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Os
Colégios Universitários
«(…)
O edifício organizava-se em torno de um claustro e tinha a serventia principal para
a Rua dos Lóios, tanto do colégio como da igreja, como descreve o inventário
aquando da extinção. A planta do século XIX revela provavelmente uma realidade
próxima da original e uma fotografia permite ver o aspecto de parte do edifício
antes da transformação que sofreu no século XX. Restou, assim, criar uma
possível imagem para a igreja, sendo que o portal do sucessor Instituto de
Antropologia, segundo António Vasconcelos, não terá sido aproveitado do antigo colégio.
A par da construção dos colégios universitários, também se construíram casas
particulares sob uma forma renovadora. O fundo construtivo corresponde a um
tipo de casas que apresenta como característica própria, janelas de avental
rectangular, correspondendo estas, à segunda metade do século XVI, a todo o
século XVII e ainda aos começos do século XVIII. O Castelo, destituído das suas
funções defensivas, utilizou-se para várias funções de interesse para a cidade.
Foi prisão e quartel, nos séculos XVI e XVII. Num desenho do século XVIII, de Guilherme
Elsden, em que este adapta a Torre de Menagem a observatório, são visíveis, uma
janela gótica, e duas aberturas superiores. Desenho que contribuiu para a
reconstituição do Castelo nesta época.
1799.
As reformas e projectos do século XVIII
Neste
capítulo abordar-se-á não só as alterações consumadas ao longo da Rua Larga,
mas também os projectos que não chegaram a ser executados ou foram
interrompidos, que lhe dariam um carácter mais monumental. Desde o início de
Setecentos que o crescimento económico-demográfico e o desenvolvimento científico-técnico
vinham impulsionando importantes alterações sociais e culturais. A filosofia iluminista,
racional, humanista, defendia o progresso com base no desenvolvimento da
ciência e da técnica. Em Coimbra, a Reforma Pombalina da Universidade teve esse
papel, introduzindo também uma nova linguagem arquitectónica, a do
neoclassicismo. Contudo, o início do século foi marcado ainda pelo barroco e as
suas influências nas obras do Paço das Escolas. O Paço das Escolas, no decorrer
do século XVIII verá grandes modificações, que lhe darão um aspecto próximo
daquilo que encontramos hoje. As obras mais importantes foram a Via Latina, a construção
da Biblioteca, a nova torre da Universidade e, inseridas na Reforma Pombalina,
a remodelação dos Gerais do alçado norte do terreiro. O frontispício da Via
Latina, com a composição escultórica de Laprade é construído em 1700/01,
garantindo um corpo central com dignidade àquela fachada. A construção da Biblioteca,
entre 1716 e 1728, juntamente com as Escadas de Minerva, constituem uma significativa
adição pela sua envergadura, fechando o conjunto edificado da ala poente. A sumptuosidade
da decoração barroca do interior da biblioteca, contrasta com a simplicidade da
própria organização espacial e do exterior. Substituindo a antiga torre de
Ruão, António Canevari, arquitecto romano, concebe uma nova, com cerca de 34
metros de altura. Torre sineira e horária, de linhas severas quebradas apenas
pelo delicado frontão, teve um raro acabamento em terraço, a fim de nele
instalar um observatório. Além das funções para a comunidade escolar, é um símbolo
de identidade. Entre 1770 e 1779 foi construído todo o alçado norte do Terreiro
da Universidade. O velho edifício ganhava assim uma nova fachada. O plano de
intervenção da Reforma Pombalina, embora se tenha feito sentir em outras obras como
o Laboratório Químico, a transformação do Colégio de Jesus ou o Jardim Botânico,
ficou aquém da expressão de autonomia e monumentalidade que poderia ter tido,
se o colossal Observatório Astronómico, no início da Rua Larga, tivesse sido
concluído.
Guilherme
Elsden desenvolve, em duas versões conhecidas, o projecto do edifício. A
segunda versão, a definitiva, é aprovada em 1773, um volume com dois pisos,
porticado no piso térreo, e encimado por um corpo recuado onde se eleva, ao
centro da composição, a torre do Observatório. O edifício, confrontando o
Colégio de S. Jerónimo, abrir-se-ia ao extenso território que se desenvolvia a
Norte e a Nascente. A galeria do piso térreo, em cantaria de junta fendida,
clarificava a função urbana de porta: iniciar o acesso à Rua Larga e prolongar
o Passeio Público que vinha desde o já idealizado Jardim Botânico. A primeira
versão, um volume com três pisos, organizava-se a partir do aproveitamento das
duas torres do antigo castelo de Coimbra, enquadradas nos topos. Uma solução
que foi abandonada pela dificuldade em integrá-las. No entanto, após a
demolição do castelo medieval e a conclusão do piso térreo do novo edifício,
interrompeu-se o ambicioso projecto. Por razões financeiras e técnicas,
optou-se por construir um outro Observatório, de menor dimensão, no topo Sul do
Pátio das Escolas. Da colaboração do arquitecto Manuel Alves Macomboa com o
professor José Monteiro Rocha, surgirá o projecto definitivo. A forma final é
constituída por um corpo horizontal com um piso e cobertura plana, e uma torre
com três pisos definida a partir do vão central, também com cobertura plana. Em
1791 o projecto é aprovado, em 1799 o edifício concluído». In Rúben Neves Silva Vilas Boas,
A Rua Larga de Coimbra. Das Origens à Actualidade, Mestrado em Arquitectura,
Departamento de Arquitectura da FCTUC, Coimbra, 2010.
Cortesia
da UCoimbra/JDACT