À Beleza
Não tens corpo, nem pátria, nem família,
não te curvas ao jugo dos tiranos.
Não tens preço na terra dos humanos,
nem o tempo te rói.
És a essência dos anos,
o que vem e o que foi.
És a carne dos deuses,
o sorriso das pedras,
e a candura do instinto.
És aquele alimento
qe quem, farto de pão, anda faminto.
És a graça da vida em toda a parte,
ou em arte,
ou em simples verdade.
És o cravo vermelho,
ou a moça no espelho,
que depois de te ver se persuade.
És um verso perfeito
que traz consigo a força do que diz.
És o jeito
que tem, antes de mestre, o aprendiz.
És a beleza, enfim. És o teu nome.
Um milagre, uma luz, uma harmonia,
uma linha sem traço...
Mas sem corpo, sem pátria e sem família,
tudo repousa em paz no teu regaço.
não te curvas ao jugo dos tiranos.
Não tens preço na terra dos humanos,
nem o tempo te rói.
És a essência dos anos,
o que vem e o que foi.
És a carne dos deuses,
o sorriso das pedras,
e a candura do instinto.
És aquele alimento
qe quem, farto de pão, anda faminto.
És a graça da vida em toda a parte,
ou em arte,
ou em simples verdade.
És o cravo vermelho,
ou a moça no espelho,
que depois de te ver se persuade.
És um verso perfeito
que traz consigo a força do que diz.
És o jeito
que tem, antes de mestre, o aprendiz.
És a beleza, enfim. És o teu nome.
Um milagre, uma luz, uma harmonia,
uma linha sem traço...
Mas sem corpo, sem pátria e sem família,
tudo repousa em paz no teu regaço.
Da Realidade
Que renda fez a tarde no jardim,
que há cedros que parecem de enxoval?
Como é difícil ver o natural
quando a hora não quer!
Ah! não digas que não ao que os teus olhos
colham nos dias de irrealidade.
Tudo então é verdade,
toda a rama parece
um tecido que tece
a eternidade.
que há cedros que parecem de enxoval?
Como é difícil ver o natural
quando a hora não quer!
Ah! não digas que não ao que os teus olhos
colham nos dias de irrealidade.
Tudo então é verdade,
toda a rama parece
um tecido que tece
a eternidade.
Cântico de Humanidade
Hinos aos deuses, não.
Os homens é que merecem
que se lhes cante a virtude.
Bichos que lavram no chão,
actuam como parecem,
sem um disfarce que os mude.
Apenas se os deuses querem
ser homens, nós os cantemos.
E à soga do mesmo carro,
com os aguilhões que nos ferem,
nós também lhes demonstremos
que são mortais e de barro.
Os homens é que merecem
que se lhes cante a virtude.
Bichos que lavram no chão,
actuam como parecem,
sem um disfarce que os mude.
Apenas se os deuses querem
ser homens, nós os cantemos.
E à soga do mesmo carro,
com os aguilhões que nos ferem,
nós também lhes demonstremos
que são mortais e de barro.
Poemas de Miguel Torga, in 'Odes' e 'Nihil
Sibi'’
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