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de wikipedia
«(…)
Apelar para os críticos tornaria fútil esta investigação, pois eles consideram
o relato evangélico dos ensinos e actividades de Cristo quanto ao sábado, não
como autênticos factos históricos mas como reflexões posteriores da Igreja
primitiva. Afirmam que é impossível saber o que o próprio Jesus pensava a
respeito. Não vemos nenhuma justificativa para este cepticismo histórico,
especialmente porque uma nova busca do Cristo histórico lança sombras sobre a
metodologia anterior e promete encontrar nos Evangelhos um número muito maior
de autênticos feitos e palavras de Jesus. Entretanto, mesmo se os materiais dos
Evangelhos representassem reflexões posteriores da comunidade cristã, este facto
não diminui o seu valor histórico. Ainda assim se constituem numa fonte valiosa
para o estudo da atitude da Igreja primitiva quanto ao sábado. Na verdade, o
espaço considerável e a atenção dada pelos escritores dos Evangelhos a curas
realizadas por Cristo no sábado (não menos que sete episódios estão registados;
os sete milagres aos sábados são, o paralítico em Betesda, o endemoninhado na sinagoga,
a sogra de Pedro, o homem com a mão ressequida, o cego de nascença, a mulher
enferma, a cura do hidrópico) e controvérsias, são indicativos de quão importante
era a questão do sábado na época em que foram escritos. Um bom lugar para
iniciar a nossa pesquisa sobre o conceito de Cristo a respeito do sábado é talvez
o quarto capítulo do Evangelho de Lucas. Aí encontramos excertos do sermão de
Cristo pregado na sinagoga de Nazaré num dia de sábado na inauguração de seu
ministério público. Convém notar que no Evangelho de Lucas o ministério de
Cristo não apenas começa no sábado, o dia que, de acordo com Lucas, Cristo
observava habitualmente, mas também termina no dia da preparação, quando
o sábado começava. O ministério sabático de Jesus que provocou repetidas rejeições
parece ser apresentado por Lucas como um prelúdio da própria rejeição e
sacrifício final de Cristo. No seu sermão de abertura Cristo refere-se a Isaías,
que diz: o Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar
aos pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da
vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável
do Senhor. Praticamente todos os comentaristas concordam que o ano
aceitável do Senhor que Cristo está oficialmente incumbido (ungido) de
proclamar, refere-se ao ano sabático (isto é, o sétimo ano) ou o ano do Jubileu
(ou seja, o 50º ano após sete sábados de anos). Nessas instituições anuais, o
sábado vem a ser o libertador dos oprimidos da sociedade hebraica. A terra devia
ficar sem cultivo, para produzir livremente para os pobres, os desapossados e
os animais. Os escravos eram emancipados, se eles assim desejassem e os débitos
dos irmãos eram perdoados. O ano do jubileu também requeria a restauração da
propriedade ao proprietário original. Que o texto de Isaías, lido por Cristo
refere-se a estas instituições sabáticas está claro pelo contexto que fala da
libertação dos pobres, cativos, cegos (ou prisioneiros), oprimidos. É
significativo que Cristo no seu discurso de abertura anuncia a sua missão
messiânica na linguagem do ano sabático. O seu breve comentário sobre a
passagem é muito apropriado: hoje se cumpriu a escritura que acabais de
ouvir. Como P. K. Jewett sabiamente destaca, o grande sábado do jubileu
tornou-se uma realidade para todos os que estavam perdidos por causa dos seus
pecados, pela vinda do Messias e n’Ele encontraram uma herança. Podemos
inquirir: qual o motivo porque Cristo anunciou a sua missão como o cumprimento
das promessas sabáticas da libertação? Planeava Ele explicar, possivelmente
numa forma velada, que a instituição do sábado era um tipo que encontrava o seu
cumprimento n’Ele próprio, o Antítipo, e daí em diante cessava a sua obrigação?
(Neste caso, Cristo teria aberto caminho para a substituição do sábado por um
novo dia de adoração). Ou Cristo identificava a sua missão com o sábado para tornar
este dia um adequado memorial das suas actividades redentoras?» In Samuele Bacchiocchi, From Sabbath to Sunday, A
Historical Investigation of the Rise of Sunday Observance in Early
Christianity, Du Sabbat au Dimanche, The Pontifical Gregorian University Press,
Roma, 1977.
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