Sobre a Busca das Índias
«(…) Talvez se possa mesmo pensar que entre essas informações
aguardadas se contariam as indicações cartográficas acrescentadas ao mapa que
ele havia levado em 1487 quando
partiu para o Oriente, o qual talvez tivesse sido baseado no mapa-mundo de Fra
Mauro, pois desde 1459 não haveria
em Portugal novos mapas sobre o Oriente. Face ao que expusemos podemos admitir
que na fase final da vida do infante Henrique este estaria determinado a dar um
novo impulso ao avanço no caminho das Índias como o revelam as ordens dadas em 1460 a Pedro de Sintra, mas o processo
ficou de novo interrompido devido à sua morre, a 13 de Novembro de 1460. A falta de interesse de Afonso V
em continuar por sua iniciativa os Descobrimentos encontra-se demonstrada pela
circunstância de estes só terem sido retomados entre 1469 e 1474 numa fase
que decorreu sob a égide do contrato por ele estabelecida com Fernão Gomes.
Durante o cumprimento deste contrato assegurou-se a exploração geográfica de
100 léguas anuais enquanto se realizava a exploração económica das regiões que
iam sendo encontradas. Estas chegaram com Rui Sequeira ao cabo de Santa Catarina
a 1º 51’ sul, num dia29 de Agosto (dia daquela santa) que talvez ainda
fosse de 1473,considerando que o
contrato com Fernão Gomes foi prolongado por mais um ano a 1 de Junho de
1473 e que esta personalidade
recebeu como recompensa dos seus serviços uma carta com nobreza de novas armas a 29 de Agosto de 1474, sendo de notar que tal concessão
foi feita dois dias antes de a 31 de Agosto ter saído a ordenação que proibia o
tráfico para sul do cabo Bojador, a qual foi já feita por instigação do
príncipe João, a quem se tinha feito a mercê dos ditos trautos desde Maio deste ano. Segundo Duarte Pacheco Pereira
a distância que vai da Serra Leoa até ao cabo de Santa cCtarina era de 650
léguas (c. 3843 km; 2077,7 milhas).
O início do governo ultramarino do príncipe João e a carta de
Toscanelli
Fernando Martins notabilizou-se porque em 1474 enviou uma carta a Toscanelli em nome de Afonso V mas na realidade
tê-lo-ia feito a pedido do príncipe João, pois tal acto surge pouco tempo
depois da ocasião em que este foi encarregado pelo pai dos feitos das partes de Guiné e investigação dos mares, terras, gentes
e cousas delas que aos viventes agora e aos que nos precederam foram sempre
muito ignotos até o tempo do infante Dom Henrique e tinha em vista o que se ao diante em qualquer tempo achar e
descobrir. Estas expressões apontam para o retomar de uma linha de
continuidade com o processo iniciado pelo infante e estão registadas na carta
de confirmação daquele encargo que foi passada por Afonso V ao filho a 4 de
Maio de 1481, nela se
explicitando que foi passada porque ao ser-lhe atribuído o cargo em 1474 não lhe foi então delo feita carta. A circunstância do dia 4 de
Maio de 1481 corresponder ao dia
seguinte ao do aniversário daquele que em breve seria o rei João II, nascido a 3
de Maio de 1455, leva-nos a admitir
que a doação inicial deste cargo foi feita de forma verbal talvez a 3 de Maio
de 1474, pois nessa confirmação alegou-se
que o príncipe sendo já em idade de
dezanove anos não tinha algum tal cargo, pelo que o rei decidira atribuir-lhe
aquela importante e lucrativa atividade. Esta realidade é confirmada pela
circunstância de na documentação da década de 70 do século XV só depois de Maio
de 1474 é que o príncipe começou a
ser expressamente mencionado nas decisões relativas a iniciativas ultramarinas
como estando delas encarregado.
Considerando a proximidade das datas de 3 de Maio de 1474,em que João teria tomado posse do cargo de responsável pelos assuntos da
Guiné, e de 25 de Junho de 1474,
em que Toscanelli respondeu a Fernando Martins, somos levados a sugerir a possibilidade
de ter sido logo em Maio de 1474 que
o príncipe expressou a sua curiosidade
e interesse em saber qual seria a melhor forma de atingir as Índias procuradas
desde o tempo do seu tio-avô infante Henrique». In José Manuel Garcia, D. João II
vs Colombo, Duas Estratégias divergentes na busca das Índias, Quidnovi, 2012,
Vila do Conde, ISBN 978-989-554-912-2.
Cortesia de Quidnovi/JDACT