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Não
é papa nenhum
«(…)
Henri de Maillardoz, banqueiro do Credit
Suisse com a base de operações em Genebra, foi outro dos primeiros
banqueiros estrangeiros. Nogara confiara-lhe os investimentos da Igreja.
Cosmopolita e distante, Maillardoz conhecia Nogara desde 1925. Foi o
responsável pela decisão de consolidar algumas das reservas de ouro europeu da
Igreja no Credit Suisse, o seu
empregador anterior. Quando Nogara enfrentou os Aliados pela inclusão do Sudameris numa lista negra, enviou
Maillardoz a Washington em Novembro de 1942 para fazer um apelo aos responsáveis
pelo Departamento do Tesouro. No final da guerra, Pio conferira-lhe um título
nobiliárquico honorário de marquês e foi nomeado secretário da Administração
Especial e consultor especial de Bernardino. Foi Maillardoz o banqueiro cuja visita
ao Vaticano no início da década de trinta alarmou o cardeal Domenico Tardini.
Tardini receara que a simples presença de um banqueiro suíço fosse um presságio
de que Nogara estaria prestes a envolver-se em especulação financeira proibida.
O conflito motivado pela dimensão permissível do trabalho de Nogara tornou-se
uma memória distante. Havia poucas restrições regendo o investimento além
daquelas que o IOR decretava sobre si mesmo. Nogara e a sua equipa sabiam que
os Balcãs e a Europa de Leste estavam fora do seu alcance enquanto
permanecessem sob controlo de governos fantoche soviéticos. A Europa Ocidental
protegida pelo manto da defesa nuclear americana, nunca estivera tão segura.
Mas concordaram que o melhor investimento seria no país que melhor conheciam:
Itália. Com a vitória democrata-cristã e a firmeza da aliança com os Estados
Unidos, concluíram que era uma oportunidade rara. Itália estava, sem dúvida, no
mesmo estado lamentável do resto do continente, arrasada pela recessão, pela
inflação e pelo desemprego. Mas a equipa do Vaticano acreditava que o enorme
influxo de biliões do Plano Marshall alimentaria um surto de reconstrução, revigorando
a economia estagnada. Muitas empresas italianas de topo estavam disponíveis a
preço de saldo, depois de o preço das suas acções ter sido devastado.
Os
primeiros investimentos significativos de Nogara no pós-guerra foram no sector
da construção, que acreditou ser o primeiro a recuperar já que as cidades
destruídas e as infraestruturas demolidas precisavam de ser reconstruídas. Em
1949, a Igreja comprou quinze por cento da Società
Generale Immobiliare (SGI), uma das holdings
de construção e imobiliário mais antigas do país (alcançaria uma quota de
mercado dominante ao longo de vários anos). Em seguida, o IOR investiu na Italcementi, a fábrica de cimentos em
condição lastimável. Falta de alimento generalizada aliada a perturbações
agrícolas motivaram fomes e aumentos dramáticos no preço dos bens de primeira
necessidade. O Vaticano investiu nos sectores alimentar e agrícola. Nogara tornara-se
administrador de uma das maiores empresas agrícolas italianas e a Igreja
adquiriu uma participação em explorações de grande dimensão no mesmo sector,
além de quatro unidades agrícolas. Os comunistas alegariam mais tarde que a
Igreja detinha um controlo monopolista do fabrico de fertilizantes usando-o
para explorar os agricultores italianos e para obter lucros gigantescos.
O
IOR expandiu-se para lá destes sectores, com investimentos em empresas
italianas de reputação sólida, incluindo a Italgas
(gás natural), a Società Finanziaria
Telefonica (telecomunicações), a Finelettrica
(eletricidade), a Finmeccanica
(defesa) e a Montecatini (minas).
Nogara adquirira ainda quatro fábricas têxteis em dificuldades por preços
reduzidos (Giuseppe Volpi, antigo ministro de Mussolini e amigo de longa data
de Nogara, recomendara a partir do seu exílio suíço em 1947 as empresas a monsenhor
di Jorio como bons investimentos a longo prazo). Nogara fundiu as quatro fábricas
numa nova entidade, a SNIA Viscosa. Confiante
de que qualquer recuperação incluiria o scetor financeiro, a equipa de Nogara
iniciou uma onda de compras sucessivas de bancos italianos. Em 1950, o IOR
detinha uma participação maioritária em setenta e nove bancos do país, de hordings de grande dimensão como a Mediobanca sustentada pelos Aliados a
pequenos bancos regionais. Nenhum outro investidor detinha uma participação
mais significativa nas finanças italianas do pós-guerra do que a Igreja. Alguns
dos investimentos de Nogara, como a Italcementi,
transformaram-se em equidade adicional no sector financeiro, enquanto formava a
sua hording própria e adquiria bancos
a partir do início dos anos sessenta». In Gerald Posner, Os Banqueiros de Deus,
2015, Editora Self-Desenvolvimento Pessoal, 2015, ISBN 978-989-878-155-0.
Cortesia
de Self/JDACT