domingo, 14 de fevereiro de 2016

A Rua Larga. Coimbra. Das Origens à Actualidade. Rúben Vilas Boas. «Entre 1770 e 1779 foi construído todo o alçado norte do Terreiro da Universidade. O velho edifício ganhava assim uma nova fachada»

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Os Colégios Universitários
«(…) O edifício organizava-se em torno de um claustro e tinha a serventia principal para a Rua dos Lóios, tanto do colégio como da igreja, como descreve o inventário aquando da extinção. A planta do século XIX revela provavelmente uma realidade próxima da original e uma fotografia permite ver o aspecto de parte do edifício antes da transformação que sofreu no século XX. Restou, assim, criar uma possível imagem para a igreja, sendo que o portal do sucessor Instituto de Antropologia, segundo António Vasconcelos, não terá sido aproveitado do antigo colégio. A par da construção dos colégios universitários, também se construíram casas particulares sob uma forma renovadora. O fundo construtivo corresponde a um tipo de casas que apresenta como característica própria, janelas de avental rectangular, correspondendo estas, à segunda metade do século XVI, a todo o século XVII e ainda aos começos do século XVIII. O Castelo, destituído das suas funções defensivas, utilizou-se para várias funções de interesse para a cidade. Foi prisão e quartel, nos séculos XVI e XVII. Num desenho do século XVIII, de Guilherme Elsden, em que este adapta a Torre de Menagem a observatório, são visíveis, uma janela gótica, e duas aberturas superiores. Desenho que contribuiu para a reconstituição do Castelo nesta época.

1799. As reformas e projectos do século XVIII
Neste capítulo abordar-se-á não só as alterações consumadas ao longo da Rua Larga, mas também os projectos que não chegaram a ser executados ou foram interrompidos, que lhe dariam um carácter mais monumental. Desde o início de Setecentos que o crescimento económico-demográfico e o desenvolvimento científico-técnico vinham impulsionando importantes alterações sociais e culturais. A filosofia iluminista, racional, humanista, defendia o progresso com base no desenvolvimento da ciência e da técnica. Em Coimbra, a Reforma Pombalina da Universidade teve esse papel, introduzindo também uma nova linguagem arquitectónica, a do neoclassicismo. Contudo, o início do século foi marcado ainda pelo barroco e as suas influências nas obras do Paço das Escolas. O Paço das Escolas, no decorrer do século XVIII verá grandes modificações, que lhe darão um aspecto próximo daquilo que encontramos hoje. As obras mais importantes foram a Via Latina, a construção da Biblioteca, a nova torre da Universidade e, inseridas na Reforma Pombalina, a remodelação dos Gerais do alçado norte do terreiro. O frontispício da Via Latina, com a composição escultórica de Laprade é construído em 1700/01, garantindo um corpo central com dignidade àquela fachada. A construção da Biblioteca, entre 1716 e 1728, juntamente com as Escadas de Minerva, constituem uma significativa adição pela sua envergadura, fechando o conjunto edificado da ala poente. A sumptuosidade da decoração barroca do interior da biblioteca, contrasta com a simplicidade da própria organização espacial e do exterior. Substituindo a antiga torre de Ruão, António Canevari, arquitecto romano, concebe uma nova, com cerca de 34 metros de altura. Torre sineira e horária, de linhas severas quebradas apenas pelo delicado frontão, teve um raro acabamento em terraço, a fim de nele instalar um observatório. Além das funções para a comunidade escolar, é um símbolo de identidade. Entre 1770 e 1779 foi construído todo o alçado norte do Terreiro da Universidade. O velho edifício ganhava assim uma nova fachada. O plano de intervenção da Reforma Pombalina, embora se tenha feito sentir em outras obras como o Laboratório Químico, a transformação do Colégio de Jesus ou o Jardim Botânico, ficou aquém da expressão de autonomia e monumentalidade que poderia ter tido, se o colossal Observatório Astronómico, no início da Rua Larga, tivesse sido concluído.
Guilherme Elsden desenvolve, em duas versões conhecidas, o projecto do edifício. A segunda versão, a definitiva, é aprovada em 1773, um volume com dois pisos, porticado no piso térreo, e encimado por um corpo recuado onde se eleva, ao centro da composição, a torre do Observatório. O edifício, confrontando o Colégio de S. Jerónimo, abrir-se-ia ao extenso território que se desenvolvia a Norte e a Nascente. A galeria do piso térreo, em cantaria de junta fendida, clarificava a função urbana de porta: iniciar o acesso à Rua Larga e prolongar o Passeio Público que vinha desde o já idealizado Jardim Botânico. A primeira versão, um volume com três pisos, organizava-se a partir do aproveitamento das duas torres do antigo castelo de Coimbra, enquadradas nos topos. Uma solução que foi abandonada pela dificuldade em integrá-las. No entanto, após a demolição do castelo medieval e a conclusão do piso térreo do novo edifício, interrompeu-se o ambicioso projecto. Por razões financeiras e técnicas, optou-se por construir um outro Observatório, de menor dimensão, no topo Sul do Pátio das Escolas. Da colaboração do arquitecto Manuel Alves Macomboa com o professor José Monteiro Rocha, surgirá o projecto definitivo. A forma final é constituída por um corpo horizontal com um piso e cobertura plana, e uma torre com três pisos definida a partir do vão central, também com cobertura plana. Em 1791 o projecto é aprovado, em 1799 o edifício concluído». In Rúben Neves Silva Vilas Boas, A Rua Larga de Coimbra. Das Origens à Actualidade, Mestrado em Arquitectura, Departamento de Arquitectura da FCTUC, Coimbra, 2010.

Cortesia da UCoimbra/JDACT