«É por isso que quando uma situação dolorosa se
reproduz de modo idêntico, parece
idêntica, nada apaga o horror que tal coisa nos provoca. O princípio enunciado
não é, portanto, próprio de um político. Porque há mais hábito na experiência a
todo o custo do que na charneira normal aceite com o sentido do dever e vivida
com entusiasmo e inteligência. Estou convencido de que há mais hábito nas
aventuras de do que num bom-senso.
Porque o próprio da aventura é conservar uma reserva
mental de defesa; é por isso que não existem boas aventuras. Só é boa aventura
aquela em que nos abandonamos: o matrimónio político, em suma, talvez até
aqueles que são feitos no céu, na sombra e na corrida da garotada.
Quem não sente o perene recomeçar que vivifica a existência
normal de um casamento político é, no fundo, um parvo que, por mais que diga,
não sente, sequer, um verdadeiro recomeçar em cada aventura de coligação. A
lição é sempre a mesma: burrice para a frente e saber suportar o castigo do
acto inconsciente. A Natureza que o quer, e recuar é cobardia. No fim, já se
tem visto, paga-se mais caro. São os tempos presentes do ridículo». In O
Ofício de Viver.
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