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O 4º conde de Ourém realizou ao longo da sua vida cinco grandes viagens, quatro
no âmbito de missões diplomáticas e a última em missão militar: em 1429-30
viajou pela Flandres e pela Alemanha, fazendo parte da comitiva que acompanhou
a Infanta dona Isabel aos Países Baixos, para casar com Filipe, o Bom, duque da Borgonha; em 1431 esteve
no reino de Aragão, possivelmente a negociar o acordo de paz entre Navarra,
Aragão e Portugal, assinado em Torres Novas a 11 de Agosto de 1432; em 1436-38
foi o responsável pela embaixada portuguesa ao Concílio de Basileia, tendo
viajado por Itália e ido, finda a missão, até à Terra Santa; em 1451-52,
estadeou novamente por Itália, tendo sido o responsável da comitiva que foi até
Roma com a infanta dona Leonor, irmã de Afonso V, casar com o imperador do
Sacro Império Germânico, Frederico III; ao que tudo indica, terá depois
acompanhado a noiva até à Alemanha; e em 1458, foi o responsável pela
organização, no Porto, de uma das armadas da expedição a Marrocos, tendo tomado
parte da conquista de Alcácer Ceguér, ao lado de Afonso V, seu primo e último
rei que serviu.
A
razão pela qual considerámos importante estudar as viagens que o 4º conde Ourém
realizou, prende-se como facto deste nobre ter edificado entre 1436 e 1455, nos
seus domínios, uma notável e singular obra mecenática, numa acção irrepetível
em grandeza e originalidade para a época, que se materializou na remodelação
urbana de Ourém, sua vila condal, com a redefinição do perímetro muralhado, a
construção de uma fonte pública, um paço e uma colegiada, da edificação de um
outro paço em Porto de Mós, remodelando para tal o primitivo castelo românico,
e a encomenda e aquisição de obras de arte, nomeadamente um Relicário (notável
peça da ourivesaria portuguesa do século XV, é de tipo invulgar, pois alia a
existência da habitual arca a um pé mais próprio de custódia que de qualquer
outro objecto de culto) em prata dourada, destinadas a embelezar e engrandecer
as obras de arquitectura por ele edificadas (a antiga vila de Ourém é actualmente
uma das freguesias do concelho de Vila Nova de Ourém, Nossa Senhora das
Misericórdias: o antigo aglomerado, situado no alto de um morro com 328m de
altura, perdeu importância a partir do final do século XVIII, pois o terramoto
de 1755 quase que o destruiu por completo, obrigando a população a mudar-se
para a freguesia mais próxima, a Aldeia da Cruz, situada no sopé do monte e que
a partir de1841 passou a ser a nova sede do concelho; o perímetro da antiga
Ourém, praticamente inalterado desde então e cuja definição ficou estabelecida
desde as obras levadas a cabo por Afonso, permite ter uma ideia muito
aproximada de como era esta singular vila no século XV; a Fonte pública
apresenta-se muito bem conservada e ainda hoje da sua bica jorra abundante e
fresca água; o edifício da Colegiada ruiu por completo em 1755, tendo o actual
sido construído entre 1760 e 1770, com projecto de Carlos Mardel; da construção
original apenas restou a Cripta, onde o 4º conde de Ourém foi sepultado em 1487,
num túmulo de autoria de Diogo Pires-o-Velho; o Paço que Afonso mandou edificar
junto ao primitivo castelo da vila, constituído pelo edifício de habitação
propriamente dito e duas torres baluarte que assentam na muralha, apesar de
bastante danificado revela uma imagem de grandiosidade que marca a paisagem; as
torres foram restauradas durante os anos 40-50 do século XX e apresentam-se num
razoável estado de conservação; o mesmo não se pode dizer de significativos
troços da muralha. Quanto ao edifício do paço, não tem cobertura e o interior está
quase totalmente esventrado; resta apenas um pavimento, a que se pode aceder,
com algumas paredes interiores onde é ainda possível ver algumas portas com o
respectivo aro, paredes exteriores com a marcação dos respectivos vãos, algumas
conversadeiras e vestígios de lareiras; no conjunto sobressai um original e
razoavelmente bem conservado friso decorativo, aposto na fachada norte do
edifício, assim como uma varanda e respectivos apoios que o rematam; quanto ao
paço que Afonso mandou edificar em Porto de Mós, remodelando o interior
do primitivo castelo românico, estava no início do século XIX quase
completamente caído por terra; foi alvo do interesse da Direcção Geral dos
Edifícios e Monumentos Nacionais que nele levaram a cabo, a partir dos anos 30
do século XX, obras de restauro que se prolongaram por mais de 50 anos; algumas
intervenções, nos anos 40-50 fizeram desaparecer para sempre muito do que tinha
resistido à degradação que o tempo e os homens exerceram; da obra
quatrocentista podemos ainda ver a grande varanda voltada a sul e o pátio
interior, originalmente porticado, de que restam alguns elementos de suporte de
desenho muito original, assim como é possível ter ainda uma ideia global da
intervenção levada a cabo no século XV)». In Alexandra Leal Barradas, D. Afonso, 4º
conde de Ourém, Revista Medievalista, director Vasconcelos Sousa, Ano 2, Nº 2, Instituto
de Estudos Medievais, FCSH-UNL, FCT, 2006, ISSN 1646-740X.
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