terça-feira, 27 de setembro de 2022

Igreja da Misericórdia de Olivença. Maria do Rosário Cordeiro Carvalho. «Se a cena central do lado do Evangelho ainda pode ser relacionada com a temática superior, constituindo os camponeses uma alusão aqueles a quem se dirigia o profeta Habacuc…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Com a devida vénia à Doutora Rosário Cordeiro Carvalho

Os painéis do sub-coro e nave

«(…) Os rodapés dos dois painéis da nave obedecem à mesma estrutura. As mísulas dividem-nos em três painéis, os dois das extremidades com a figuração de um pelicano a amamentar as suas crias, numa composição assente sobre um mascarão e flanqueada por dois anjos, encostados à base que é uma grinalda de flores e frutos, sobre volutas e acantos. O do centro do lado do Evangelho exibe uma paisagem, um casario, com torre ameada, duas figuras a trabalhar no campo, e outras junto a um rio. Do lado da Epístola, figura um jardim, com edifícios ao fundo, uma fonte à direita e duas figuras nobres à esquerda, a passear.

Se a cena central do lado do Evangelho ainda pode ser relacionada com a temática superior, constituindo os camponeses uma alusão aqueles a quem se dirigia o profeta Habacuc antes de ser desviado para a cova dos leões, do lado oposto essa ligação torna-se muito mais difícil, apesar da representação em causa ser uma fonte, mas monumental e de aparato. Este género de representações da natureza bucólica referem-se à vida civilizada, à acção do Homem de fé, sendo entendidas como um contraponto à vida selvagem daqueles que não cumprem os preceitos religiosos. Neste caso, surgem enquanto símbolos das próprias obras de misericórdia que podem ser entendidas como instrumentos de acção que, através da ajuda ao próximo, transformam o mundo num lugar melhor. Quanto ao pelicano, ele é entendido como símbolo de Cristo e da misericórdia, pois alimenta os seus filhos com o próprio sangue.

Regressando ao sub-coro, cobrir os nus inspira-se no Génesis, quando Adão e Eva, Cobrir os nus depois do pecado original ficam nus e Deus lhes ofereceu túnicas de peles. A cartela indica esta mesma passagem, ainda que com a referência errada, pois trata-se do versículo 21: FECIT QVO QVE DOMINVS DEVS ADAE ET UXORIAJVS TVNICAS PE LLICEAS ET INDVIT EOS Gen. Cap. 3º O Senhor Deus fez a Adão e à sua mulher túnicas de peles e vestiuos. Numa vasta paisagem, com árvores diversas (até uma muito alta palmeira), arbustos, vales e montanhas ao fundo, e curiosamente, um leão, dois elefantes e dois bois (?),surgem Adão e Eva, cobertos por folhas de figueira, a levantar-se do seu esconderijo atrás de um arbusto. De entre uma nuvem, Deus Pai estende as vestes, que não são de pele de animais, e é Adão quem se estica para as alcançar. Apesar da preocupação com a nudez, é notório um dos seios de Eva. Deus é representado como um homem de barbas, com um raio de luz a envolve-lo, e Adão e Eva são dois estranhos personagens, principalmente Adão, com as costelas demasiado vincadas a sugerir uma magreza absoluta. O pintor parece ter respeitado o texto bíblico, caracterizando o paraíso como a savana, com leões e elefantes. Só as túnicas não parecem ser de peles de animais sacrificados». In Maria do Rosário Cordeiro Carvalho, Igreja da Misericórdia de Olivença, Caso de Estudo, Wikipédia.

Cortesia de wikipedia

JDACT, Maria do Rosário Cordeiro Carvalho, Caso de Estudo, Castelo de Vide, Património, Conhecimento, Olivença,