quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

A Mensagem dos Construtores de Catedrais. Christian Jacq. «Está por todo o lado, com um olhar rude e provocante, a boca sempre pronta para injúria. Para São Bernardo, Roma será o lugar da mais vil matéria»

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Do Tempo das Pirâmides ao Tempo das Catedrais. Viagens ou Comunhão de Espírito?
«(…) Jóias, manuscritos, marfins, provenientes em grande quantidade do Egipto copta, veiculavam mesmo expressões bem mais antigas. Refiramos, por exemplo, um pormenor ínfimo mas bastante característico: nos papiros egípcios, os primeiros hieróglifos de um capítulo eram desenhados a tinta vermelha. O mesmo se fazia nas obras litúrgicas dos cristãos, de que nos ficaram as rubricas, isto é, os vermelhos. Existem relações comprovadas entre o Egipto e a Europa a partir de 2000 a.C., o que não será mais que uma aproximação de uma data certamente bastante mais recuada. Por volta do ano 1000 d. C., período essencial para o desenvolvimento da arte medieval, as escolas clericais alemãs estabelecem contactos estreitos com artesãos egipto-bizantinos. A mão e o espírito associam-se, as tradições misturam-se.

O papel dos monges
Guillaume Saint-Thierry, um cisterciense, falando sobre os monges de Mont-Dieu, afirma: Eles trazem para as trevas do Ocidente a luz do Oriente e, para o frio das celas, o fervor religioso do antigo Egipto. Nada poderia ser mais claro. Os mosteiros e as suas escolas desempenharam um papel fundamental na formação dos Mestres de Obras e da sua consciência do símbolo. Ora estes mosteiros tinham criado regras de vida baseadas no modelo egípcio. Nos séculos IV e V da nossa era, Roma não é, de facto, o modelo da cristandade: é antes considerada uma capital depravada. Bastará citar São Jerónimo, que, numa epístola traça este terrível retrato de um padre romano: está a pé logo desde o romper do dia. Ordena que lhe seja apresentada a lista das visitas a fazer, estuda os atalhos a tomar e põe-se a caminho a horas pouco próprias. Pouco tempo depois, o indiscreto velho começa a penetrar nos quartos de dormir. Se vê uma almofada, uma toalha ou qualquer peça de mobiliário, elogia, admira e acaba quase por extorquir à força a peça que pretende... Está por todo o lado, com um olhar rude e provocante, a boca sempre pronta para injúria. Para São Bernardo, Roma será o lugar da mais vil matéria. Para Dante, a grande prostituta do Apocalipse. Não é seguramente em Roma que as comunidades dignas desse nome podem encontrar um modelo a seguir. Lérins, escreve Santo Eucher no princípio do século V, possui santos anciãos que trouxeram para a nossa Gália os padres do Egipto, ao viverem como eles. Foi, portanto, em Lérins, em Arles, sob a influência de Honorato, em Marselha, sob a de Cassiano, e em outros locais que fundaram mosteiros conformes aos ensinamentos egípcios. Dois homens, dois egípcios, estão na origem deste vasto movimento: Horseisis, cujo nome significa Horus, filho de Ísis, e sobretudo Pacómio, o sacerdote do deus Chem ou o de Khnoum.
Em Tabenna, no Egipto, Pacómio fundou um complexo formado por uma igreja, um mosteiro e oficinas, enquanto a sua própria irmã fazia o mesmo para as mulheres. Assim nasceram o Abade e a Abadessa. Quando Pacómio morreu, em 346, a casa-mãe contava cerca de três mil membros. No século V seriam cinquenta mil os membros desta ordem de origem egípcia. A partir de 340, Atanásio, o grande bispo de Alexandria, difundiria o monaquismo egípcio para o Ocidente». In Christian Jacq, Le Message des Constructeurs de Cathédrales, Éditions du Rocher, 1980, A Mensagens dos Construtores de Catedrais, Instituto Piaget, Romance e Memória, Lisboa, 1999, ISBN 972-771-129-4.

Cortesia  de IPiaget/JDACT