Antigo desenho que representa o castelo com a forma de uma casa (1590)
jdact
A
muralha do castelo de Alverca
«Tendo
em conta aquilo que se sabe sobre o antigo castelo de Alverca e a importância
deste na memória colectiva da população da cidade, defende-se a conservação dos
vestígios das muralhas ainda existentes e a valorização da área urbana antiga
no alto de Alverca. É feita a descrição e o diagnóstico do estado de conservação
das estruturas, bem como uma proposta fundamentada de intervenção de
conservação e restauro.
Do
castelo de Alverca do Ribatejo resta-nos a noção romântica de uma estrutura militar
da época medieval com muralhas a envolver todo o aglomerado urbano no alto do
morro. A memória colectiva da maioria dos alverquenses, nativos ou adoptivos,
aproxima-se certamente desta imagem. Se passearmos pelo alto do monte onde
outrora se impunha o castelo, verificamos a excelente vista panorâmica do
horizonte quer a Sul sobre as lezírias e o estuário do Tejo quer a Norte sobre
toda a vertente dos montes da serra da Aguieira. Assim, havendo a necessidade
de construir uma estrutura militar nas proximidades, vemos que seria aqui o
local perfeito. Na verdade, os vestígios que ainda hoje testemunham a sua
existência, permitem-nos imaginar essa estrutura em blocos de pedra que
protegia a povoação de possíveis invasores. Os dois panos de muralha com o seu
cunhal em grandes pedras aparelhadas de calcário e um pequeno vestígio de uma
estrutura de pedra semelhante, este mais para o lado Oeste, no entroncamento da
Rua do Outeiro na Rua do Moinho, permitem-nos conjecturar o percurso da antiga
muralha do castelo. A antiga documentação que se conhece evocando o castelo não
nos permite avançar muito mais no que diz respeito à sua configuração original.
Sabemos
que muito cedo o castelo perdeu a sua importância nas linhas defensivas, caindo
no esquecimento. Muito embora não se conheçam descrições factuais, percebe-se
que após o terramoto de 1755 houve a
necessidade de recuperar todo aquele espaço, tendo-se construído sobre as suas
fundações um conjunto de casas que desempenharam um papel importante na
vivência da povoação de Alverca. Um antigo esquiço que representa o mapa da
zona do castelo, desenha-o já com a configuração de uma casa de acordo com o
que hoje se observa nas construções existentes em cima da muralha que resistiu
ao tempo. Muito importante para a compreensão das estruturas e modos de
vivência do passado é o trabalho de arqueologia, que aqui não foi descurado.
Desde os anos 80 do século passado decorreram três escavações arqueológicas (escavação
de emergência na edificação da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos
Dias; escavação na área da antiga Casa da Câmara; acompanhamento de obra de
aberturas de valas nas ruas adjacentes), nas imediações do castelo, sendo uma
delas na Travessa do Castelo e na Rua do Castelo sob a orientação dos
arqueólogos do município, João Pimenta e Henrique Mendes. Muito embora estes
trabalhos nos confirmem a permanência de ocupação humana desde o período
romano, no que diz respeito às estruturas do castelo e das muralhas não nos
permitem ainda obter conclusões. Em 2005, o município de Vila Franca de Xira
promoveu um estudo urbanístico que consistiu no levantamento pormenorizado e
classificação de todo o parque urbano da cidade de Alverca, incluindo cada casa
do centro antigo, de forma que nesta zona se possam identificar com clareza as
casas com interesse urbanístico, arquitectural e cultural. De acordo com este
estudo, muitas das casas desta zona são consideradas como de Valor Testemunho e
Imóveis de Acompanhamento. No entanto por se tratar de pequenas casas de
construção popular sem grandes condições de habitabilidade e cujo valor comercial
é desprezível, estão votadas ao abandono. Atendendo ao contexto do conjunto
urbanístico, estas casas caracterizam os pequenos Largos inseridos na presumida
área antiga entre muralhas, como é o caso do Largo do Outeiro bem como a
própria Rua do Outeiro. Neste sentido, penso que não é justa a afirmação de que
do castelo de Alverca só nos resta a toponímia, sendo certo que ainda subsiste matéria
para preservar e através dela salvaguardar todo o Centro Histórico de Alverca, permitindo-nos
a compreensão histórica e cultural deste espaço.
Considerando
a forte presença destas estruturas na memória colectiva das pessoas de Alverca,
que lhes confere valor patrimonial, e sabendo do seu mau estado de conservação,
que se evidencia nas fotografias, julgo que é indispensável promover uma
intervenção de conservação que restabeleça a coesão das estruturas e minimize a
erosão futura destas. A metodologia da intervenção deverá respeitar as técnicas
e os materiais que compõem os vestígios das muralhas, salvaguardado a sua
integridade e, simultaneamente, favorecer a leitura visual destas estruturas,
evidenciando todas as características que chegaram à actualidade. Os materiais
já aplicados nas várias intervenções anteriores, quando tenham importância
estrutural, deverão ser mantidos, sendo necessário melhorar alguns aspectos
estéticos para estabelecer uma leitura do conjunto o mais homogénea possível.
Torna-se assim evidente que para a valorização de toda a área envolvente é
essencial a colaboração das entidades particulares que habitam ou têm
propriedades nas imediações dos elementos patrimoniais». In Miguel Salgado, A Muralha do
Castelo de Alverca na Memória Colectiva Local, CIRA, Boletim Cultural 12
(2014-2015), Pelouro da Cultura, CM de Vila Franca de Xira, Coordenação de
Fátima Roque, 2015, ISSN 2183-4679.
Cortesia
de CIRA/JDACT