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O
peregrino
«(…)
Em volta da ampla sala, e ao longo das paredes, estavam sentados uns cinquenta
frades. Na frente daquele semicírculo elevava-se um estrado, onde estavam
marcados os lugares correspondentes a sete cadeiras. Seis delas estavam
ocupadas, sétima estava devoluta. Ao entrarem na sala o peregrino e o seu guia,
todos se voltaram para a porta. Grande foi o espanto de todos ao verem que o
desconhecido em vez de esperar humildemente à porta que lhe fosse concedido o
ingresso, dirigiu-se directamente, e sem a mínima hesitação, para a bancada dos
senhores, evidentemente destinada para os chefes da reunião. Fora!..., fora!...,
gritavam de muitos lados. Alguns daqueles mascarados levantaram-se e chegaram a
levar a mão ao copo das espadas, que se desenhavam rigidamente sob as túnicas
negras; mas o peregrino, impávido como se todos aqueles protestos não fossem
com ele, prosseguia no seu caminho, chegou ao estrado onde estavam sentados os
chefes. Estes ergueram-se, movidos por um impulso unânime, como para embargarem
o passo ao recém-vindo. O peregrino parou; tirou do peito uma medalha e
mostrou-a os seis. Um grito de espanto e alegria saiu daqueles seis peitos;
depois com demonstrações inequívocas de respeito e afeição, conduziram o
peregrino ao sétimo lugar, que estava vago. A personagem ocupou modestamente
aquele lugar preeminente, como pessoa acostumada às honras, e não pareceu
comovido pelo triunfo, como não se mostrara impressionado pelas ameaças com que
o tinham recebido. Pela multidão corriam vozes de surpresa e espanto. O sétimo
chefe! Aquele que nós julgávamos morto! O mais audaz, o mais forte de todos!
Agora os templários caminharão avante! O núcleo das nossas forças revigorou-se!
Entretanto, um dos sete, o que estava no meio e que parecia por essa razão ter
a presidência, levantou-se. Viu-se então um homem de nobre e majestosa
estatura: uma comprida barba branca escapava-se-lhe por baixo do capuz, que o
presidente levantara um pouco para falar. Irmãos, disse ele, as portas estão
bem guardadas?... Um anjo do extermínio vela a cada uma delas?... Sim,
responderam das quatro portas da sala quatro homens, que, de espada na mão,
guardavam as entradas. Somos nós todos irmãos?... Há entre nós algum
desconhecido, algum de quem o sagrado nomeador não saiba o nome? Poderemos nós
ter receio de sermos traídos?... Um dos frades levantou-se e caminhou até meio
da sala. A todos conheço e afianço, disse ele, excepto ao desconhecido, que
está sentado ao teu lado. O velho ergueu a mão, como para dizer que sabia do
que tratava, e prosseguiu assim: se entre nós há algum tímido ou medroso; se há
aqui alguém, que não tenha a coragem de assistir aos terríveis mistérios da
nossa ordem, esse que jure guardar silêncio e que retire. Mais tarde não lhe
seria isso permitido, e a cobardia e a traição seriam punidas com a morte. Ninguém
se moveu. Todos os indivíduos ali reunidos eram homens de rija têmpera e de fé
inquebrantável, que já cem vezes tinham ouvido aquela advertência, sem que lhes
estremecesse os corações de bronze. Agora, que estamos aqui todos
experimentados e invencíveis na nossa fé, concluiu ele, é tempo de descobrirmos
os rostos e do nos vermos abertamente. Senhores, está aberta a sessão dos Cavaleiros
Templários!
A
assembleia dos templários
A um
sinal do ancião os capuzes e as túnicas desapareceram como por encanto. Viram-se
então naquela sala homens de várias idades, de fisionomias diversas, mas todos
uniformemente cobertos de reluzente aço. Vestiam todos a armadura completa dos
cavaleiros da Idade Média, tendo sôbre-vestida uma túnica. Na couraça de cada
um brilhava a cruz de ouro, distintivo da ordem do Templo. Eram aqueles, com
efeito, os únicos da poderosa associação, que fizera tremer a Europa, e que, na
opinião do vulgo, fora destruída havia dois séculos. O que era, porém, verdade
era que, com aquela força invencível, que provém do segredo e das riquezas, os
Templários se tinham perpetuado obscuramente através dos séculos, vencendo
perigos inauditos, conservando e guardando o segredo no meio dos tormentos, com
os olhos sempre postos num futuro, que, por muito distante, teria feito
desanimar qualquer outro, mas que não conseguia desanimar aqueles homens de
ferro. Reunidos, estavam sem máscara; conheciam-se todos e sabiam quais eram as
qualidades e o poder de cada um. Quase todos usavam na sociedade um nome
aclamado e respeitado; muitos deles, quer pelo talento, quer pela espada,
ocupavam nas cortes dos reis da Europa posições distintíssimas. E por isso as
forças daqueles trabalhadores da sombra iam-se estendendo cada vez mais, e os
chefes aguardavam com um frémito de esperança o momento em que a sua ordem,
convertida em soberana, poderia retomar à face da Europa e do mundo o lugar que
lhe competia». In Ernesto Mezzabota, O Papa Negro, 1947, tradução de Adolfo Portela, Brasil, Exilado dos Livros, Epub, 2001, ISBN 858-671-001-6.
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