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Infanta
dona Urraca (1150?-1222?). Filha de Leão;
filha de Afonso Henriques de Portugal; mulher do rei Fernando II de Leão; mãe
do rei Afonso IX de Leão
«(…)
Depois de dona Urraca, nasceram duas meninas, Teresa e Mafalda, depois das
quais nasceria, em 1154 o infante Sancho,
herdeiro depois da morte do primogénito. Dois filhos posteriores, um varão e
uma menina, morreram também na infância. O nascimento da última provocou a
morte da rainha, em 1167, quando
dona Urraca tinha apenas nove anos. Nessa altura, tinha já morrido o seu irmão
mais velho. Se eram bem conhecidas as origens do pai da infanta, que se considerava
descender por via colateral de Carlos Magno, pela sua estirpe borgonhesa, não
eram tão conhecidas as da rainha, cujo primeiro registo histórico datava de uns
cem anos antes do nascimento de dona Urraca. Contudo, em apenas um século, a
jovem dinastia de Sabóia conseguira ocupar um importante lugar no tabuleiro
dinástico europeu, mercê da posição estratégica de possessões nas passagens
alpinas. A mãe de Mafalda de Sabóia era filha de um conde da Borgonha e irmã do
papa Calisto II (1119-1124) e, mais importante ainda, de Raimundo, marido da
infanta, portanto rainha, Urraca de Castela, irmã da mãe do rei Afonso
Henriques, um parentesco peninsular que seguramente favoreceu o matrimónio de
Mafalda com o rei de Portugal, e que possivelmente teve influência no nome que
foi dado à infanta. Na época em que nasceu dona Urraca Afonso, e durante muito
mais séculos, o nome que se dava aos filhos obedecia a critérios muito precisos.
Era comum que o primeiro, se fosse varão, ficasse com o nome do avô paterno,
e se fosse menina, o da avó. Com o segundo filho ou filha, era semelhante, mas
com os nomes dos avós maternos. Neste caso, a menina recebeu o nome de uma
irmã do pai, a infanta Urraca, casada com o importante magnata galego, Bermudo
Peres de Trava. Várias rainhas de Leão chamavam-se Urraca, desde tempos tão recuados
quanto meados do século IX.
Além
disso, assim se chamava também uma filha natural que o pai tivera de Elvira
Gualter, antes do seu matrimónio com Mafalda. Fossem quais fossem os motivos
que levaram os monarcas a darem-lhe esse nome, o facto é que soava ao mesmo
tempo muito hispânico e muito régio. Não existe nenhuma documentação
sobre os primeiros anos da sua vida. Sabe-se que o seu irmão Sancho teve como
aia dona Teresa Afonso, filha natural do seu pai com dona Chamoa Gomes. De
qualquer modo, pode atribuir-se a ela o que se escreveu sobre o irmão. Apesar
das prováveis ausências da Cúria e da esfera de influência do pai, durante o
período do seu crescimento, que tiveram lugar em ambiente rural, não é possível
conceber que a infanta não
tivesse participado da vida da corte em Coimbra.
É
muito provável que o futuro que se apresentava a dona Urraca como filha de rei
era converter-se em moeda de troca em futuras alianças dinásticas e políticas.
E isso exigia que houvesse uma certa preparação, pois se em princípio as
infantas portuguesas não se destinavam a cingir a coroa do seu próprio país,
era provável que algum dia pudessem cingir a de outro. Apesar do papel marginal
que as rainhas consortes medievais desempenhavam na corte, houve também casos
em que algumas delas brilharam com luz própria. Mas isso dependia não só de que
tivessem dotes de comando especiais ou uma grande capacidade diplomática, mas
também que as circunstâncias políticas propiciassem que pudessem desempenhar
uma função de maior importância do que a de apenas proporcionar um herdeiro ao
marido. Paradoxalmente, devido ao papel marginal que as mulheres desempenhavam
na hierarquia nobiliárquica da época, incapacitadas como estavam de ocupar
postos de comando, a educação que era ministrada às meninas era mais refinada
do que a ministrada aos varões. A sua formação não se limitava à aprendizagem
da leitura, escrita e bordado, incluindo também, nalguns casos, o estudo da
língua sagrada, o latim, que dava acesso à cultura da época, bem como algum
outro idioma europeu, o que para elas era particularmente fácil, tendo em conta
que as mães destas princesas eram em geral estrangeiras.
As
poucas informações que há sobre a infanta Urraca coincidem em atribuir-lhe uma
autêntica religiosidade cristã, sentimento que seria acrescido a partir de 1157,
que teve a sua origem na morte da mãe. Nesse mesmo ano, no mês de Agosto, outro
falecimento, agora em Castela, marcaria a sua vida, o de Afonso VII, rei de
Castela e Leão, que dividiu o reino, deixando em herança, ao filho mais velho, a
coroa de Castela, e ao mais novo, Fernando, com quem dona Urraca acabaria por
casar, o de Leão, um reino cuja jurisdição incluía então toda a Galiza, as
Astúrias e as cidades de Leão, Astorga, Toro, Zamora e Salamanca,
territórios nalguns casos limítrofes com o nascente reino de Portugal, e portanto
de interesse vital para ele». In Marsilio Cassotti, Infantas de Portugal,
Rainhas de Espanha, tradução de Francisco Boléo, A Esfera dos Livros, Lisboa,
2012, ISBN 978-989-626-396-6.
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