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Os Colégios Universitários
«(…) Mais à frente no capítulo
far-se-á uma análise aos colégios que vão modificar a imagem da Rua, mas antes
há a referir as transformações profundas que o Paço Real, sofrera até à data,
desde o século XVI, começando pelo Manuelino, passando pelo Renascimento, até
ao Barroco. Na época de Manuel I, entre 1517 e 1522, o corpo do palácio foi
reformado, salientando-se também a capela real e a sala grande de Marcos Pires,
e os torreões de defesa embelezados. Já no reinado de João III, em 1535, os
Estudos mudam para os Paços Reais e em 1537, a Universidade estabelece-se
definitivamente em Coimbra. Em 1561 é edificada a torre horária de João de
Ruão, situada no ângulo noroeste do terreiro, representada na vista de Coimbra
por Pier Maria Baldi, e figurada numa porta dos Gerais por Laprade. Em 1570, o
Colégio de S. Pedro instala-se na ala nascente do Paço e em 1634, a antiga
porta fortificada é substituída pela Porta Férrea. Posteriormente ainda
é reformada a sala do exame e reconstruída a Sala dos Capelos. Nos
documentos gráficos as representações do Paço das Escolas, foram feitas a
partir das reconstituições de António Pimentel, tendo em conta as novas adições
até à data. Os colégios em seguida analisados, construídos entre 1550 e 1678, eram
bastante diversificados, quer pelo seu modo de funcionamento, quer pela organização
espacial e relação com o espaço exterior, por vezes tendo capelas interiores ou
igrejas servindo o público. O Colégio Real de S. Paulo Apóstolo, começou a ser
construído a partir de 1550 a mando de João III, no terreno onde existiam os
Estudos Velhos e as suas casas arruinadas. A inauguração deu-se em 1563, e dele
saíram homens eminentes, de grande importância para o país. Através dos
desenhos das plantas e das fachadas do Colégio pelo arquitecto Azzolini e do
perímetro de implantação do edifício visíveis na planta de 1873-74, foi feita
uma reconstituição que se aproximará bastante do seu aspecto original. Era um
colégio secular, por oposição aos colégios regulares, das ordens.
Organizava-se em torno de um pátio central, que curiosamente não tinha nenhuma
arcaria de distribuição para as várias dependências. Ocupava praticamente um
quarteirão e tinha capela interior. O Colégio de S. Jerónimo começou a
funcionar em 1550, numas casas adquiridas a norte do Castelo, mas em 1565
adquiriram mais terreno e projectaram um edifício condigno. A sua fachada
oriental ergueu-se sobre a muralha da cidade, desde a porta do Castelo, à qual
ficou encostada a igreja, obra de Diogo de Castilho, continuando-se o
dormitório em direcção ao Norte.
Ainda
hoje se reconhece bem delimitado o edifício, com seus cubelos de reforço na fachada
oriental. A representação feita nos documentos gráficos tem como base a
reconstituição do colégio por Rui Lobo na obra Os Colégios de Jesus, das
Artes e de S. Jerónimo através de plantas e axonometria. Todavia o alçado
Sul é modificado em função da já referida presença da torre da porta do
Castelo. O Colégio de S. Bento era o maior e mais importante colégio na alta da
cidade, exceptuando o Colégio de Jesus. Em 1576 haviam começado as obras do
edifício, sendo que a igreja foi a última parte a ser construída, tendo sido
sagrada em 1634. O projecto inicial do colégio talvez fosse constituído por
dois pátios, mas entre 1568 e 1570 foi construído o aqueduto de S. Sebastião,
do engenheiro Filipe Terzio, em parte na propriedade dos beneditinos, o que os obrigou
a fazer uma parede no lado nascente para encerrar o conjunto. Quanto à Igreja,
toda a nave é um primor de arquitectura, que desde logo detém os olhos de quem
entra. A sua abóbada em forma de berço, formando caixotões, é de uma riqueza
e formosura singulares no dizer do crítico alemão Albrecht Haupt.
Na
parte gráfica do trabalho tentou-se aproximar o colégio do seu aspecto original
através de uma planta truncada de 1764, que revela parte do colégio, mas também
pelo desenho de Baldi, onde se vê a parte ocidental, revelando a existência
duma galeria com vista para o rio. O Colégio de S. João Evangelista ou dos
Lóios instalou-se em 1548 no arrabalde da cidade. Contudo viriam a mudar-se
para o bairro alto da cidade. Adquiridos os terrenos, o colégio construiu-se
entre 1631 e 1638. O edifício, em parte com organização claustral, estende-se contudo,
até ao Largo da Feira, mostrando aí a sua fachada principal de 5 pisos,
bastante trabalhada. Pelo contrário, às outras fachadas não se concedeu a mesma
dignidade. Da Rua Larga, tendo aqui apenas dois andares, far-se-ia o acesso
directo ao claustro. A partir da documentação fotográfica encontrada,
reconstituiu-se em planta o perímetro e o claustro, e imaginou-se uma fachada
para a Rua Larga. A primeira pedra do Colégio de S. Boaventura foi colocada em
1665 e em 1678 deu-se por concluída a obra». In Rúben Neves Silva Vilas Boas,
A Rua Larga de Coimbra. Das Origens à Actualidade, Mestrado em Arquitectura,
Departamento de Arquitectura da FCTUC, Coimbra, 2010.
Cortesia
da UCoimbra/JDACT