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Breve
Nota Sobre A Poesia Provençal
«No início do
século XII, Guilherme, 7º conde de Poitiers e 9º duque da Aquitânia, um dos
maiores senhores da Europa da época, dá início a um dos movimentos literários e
culturais mais importantes e fecundos da cultura europeia, a chamada poesia
provençal. Escrevendo (e cantando) em língua vulgar (a língua do vulgo)
e já não em latim, prática corrente das elites culturais até à data, Guilhem de
Peiteus constrói igualmente os alicerces sobre os quais se vai edificar não só
a poesia trovadoresca medieval, que da Provença se alarga a inúmeros países
europeus, mas toda a poesia ocidental posterior. Trata-se, na verdade, de um temps
novel, como ele canta no que se crê ser a sua primeira canso, um
tempo onde a poesia e o canto inventam uma refinada cultura profana (por
oposição à cultura eclesiástica dominante), em formas artísticas inovadores e
magnificamente trabalhadas, mas também na definição de novos valores de
sociabilidade, nomeadamente no que diz respeito à arte de amar: o fin’amor (que
a tradução usual, amor cortês, simplifica demasiado)»
Guilhem de Poitiers (1071-1127)
«Com
a doçura do tempo novo
florescem
os bosques e as aves
cantam
cada uma delas no seu latim
segundo
os versos do novo canto;
convém
portanto que se ocupe assim
cada
um daquilo que mais anseia.
Dali,
da melhor e mais bela morada,
não
vem mensageiro nem carta selada,
pelo
que o meu corpo não dorme nem ri
e
nem mesmo ouso seguir adiante,
até
que saiba bem desse fim,
se
ele é assim como eu reclamo.
Com
o nosso amor acontece assim
como
com o ramo do branco-espinho
que
está sobre a árvore tremendo
à
noite, à chuva e ao gelo,
até
ao novo dia, quando o sol se expande
pelas
folhas verdes e o ramo.
Lembro-me
ainda de uma manhã
em
que pusemos à guerra fim
e em
que me deu um dom tão grande:
o
seu corpo amado e o seu anel;
que
Deus me deixe viver o bastante
para
ter minhas mãos sob o seu mantel!
E
caso não farei de estranho latim
que
me afaste do meu Bom Vizinho:
pois
sei de palavras como vão
num
breve discurso que se espalha…
Que
alguns se vão de amor gabando
mas
nós temos a carne e o cutelo».
In
Graça Videira Leal, Poesia Provençal, alguns textos, Revista Medievalista, director
Vasconcelos Sousa, Ano 2, Nº 2, Instituto de Estudos Medievais, FCSH-UNL, FCT,
2006, ISSN 1646-740X.
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