O meu sentimento é cinza
da minha imaginação,
e eu deixo cair a cinza
no cinzeiro da Razão.
Já estou tranquilo. Já não espero nada.
Já sobre meu vazio coração
desceu a inconsciência abençoada
de nem querer uma ilusão.
Desce a névoa da montanha,
desce ou nasce ou não sei quê…
Minha alma é a tudo estranha,
quando vê, vê que não vê.
Mais vale a névoa que a vida…
Desce, ou sobe: enfim, existe.
E eu não sei em que consiste
ter a emoção por vivida,
e, sem querer, estou triste.
Poema de Fernando Pessoa, in ‘Novas
Poesias Inéditas’