«Eu gosto da paisagem. Mas amo-a duma maneira
casta, comovida, sem poder macular a sua intimidade em descrições a vintém por
palavra. Chego a uma terra e não resisto: tenho de me meter pelos campos fora,
pelas serras, pelos montes, saber das culturas, beber o vinho e provar o pão. E
quando anoitece volto, como agora, cheio do enigma que fez cada região do seu
feitio, tal e qual como pôs nas costas do dromedário aquela incrível marreca, e
no pescoço do leão aquela fantástica juba». In Miguel Torga
«A
paisagem faz a raça. A Holanda é uma terra pacífica e serena, porque a sua
paisagem é larga, plana e abundante. A paisagem que fez o grego, era o mar,
reluzente e infinito, o céu, sereno, transparente, doce, e destacando-se sob
aquela imobilidade azul, um templo branco, puro, augusto, rítmico, entre a
sombra que faz um grupo de oliveiras. A paisagem do romano é toda jurídica: as
terras ásperas, a perder de vista, separadas por marcos de tijolo; uma grande
charrua puxada por búfalos, vai passando entre os trigos; uma larga estrada
lajeada, eterna, sobre a qual rolam as duas altas rodas maciças dum carro
sabino; uma casa coberta de vinha branqueja ao longe, na planície. Não importa
a cor do céu: o romano não olha para o céu. A raça anglo-saxónica tira a sua
tenebrosa mitologia, o seu espírito inquieto, da sua paisagem escura,
acidentada, desolada e romântica. É o estreito e árido aspecto do vale de
Jerusalém que fez o judeu». In Eça de
Queirós
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