jdact
Um
romance do futuro que se avizinha
«… serás
acima de tudo alegre e jovem.
Pois,
se fores jovem, seja qual for a vida que tiveres
serás
tu mesmo; e sendo alegre
não importa
o que a vida te trouxer.
A juventude
nada mais poderá ter do que precisa:
fruir
inteiramente o seu amor
cujo
mistério faz a carne criar espaço
e o espírito
abandonar o tempo.
Que
penses sempre deus o não permita
(e em
sua mercê) se doa daquele a quem amares:
pois
doutra forma o saber mente
essa
tumba fetal chamada progresso.
E se
o negares absolverás a morte.
Prefiro
aprender de um pássaro a cantar
do que
ensinar a mão bailar milhões de estrelas». In e. e.cummings
«O
mundo não acabou no século XX. Não obstante, foi bastante maltratado e durante a
maior parte do século seguinte as cicatrizes físicas do passado recente foram parte
importante da paisagem humana; talvez mais importante do que os prodígios actuais
ou as expectativas futuras. Muita gente, embora não a maioria, pensou que a única
e verdadeira esperança para a raça humana estava nos Mundos: as colónias orbitais
cuja população, cerca dos anos oitenta, se aproximava do meio-milhão. Parecia que
os Mundos davam à humanidade um lugar para começar de novo, uma ardósia para escrever,
um sítio sem limites para que a raça se expandisse. Era o que achava muita
gente dos Mundos, e alguma da Terra. Chamavam-lhe os Mundos, por conveniência,
não como expressão que contivesse qualquer grau de autonomia política votada a um
objectivo comum. Alguns, como Salyut e Uchüden, eram simples colónias, com populações
ainda leais aos países que as haviam fundado. Outros deviam primordialmente a sua
lealdade a associações, tais como a Bellcom ou a Skyfac ou, até, a uma igreja. Eram
quarenta e um Mundos, cujo tamanho ia de pequenos laboratórios à vasta Nova
Nova Iorque, que abrigava um quarto de milhão de pessoas.
Nova
Nova era politicamente independente, pelo menos no papel. Mas após quarenta anos
de exportação de energia e materiais, sustentava ainda enormes dívidas para com
os Estados Unidos da América e o Estado de Nova Iorque. Em 2010 tinha parecido um
bom investimento a longo prazo, visto que centrais de energia em escala menor,
como o Mundo de Devon (então designado por O'Neill), estavam a fazer fortunas. Mas
depois surgiu a fusão a preço inferior, e Nova Nova mal podia cobrar o suficiente
por quilovátio-hora para manter o pagamento dos juros. Duas coisas mantinham a colónia
em funcionamento: a espuma de aço e, surpreendentemente, o turismo. Nova Nova começou
com um asteróide chamado Paphos e com uma filosofia chamada economias de escala.
Paphos (o seu nome genuíno era 1992 BH) fora um pequeno asteróide cuja órbita, de
nove em nove anos, o fazia passar a setecentos e cinquenta mil quilómetros da Terra.
Era constituído por níquel-ferro, o que significava que era quase de aço puro.
Duzentos
e cinquenta triliões de toneladas de aço é uma presa apetecível. Em 2001 uma
fábrica orbital interceptou Paphos e agarrou-o. Durante os nove anos seguintes,
centenas de rajadas nucleares cuidadosamente calculadas deformaram a sua órbita
curvando-a na direcção da Terra. Em 2010, ele deslizou para uma órbita geo-sincrónica,
uma nova estrela tranquilamente pendurada no céu das Américas, piscando, mais
fulgurante que Vénus». In Joe Haldeman, Momentos, 1981, tradução de
Paula Reis, Círculo de Leitores, 1982.
Cortesia
de CLeitores/JDACT