração com que não posso».
In Fernando Pessoa, Poesias Inéditas
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