quarta-feira, 31 de março de 2010

Luís de Camões: Líricas, parte II

Camões na prisão de Goa, Moreaux
Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
Que dous mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.

Farei que o amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia e pena ausente.

Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.

Porém, para cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa,
Aqui falta saber, engenho e arte.

Fernando Namora: Uma obra literária invejável!

(1919-1989)
Fernando Gonçalves Namora foi um notável  escritor português.
Licenciou-se em Medicina pela Universidade de Coimbra, carreira que exerceu na sua terra natal e nas regiões da Beira Baixa e Alentejo.
O seu volume de estreia foi Relevos (1938), livro de poesia onde se notam as influências do grupo da Presença. No mesmo ano, publicou o romance As Sete Partidas do Mundo, galardoado com o Prémio Almeida Garrett, onde se começa a esboçar o seu encontro com o neo-realismo, ainda mais patente três anos depois com a poesia de Terra no Novo Cancioneiro.
A sua obra evoluiu no sentido do amadurecimento estético do neo-realismo, o que o levou a um caminho mais pessoal. Não desdenhando a análise social, os seus textos foram cada vez mais marcados por aspectos de picaresco, observações naturalistas e algum existencialismo. Fernando Namora foi um escritor dotado de uma profunda capacidade de análise psicológica, a que se ligou uma linguagem de grande carga poética. Escreveu, para além de obras de poesia e romances, contos, memórias e impressões de viagem.

Entre os títulos que publicou encontram-se os volumes de prosa Fogo na Noite Escura (1943), Casa da Malta (1945), As Minas de S. Francisco (1946), Retalhos da Vida de um Médico (1949 e 1963), A Noite e a Madrugada (1950), O Trigo e o Joio (1954), O Homem Disfarçado (1957), Cidade Solitária (1959), Domingo à Tarde (1961, Prémio José Lins do Rego), Os Clandestinos (1972) e Rio Triste (1982).
Publicou em poesia Mar de Sargaços (1940) e Marketing (1969). A sua produção poética conheceu uma antologia datada de 1959, intitulada As Frias Madrugadas.
Escreveu volumes de memórias, anotações de viagem e crítica, como Diálogo em Setembro (1966), Um Sino na Montanha (1970), Os Adoradores do Sol (1972), Estamos no Vento (1974), A Nave de Pedra (1975), Cavalgada Cinzenta (1977) e Sentados na Relva (1986).
Uma obra literária invejável!

Alguns estudiosos dividem a sua obra, se bem que seja uma sistematização que peca pelo simplismo, em três momentos diferentes na criação romanesca: 
Ciclo rural, composto de obras como A Noite e a Madrugada e O Trigo e o Joio;
Ciclo urbano, fruto da mudança do médico do meio rural para o citadino, marcado pelos romances O Homem Disfarçado e Domingo à Tarde;
Os cadernos de um escritor, influenciados pelas viagens do autor a outros países, como a poesia de Marketing e as reflexões de Jornal sem Data.
O romance Domingo à Tarde foi adaptado ao cinema em 1966 por António de Macedo e o livro Retalhos da Vida de um Médico foi adaptado ao cinema por Jorge Brum do Canto, 1962.
As paisagens e algumas pessoas que conheceu nas nossas serras marcaram-no para toda a vida, como pessoa e como escritor. Em muita da sua prosa e versos, personagens e cenários são os mesmos que os seus olhos jovens observaram e aprenderam a conhecer e a admirar.
Quem conhece a região e lê as suas obras, depara, a par e passo com cenários conhecidos, com diálogos que parece que também já aconteceram connosco, com personagens que todos nós algum dia conhecemos.
Morreu aos 69 anos.
A Utopia
A noite caiu sem manchas e sem culpa.
Os homens largaram as máscaras de bons actores.
Findou o espectáculo. Tudo o mais é arrabalde.

No alto, a utópica Lua vela comigo
E sonha coalhar de branco as sombras do mundo.
Um palhaço, a seu lado, sopra no ventre dos búzios.
Noite! Se o espectáculo findou
Deixa-nos também dormir.
Fernando Namora

kaliynka/JDACT

Dmitri Shostakovich: A imortaliodade e o «realismo socialista»

Dmitri Shostakovich (1906-1975) foi um compositor de música clássica russo, nascido na ex-União Soviética. Em finais da década de 1920 o clima cultural da União Soviética caracterizava-se por uma relativa liberdade. No campo musical, isso significava a possibilitade de conhecer as obras de músicos como Stravinsky ou Schönberg, estavam a realizar experiências muito relevantes na linguagem musical. Por exemplo, Bartók e Hindemith conseguiram visitar a URSS e apresentar suas próprias obras. Shostakovich absorveu estas várias influências e integrou-as nas suas várias composições. Como resultado desta investigação na linguagem musical, compôs em 1928 a ópera «O Nariz», que motivou uma forte crítica por parte de alguns elementos políticos, já que a obra era qualificada de burguesa.


Dmitri Shostakovich caracterizou-se por uma grande versatilidade, tendo composto desde música de filmes a concertos e sinfonias.
JDACT

Maria Helena Vieira da Silva: A pintura aliada ao espaço e à profundidade



Maria Helena Vieira da Silva foi uma pintora portuguesa, naturalizada francesa em 1956.
Despertou cedo para a pintura. Aos onze anos ingressou na Academia de Belas-Artes, em Lisboa, onde estudou desenho e pintura. Motivada também pela escultura, estudou Anatomia na Faculdade de Medicina de Lisboa.
(1908-1992)
Escultura de Francisco Simões, de 1995
Em 1928 foi residir para Paris, onde estudou com Fernand Léger, e trabalhou com Henri de Waroquier (1881-1970) e Charles Dufresne. Em Paris conheceu seu futuro marido, o também pintor Árpád Szenes, húngaro, com quem se casou em 1930.
Devido ao facto de seu marido ser judeu e de ela ter perdido a nacionalidade portuguesa, eram oficialmente apátridas. Então, o casal decidiu residir por um longo tempo no Brasil, durante a Segunda Guerra Mundial e no período pós-guerra. No Brasil, entraram em contato com importantes artistas locais, como Carlos Scliar e Djanira. Ambos exerceram grande influência na arte brasileira, especialmente entre os modernistas.
Vieira da Silva foi autora de uma série de ilustrações para crianças que constituem uma surpresa no conjunto da sua obra. Kô et Kô, les deux esquimaux, é o título de uma história para crianças inventada por ela em 1933. Não se sentindo capaz de a escrever, a pintora entregou essa tarefa ao seu amigo Pierre Guéguen e assumiu o papel de ilustradora, executando uma série de guaches.

A partir de 1948 o Estado Francês começa a adquirir as suas pinturas e em 1956 tanto ela como o marido obtêm a nacionalidade francesa. Em 1960 o Governo Francês atribui-lhe uma primeira condecoração, em 1966 é a primeira mulher a receber o Grand Prix National des Arts e em 1979 torna-se cavaleira da Legião de Honra francesa.
Pintora de temas essencialmente urbanos, a sua pintura revela, desde muito cedo, uma preocupação com o espaço e a profundidade. Influenciada pela obra de Cézanne Vieira da Silva bebeu do abstraccionismo e do cubismo para criar o seu próprio estilo e retratar sobretudo coisas triviais mas essenciais como objectos do quotidiano, cidades e viagens. A pintora que dedicou a vida à arte, e que em Portugal só depois da democracia começou a ser mais (ou menos) divulgada, viu ser-lhe concedida  a mais alta condecoração, não militar, portuguesa – a Grã-Cruz da Ordem de Santiago da Espada, em 1977.
Para honrar a memória do casal de pintores, foi fundada em Portugal a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, sediada em Lisboa.
Em 1983, o Metropolitano de Lisboa propõe-lhe a decoração da estação da Cidade Universitária, a obra Le métro (1940) é reproduzida em azulejos com a colaboração do pintor Manuel Cargaleiro.


circuloarturbual/JDACT

Augusto Cabrita: O «Poeta» da Imagem

(1923-1993)
Augusto Cabrita foi um fotógrafo, director de fotografia e realizador cinematográfico português.
O Mestre Augusto Cabrita foi um dos mais brilhantes fotógrafos e directores de fotografia em Portugal. Nasceu no Barreiro e começou a interessar-se por fotografia aos 13 anos. Sendo um autodidacta, cujos conhecimentos foram sendo adquiridos à medida que praticava a sua actividade dos tempos livres. Também a música o atraíu: aprendeu a tocar, de ouvido, piano e acórdeão. Como muitos jovens da sua cidade dedicou-se ainda à natação e à vela no prestigiado Clube Naval Barreirense.



Augusto Cabrita e a televisão portuguesa ficaram na memória de público e crítica, muito em especial, uma notável série de pequenos documentários para a rubrica publicitária Vamos jogar no Totobola e a combinação entre música e imagem que foi o programa semanal Melomania, do musicólogo Luís de Freitas Branco, que considerou só ser possível trabalhar de forma tão conseguida por ter tido a seu lado um cineasta que também era melómano.
A sua actividade cinematográfica começa na fase de «explosão» do chamado cinema novo. Em 1964, Fernando Lopes convida-o para director de fotografia de Belarmino, filme emblemático desse movimento, um documentário a vários títulos inovador (é, por exemplo, a primeira vez que o jazz integra a banda sonora dum filme português) em que a principal figura é um pugilista conhecido da boémia nocturna de Lisboa, Belarmino Fragoso. No ano seguinte, Augusto Cabrita assina a fotografia de As Ilhas Encantadas, uma longa-metragem de Carlos Villardebó, protagonizada por Amália Rodrigues e que a própria artista consideraria ser de longe a sua melhor actuação em cinema. Cabrita faz, aliás, de Amália Rodrigues algumas das suas melhores fotografias, tendo também filmado a digressão da cantora por Itália, em 1972. 

Um dos mais notáveis documentários assinados por Augusto Cabrita foi História de comboios (1978), que nos conta a primeira viagem de comboio que duas crianças vão fazer, seguindo o mesmo percurso que o escritor dinamarquês Hans-Christian Andersen havia feito em 1866, quando veio a Portugal para visitar a família O'Neill. O filme começa com uma apresentação da história dos comboios em Portugal, em que se faz, por exemplo, referência ao «comboio real» adquirido em 1862, na época do rei D. Luís, através duma firma inglesa com sede em Manchester.
A sua obra está divulgada em todo o mundo.
Sol/Sapo/JDACT

Augusto Gil: A Balada da Neve

Augusto César Ferreira Gil, advogado e poeta português, viveu a sua vida (quase na sua totalidade)  na cidade da Guarda onde colaborou e dirigiu alguns jornais locais.

(1873-1929)
Estudou inicialmente na Guarda, a «sagrada Beira» e na «bela cidade dos cinco éfes», de cuja paisagem encontramos reflexos em muitos dos seus poemas e de onde os pais eram oriundos. Formou-se em Direito na Universidade de Coimbra.
Começou a exercer advocacia em Lisboa. Mais tarde, foi Director-Geral das Belas-Artes. Na sua poesia notam-se influências do Parnasianismo e do Simbolismo. Influenciado por Guerra Junqueiro, João de Deus e pelo lirismo de António Nobre, a sua poesia insere-se numa perspectiva neo-romântica nacionalista.

Batem leve, levemente, 
como quem chama por mim.                 
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho…

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança…

E descalcinhos, doridos…
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!…

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.
Augusto Gil
Os restos mortais de Augusto Gil repousam num Jazigo localizado à entrada do Cemitério Municipal da Guarda, onde podemos ler dois dos versos do seu Livro «ALABA PLENA»
«E a pendida fonte, ainda mais pendeu...
E a sonhar com Deus, com Deus adormrceu.»

trabalhinhosdavo/JDACT

Niobe, Rainha de Tebas: Agostino Steffani


Ópera no São Carlos: Niobe, Rainha de Tebas


Teatro Nacional São Carlos, Alfredo Rocha 
Ópera barroca «Niobe, Rainha de Tebas» de Agostino Steffani (1654-1728), numa co-produção entre o Teatro Nacional São Carlos e o Festival de Schwetzingen. Este é um Dramma per Musica em três actos com libreto de Luigi Orlandi baseado em Metamorfoses de Ovídio. Niobe teve a sua estreia absoluta em 1688 em Munique (Hoftheater), na Alemanha.
Agostino Steffani
Destaque para Alexandra Coku como Niobe e Sebastien Rouland na direcção musical da ópera. Lukas Hemleb assina a encenação que conta com a participação do cantor polaco Jacek Laszczkowski, do francês Pascal Bertin e do suíço Peter Kennel
Esta ópera será antecedida por um preâmbulo contemporâneo, numa nova produção em estreia cénica mundial: Hybris, um drama para vozes da compositora romena Adriana Hölszky, com libreto de Yona Kim. Jörg Ritter assume a direcção musical desta obra contemporânea que conta com a participação do Coro do Teatro Nacional de São Carlos e dos cantores Maria João Sousa, Yosemeh Adej, Olesya Nagieva, João Oliveira, Michael Hofmeister e Thomas Lichtenecker.
Trinta minutos antes do início do espectáculo, o jovem compositor Sérgio Azevedo vai dar continuidade ao projecto «Breves Palavras» partilhando com o público uma perspectiva pessoal sobre o autor da ópera Agostino Steffani (1654-1728).

Níobe é uma personagem da Mitologia Grega, filha de Tântalo e esposa de Anfião, rei de Tebas. Diz a mitologia que por ser muito fértil, teve catorze filhos (sete homens e sete mulheres), que ficaram conhecidos como "nióbidas". Um dia o povo de Tebas reuniu-se para render tributo à deusa Leto, mãe de Apolo e Ártemis. Níobe não entendia porque é que o seu povo insistia em render homenagem à deusa e apareceu no meio das festividades a insultar Latona, por ter tido apenas dois filhos. Dirigindo-se à multidão disse:

«Que loucura é esta? Preferis seres que nunca vistes àqueles que tendes diante dos olhos?! Porquê um culto a Latona? Porque não um culto à vossa rainha? [...] Se eu perdesse alguns de meus filhos, dificilmente ficaria tão pobre como Latona, apenas com dois. Suspendei esta solenidade...tirai o louro de vossas frontes...Não prossigais este culto
E o povo obedeceu. Latona indignou-se com a audácia da mortal, e exigiu vingança junto dos seus filhos. Então, Apolo e Ártemis mataram todos os sete filhos de Níobe com os seus arcos e flechas. Níobe chorou a morte dos filhos com as irmãs e exclamou:
«Cruel Latona! Sacia todo o teu ódio na minha angústia! Que o teu duro coração se regozije, enquanto levo para o túmulo os meus sete filhos. Mas onde está o teu triunfo? Despojada como estou, ainda assim sou mais rica que tu, que me venceste».
Mal acabou de dizer estas palavras, caíram novas flechas, matando todas as filhas de Níobe, deixando apenas a mais nova. A mãe desesperada implorou:
«Poupai-me esta, a mais nova! Poupai-me uma, entre tantas
O desespero tomou conta do palácio real de Tebas e Anfião matou-se de desgosto. E Níobe, demasiado infeliz para fazer o que quer que fosse, sentou-se e chorou dia após dia até que o seu corpo se transformou numa pedra. Mas mesmo essa pedra chorava a morte dos filhos.
Ainda hoje pode ser vista algures nas montanhas da Grécia um curso de lágrimas correndo infinitamente da sua face.
Escape by Expresso/Teatro Nacional de São Carlos/JDACT

30 de Março de 1922: Início da Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul


Na manhã de 30 de Março de 1922, às 7 horas, o FAIREY II, tripulado por Gago Coutinho e Sacadura Cabral descolou do Rio Tejo, com destino ao Rio de Janeiro. Cinco dias antes, 25 de Março, largaram os navios de guerra República, Cinco de Outubro e Bengo, que iriam prestar assistência de voo.
A travessia realizou-se em várias fase para prestar assistência aos hidroaviões. Contudo, consideram-se quatro etapas na viagem, visto que, devido a problemas mecânicos e condições naturais adversas, foram utilizados três hidroaviões.
A primeira etapa da viagem decorreu sem percalços de maior, durando 8 horas e 17 minutos de Lisboa até Las Palmas nas Canárias. Daqui voaram para Guando para conseguirem melhores condições de descolagem. Todavia o traçado do percurso teve ainda de ser revisto porque a provisão de combustível não seria suficiente para um voo sem escala de Cabo Verde a Fernando Noronha.
A segunda etapa iniciou-se na madrugada de 5 de Abril com uma descolagem da ilha de Guando, alcançando S. Vicente de Cabo Verde, após 10 horas e 43 minutos, amarando em mar calmo e sem dificuldades. Apesar do sucesso destas duas primeiras fases de voo, que originara o baptismo do avião por decreto, como Lusitânia, adivinhava-se praticamente impossível um voo directo entre S. Vicente e Fernando de Noronha, devido aos elevados consumos de combustível. Perante a vontade de continuar a viagem e provar a precisão do voo aéreo, bem como a cientificidade dos instrumentos utilizados, Gago Coutinho e Sacadura Cabral decidiram fazer escala nos Penedos de S. Pedro, onde o cruzeiro República lhes prestaria assistência.


Na terceira etapa da viagem, cuja partida se deu a 18 de Abril, persistiam as dificuldades a nível do combustível e o vento não ajudava numa deslocação mais rápida do avião. A precisão dos cálculos de Gago Coutinho permitiu que o avião iniciasse a sua descida até aos penedos quando apenas restavam dois a três litros no tanque. Verificou-se ,assim, uma descida forçada sobre o mar cavado, que arrancou um dos flutuadores, o que levou a que o hidroavião se inclinasse para bombordo, tendo, por isso, entrado água na proa.
O cruzeiro República socorre ao acidente, salvando os pilotos, livros, o sextante, o cronómetro e outros instrumentos, transportando, seguidamente, Gago Coutinho e Sacadura Cabral para Fernando Noronha.

Para perpetuar o ocorrido, os aviadores deixaram nos penedos um padrão de chapa de ferro, onde está cravado a letras de latão: «Hidroavião Lusitânia – Cruzador República».
A Nação portuguesa entrou em delírio e o clima emocional levou o Governo a enviar outro avião, oferecido pelo Ministério da Marinha. Durante estes contratempos, os dois heróis ficaram ancorados na ilha de Fernando de Noronha, a bordo do República., onde decidiram que a nova etapa não devia iniciar naquela ilha, sendo preciso voltar atrás e sobrevoar os Penedos de S. Pedro, rumo ao Brasil.


O novo Fairey, para o qual foram transplantadas as asas do outro avião, a fim de lhe proporcionar uma maior sustentação, levantou voo da ilha de Fernando Noronha, na manhã de 11 de Maio.
O voo prosseguiu sem problemas de maior, mas, após sobrevoar os penedos e já em direcção ao Brasil, o motor parou provocando uma amaragem de emergência. Embora esta tenha sido perfeita e em mar calmo, a longa espera por auxílio teve como consequência uma situação trágica, na qual os flutuadores metiam água , afundando-se o aparelho lentamente. Com a chegada do cargueiro britânico Paris-City, solicitado pelo comandante do República, mais uma vez os pilotos foram resgatados e, consequentemente, louvados na sua pátria. Aquando da chegada a Fernando de Noronha, o Governo Português foi novamente procurado para enviar um outro avião.

A quarta e última etapa teve início com o envio do Fairey 17, o único de dispunha agora a Aviação Naval Portuguesa, mais pequeno e com menos autonomia do que os outros, mas considerado suficiente para que a viagem prosseguisse em modestas etapas até ao Rio de Janeiro.

No dia 5 de Junho, Sacadura Cabral e Gago Coutinho levantaram voo de Fernando de Noronha e iniciaram o final desta histórica e gloriosa viagem, já sem quaisquer problemas ou incidentes mecânicos.
Recife, Baía, Porto Seguro, Vitória, e, finalmente, Rio de Janeiro, onde o terceiro Fairey, baptizado de Santa Cruz, desce, ao princípio da tarde de 17 de Junho, na enseada da Guanabara, levando os corações de portugueses e brasileiros baterem alvoraçadamente e em uníssono.
Crónica  por cortesia de CITI.
(Números finais do «RAID»)
CITI/JDACT

terça-feira, 30 de março de 2010

Prémio Pritzker 2010: Arquitectura contemporânea, ZEN

Não é uma surpresa a atribuição do Prémio Pritzker à dupla japonesa Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa. O Japão é um centro da arquitectura mundial e os dois são uma das últimas paixões das revistas de arquitectura. Portugal não tem passado ao lado deste entusiasmo e encomendou-lhes o novo pólo de Serralves.
O prémio Pritzker 2010 foi atribuído ao atelier SANAA, de Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa. Formado em Tóquio em 1995, este atelier tem ganho um crescente prestígio e internacionalização que agora culmina na atribuição do prestigiado prémio. Não é por isso uma surpresa a atribuição deste prémio. Devemos ter em conta que o Japão é um dos principais centros da arquitectura contemporânea.
Será, no entanto, oportuno relembrar que a arquitectura japonesa ocupa um lugar central no imaginário da arquitectura moderna, da Europa à América. Uma das referências de Frank Lloyd Wright é exactamente essa cultura, com a qual toma contacto na famosa Exposição Colombiana de 1893, em Chicago. Desde então, a espacialidade, a fluidez, até a suavidade da construção tradicional japonesa estarão sempre presentes na saga da arquitectura moderna.

O «metabolismo» é o movimento que fixa a participação japonesa na vanguarda arquitectónica. A ideia de que o edifício se pode metabolizar, isto é, transformar, num fluxo contínuo, capta a imaginação dos arquitectos no início dos anos sessenta e é a matriz de diversas gerações desde então. O "metabolismo" era uma resposta radical, utópica, à procura de equilíbrio - entre a máquina e a natureza, entre o progresso e a tradição -, que é central na cultura japonesa. Este enunciado ganha várias formas e é testado ao longo das últimas décadas.
O diálogo entre a vivência do «caos» de Tóquio e uma relação zen com a vida, entre o consumismo e a civilidade, ou entre a cultura da imagem e o intimismo, ganha uma expressão eloquente na obra de Sejima e Nishizawa. Podemos falar de uma continuidade a vários níveis: entre a cultura tradicional, a moderna e a global; entre o mundo exterior e o interior. A «pele» - o «invólucro» do edifício - é, na obra de Sejima e Nishizawa, o garante deste processo de continuidade e equilíbrio. Sendo um dos temas-fetiche da arquitectura contemporânea, tem na obra da dupla japonesa uma especial importância: é o momento que define a elegância do edifício. Dir-se-ia que encontraram uma cosmética perfeita para essa «pele»: uma palidez elegante; uma rarefacção de luz.
As qualidades zen da obra de Sejima e Nishizawa, esse equilíbrio inscrito na história mais longa da cultura japonesa, continuam a encantar o mundo ocidental, que vive perante a sua impossibilidade. De facto, a extrema materialidade ganha aqui uma componente quase metafísica. Como escreve o júri do prémio: "A presença física perde importância e é criado um fundo sensual para as pessoas, objectos, actividades e paisagens." Se é figura ou fundo, objecto ou cenário, é discutível. Mas até nisso há algo de enigmático: perante as figuras e objectos translúcidos desta arquitectura há muito de misterioso e inalcançável. Ou de cinematográfico.

A obra de Sejima e Nishizawa cumpre o velho sonho moderno de um espaço transparente, diáfano, de que a arquitectura japonesa é matriz, a que se deve acrescentar a nova cultura dos computadores e da era digital. Como os próprios dizem: «Os computadores trouxeram transformações nas sensações de todos nós. Por isso se pode falar de uma relação entre os computadores e a nossa arquitectura».
ipsilon.publico/JDACT

O LHC: Bate recorde para colisão de partículas

O acelerador de partículas do CERN, em Genebra, conseguiu hoje realizar a maior experiência de colisão de partículas alguma vez realizada, recriando os primeiros momentos do Universo após o Big Bang. O maior acelerador de partículas do mundo estabeleceu hoje um novo recorde para colisões de alta energia, chegando a 7 tera electron volts (TEV).
O Large Hadron Collider (LHC) conseguiu colidir dois feixes de protões a uma velocidade três vezes maior que o recorde anterior. Um projecto de 10 mil milhões de dólares, o LHC realiza as colisões de feixes de protões como parte de uma ambiciosa experiência que visa revelar pormenores sobre micropartículas e microforças teóricas.
A sua forma é circular, com um perímetro de 27 km. Ao contrário dos demais aceleradores de partículas, a colisão será entre protões e não entre positrões e electrões (como no LEP), entre protões e antiprotões (como no Tevatrão) ou entre electrões e protões (como no HERA).
Possui um túnel a 100 metros debaixo da terra na fronteira da França com a Suíça, onde os protões serão acelerados no anel de colisão que tem cerca de 8,6 km de diâmetro.
Amplificadores serão usados para fornecer ondas de rádio que são projetadas dentro de estruturas repercussivas conhecidas como cavidades de freqüência de rádio.Os detectores de partículas ATLAS, ALICE, CMS e LHCb, que monitorizam os resultados das colisões, possuem mais ou menos o tamanho de prédios de cinco andares e 12.500 toneladas.
Um evento simulado no detector de CMS, com o aparecimento do Bóson de Higgs. Um dos principais objetivos do LHC é tentar explicar a origem da massa das partículas elementares e encontrar outras dimensões do espaço, entre outras coisas.
 A ideia é que esses testes ajudem a lançar luz sobre as origens do universo, além de responder a importantes questões da Física. As colisões representam uma nova era na ciência para os pesquisadores que trabalham no LHC, que fica na fronteira entre a Suíça e a França e faz parte do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN). «É o início de uma nova era», considerou a cientista Paola Catapano, porta-voz do CERN - Centro Europeu de Investigação Nuclear.

 O LHC foi lançado com pompa a 10 de Setembro de 2008, mas apresentou problemas nove dias depois. As reparações e as melhorias custaram 40 milhões de dólares, até que o aparelho voltou a operar, no fim de Novembro.
Porém, as colisões causaram receio nalgumas pessoas, que temiam riscos para o planeta devido à criação de pequenos buracos negros - versões subatómicas de estrelas que entram em colapso gravitacional -, cuja gravidade é tão forte que eles podem sugar planetas e outras estrelas.
O CERN e muitos cientistas rejeitam qualquer ameaça à Terra ou às pessoas, afirmando que esses buracos negros seriam tão fracos que se dissipariam quase logo após serem criados, sem causar problemas.
Diário Digital/lhc-machine-outreach/cumuloinfo/JDACT

Astor Piazzolla: Simbiose entre tango e jazz

(1921-1992)
arhcoelho
Ástor Pantaleón Piazzolla foi um músico e compositor argentino. Compositor de tango, o mais relevante da segunda metade do século XX. Estudou harmonia e música erudita com a compositora e diretora de orquestra francesa Nadia Boulanger, que foi aluna de Sergei Rachmaninoff.
Quando começou a fazer inovações no tango, no ritmo, no timbre e na harmonia, foi muito criticado pelos tocadores de tango mais antigos. Piazzolla conseguiu uma simbiose entre o tango e o jazz. Há uma forte influência do Jazz na sua música, estabelecendo uma nova linguagem musical e que continua a ser seguida por muitos músicos da actualidade.


Piazzola deixou uma discografia invejável, trabalhando Tom Jobim e Suarez Paz, de entre muitos músicos.
Algumas de suas composições mais famosas são «Libertango» e «Adiós Nonino».
A canção Adiós Nonino, foi concebida em homenagem a seu pai, quando este estava «no leito de morte».
As palavras de Astor são eloquentes: «... talvez eu estivesse rodeado de anjos. Foi a mais bela melodia que escrevi e não sei se alguma vez farei melhor».
bairesco/JDACT

segunda-feira, 29 de março de 2010

Salvador Dali: O surrealismo, a excentricidade do «bigode»

Salvador Domingo Felipe Jacinto Dalí i Domènech, (1904-Figueres-1989), foi um importante pintor catalão, conhecido pelo seu trabalho surrealista.
O trabalho de Dalí chama a atenção pela incrível combinação de imagens bizarras, oníricas, com excelente qualidade plástica. Dalí foi influenciado pelos mestres da Renascença. O seu trabalho mais conhecido «A Persistência da Memória», foi concluído em 1931. 
Dalí fotografado por Roger Higgins em 1968
Dalí tinha uma reconhecida tendência para atitudes e realizações extravagantes destinadas a chamar a atenção, incomodando os críticos de arte, já que sua forma de estar teatral e excêntrica tendia a eclipsar o seu trabalho artístico
Os seus colegas elogiavam os quadros, onde fez experiências com o cubismo. Fez também experiências com o Dadaísmo, que provavelmente influenciou todo o seu trabalho.


Dali foi amigo do poeta Federico García Lorca e de Luis Buñuel. Dalí foi expulso da Academia em 1926, altura em que criou a realista pintura «Cesto de Pão». Ainda desconhecido ilustrou o poema «Les bruixes de Llers» (As bruxas de Llers) do poeta Carles Fages de Climent.
Na sua primeira viagem a Paris contactou com Pablo Picasso. Nos anos seguintes, realizou uma série de trabalhos fortemente influenciados por Picasso e Miró, enquanto ia desenvolvendo o seu estilo próprio. Algumas tendências no trabalho de Dalí que iriam permanecer ao longo de toda a sua carreira já eram evidentes na década de 20. As exposições em Barcelona despertaram grande atenção e uma mistura de elogios e debates. Nesta época, Dalí deixou crescer o bigode, que se tornou emblemático a ele, estilo baseado no pintor do século XVII espanhol Diego Velázquez.
Conhece Gala Éluard (cujo nome verdadeiro é Elena Ivanovna Diakonova (1894-1982), uma imigrante russa dez anos mais velha, casada na época com o poeta surrealista Paul Éluard.
Em 1960, Dalí começou a trabalhar no Teatro-Museum Salvador Dalí, na sua terra natal, em Figueres. Foi o projeto de maior vulto de toda a sua carreira e o principal foco de suas energias até 1974, embora continuasse a fazer acrescentos até meados dos de 1980.
Gala morre em 1982 e desde então, Dalí ficou profundamente deprimido e desorientado, perdendo toda a vontade de viver. Após vários acontecimentos, passa a viver no seu teatro-museu.
Salvador Dali morre em 1989 com 84 anos e está sepultado na cripta do seu Teatro-Museu Dalí, em Figueres.
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Joan Miró: O surrealismo e a fantasia «naif»

Joan Miró i Ferrà foi um importante escultor e pintor surrealista catalão.
Quando jovem frequentou a Escola de Belas-Artes da capital catalã (Barcelona) e a Academia de Gali. Em 1919, depois de completar os seus estudos, visitou Paris, onde entrou em contacto com as tendências modernistas como os fauvismo e dadaísmo.
No início dos anos 20, conheceu o fundador do movimento em que trabalharia toda a vida, André Breton, entre outros artistas surrealistas. A pintura «O Carnaval de Arlequim» (1924-25) e «Maternidade» (1924) inauguraram uma linguagem cujos símbolos remetem a uma fantasia naif, sem as profundezas das questões psicanalistas surrealistas. Participou na primeira exposição surrealista em 1925.
Em 1928, viajou para a Holanda, tendo pintado as duas obras «Interiores holandeses I» e «Interiores holandeses II». Em 1937, trabalhou em pinturas-mural e, anos depois, em 1941, concebeu a sua mais conhecida e radiante obra: Números e constelações em amor com uma mulher. Mais tarde, em 1944, iniciou-se em cerâmica e escultura. Nas obras de escultura utiliza materiais surpreendentes, como a sucata.

(1893-1983)
Caricatura de David Brown

No fim da sua vida reduziu os elementos de sua linguagem artística a pontos, linhas, alguns símbolos e reduziu a cor, passando a usar basicamente o branco e o preto, ficando esta ainda mais naif.
A Fundação Joan Miró, situada no Parque de Montjuïc em Barcelona , foi criada pelo próprio Joan Miró e pelo seu amigo Joan Prats em 1975. O edifício em que se encontra esta fundação, foi projectado por Josep Lluis Sert, amigo de Miró. A Fundação é o cenário ideal para as animadas esculturas e para as pinturas de cores vivas de Joan Miró. A finalidade da Fundação, é de abrir um centro dedicado ao estudo e experimentação da arte contemporânea.
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Pablo Picasso: Uma vida a «saber pintar como uma criança»


Pablo Picasso, de nome completo, Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Ruiz y Picasso, nasceu em Málaga e  foi um pintor, escultor e desenhista espanhol.

(1881-1973)
Foi reconhecidamente um dos mestres da arte do século XX. É considerado um dos artistas mais famosos e versáteis de todo o mundo, tendo criado milhares de trabalhos, não somente pinturas, mas também esculturas e cerâmica, usando, todos os tipos de materiais. Ficou conhecido como o co-fundador do Cubismo, junto com Georges Braque.
Os desenhos de infância de Picasso representavam cenas de touradas. A primeira obra, preservada, era um óleo sobre madeira, pintada aos oito anos, chamada «O Toureiro». Picasso conservou esse trabalho toda a sua vida, levando-o consigo sempre que mudava de casa. Os períodos das cores na vida de Picasso:
Período Azul, (1901 a 1905), Picasso pintou a solidão, a morte e o abandono. Consiste em obras sombrias em tons de azul e verde azulado, ocasionalmente usando outras cores. Desenhava prostitutas e mendigos. Este modo veio de viagens pela Espanha e do suicídio de seu amigo Carlos Casagemas. Ele pintou vários retratos, culminando com a pintura obscuramente alegórica de La Vie. O mesmo tom está na água-forte The Frugal Repast, que mostra um cego e uma mulher perspicaz, ambos emagrecidos, sentados perto de uma mesa vazia. A cegueira é um tema recorrente no período e está  no retrato Celestina. O arlequim se tornou um símbolo pessoal para Picasso.
Período Rosa, (1905–1907), é caracterizado por um estilo mais alegre com as cores rosa e laranja, e novamente com muitos arlequins. Muitas das pinturas são influenciadas por Fernande Olivier, sua modelo e paixão na época.
Período Africano, (1907–1909), começou com duas figuras inspiradas na África em seu quadro Les Demoiselles d'Avignon. Ideias deste período levaram ao posterior Cubismo.
Cubismo analítico, (1909–1912),  é um estilo de pintura que Picasso desenvolveu com Braque usando cores castanhos monocromáticas. A pinturas de Picasso e Braque eram muito semelhantes nesse período.
Cubismo sintético,(1912–1919), é um desenvolvimento posterior do Cubismo no qual fragmentos de papel, de parede ou jornais, eram colados em composições, marcando o primeiro uso da colagem nas artes plásticas.
Classicismo e surrealismo, no período seguinte ao caos da primeira guerra mundial, Picasso produziu obras em um estilo neoclássico. Este «retorno à ordem» é evidente no trabalho de vários artistas europeus na década de 20, incluindo Derain, Giorgio de Chirico, e os artistas do New Objectivity Movement. As pinturas e textos de Picasso deste período frequentemente citam o trabalho de Ingres.

Durante os anos 30, o minotauro substituiu o arlequim como motivação que ele usou em seu trabalho. Seu uso do minotauro veio parcialmente de seu contato com os surrealistas, que normalmente o usavam como símbolo, e aparece em Guernica de Picasso.
Entre o começo e o fim da 2ª Guerra Mundial (1939-1945), dedica-se também à escultura, gravação e cerâmica. Como gravador, domina as diversas técnicas: água-forte, água-tinta, ponta-seca, litogravura e gravura sobre linóleo colorido. É considerado um dos pioneiros em realizar esculturas a partir de junção de diferentes materiais.
Em 1943, Picasso conhece a pintora Françoise Gilot e tem dois filhos, Claude e Paloma e encontrou um pouco de paz e pintou «Alegria de Viver».
Aos 87 anos, produziu em sete meses uma série de 347 gravuras recuperando os temas da juventude: «o circo», «as touradas», «o teatro», «as situações eróticas». 
Como uma honra especial a ele, no seu 90º aniversário, são comemorados com exposição na grande galeria do Museu do Louvre. Torna-se assim o primeiro artista vivo a expor os seus trabalhos no famoso museu francês. Pablo Picasso morreu em Mougins, França com 91 anos de idade.
Diz-se que levou toda a sua vida a saber pintar como uma criança.
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Edouard Manet: Um dos pintores da arte moderna


Édouard Manet (1832-Paris-1883) foi um pintor e artista gráfico francês e uma das figuras mais importantes da arte do século XIX. «Os gostos de Manet não vão para os tons fortes utilizados na nova estética impressionista. Prefere os jogos de luz e de sombra, restituindo ao nu a sua crueza e a sua verdade, muito diferente dos nus adocicados da época. O trabalhado das texturas é apenas sugerido, as formas, simplificadas. Os temas deixaram de ser impessoais ou alegóricos, passando a traduzir a vida da época, e em certos quadros, seguiam a estética naturalista de Zola e Maupassant.»
O estilo de Manet tinha os seus opositores no tocante aos temas, mas também pela técnica, que escapava às convenções académicas. Frequentemente inspirado pelos mestres clássicos e em particular pelos espanhóis do «século de ouro», Manet influenciou certos precursores do impressionismo, em virtude da pureza de sua abordagem. A liberação das associações literárias tradicionais, cómicas ou moralistas, com a pintura, deve o facto de ser considerado um dos fundadores da arte moderna. As principais obras foram, «Almoço na relva ou Almoço no Campo», «Olímpia», «A sacada», «O tocador de pífaro» e «A execução de Maximiliano».
Manet era um jovem amigável e sociável. Quando começou a fazer sucesso foi prontamente aceito em círculos de intelectuais e aristocratas parisienses e frequentava assiduamente os Jardins das Tulherias.

A obra A música na Tulherias marca o seu rompimento com o realismo em sua primeira obra impressionista. Manet morreu com 51 anos e está enterrado no cemitério de Passy, em Paris.
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Mario Laginha: O jazz como «fundo»

Mário Laginha aprendeu piano e guitarra na infância. A ideia de seguir a carreira de pianista tomou forma quando ouviu Keith Jarrett. Estudou piano na escola de jazz «Louisiana dirigida por Luís Villas Boas, e depois na Academia de Amadores de Música e no Conservatório, onde teve como professores Carla Seixas e Jorge Moyano.
O primeiro trabalho profissional aconteceu no teatro, na peça Baal, de Brecht, no Teatro da Trindade. Mas a entrada a sério no mundo do jazz deu-se ao integrar o quinteto da cantora Maria João, com o qual gravou dois discos nos anos 1980: Quinteto Maria João (1983) e Cem Caminhos (1985), com standards e alguns originais.
Mário Laginha foi investindo cada vez mais nas suas próprias composições, afastando-se da interpretação do jazz clássico e dos standards. Em 1987, com o apoio da Fundação Gulbenkian, estreou o Decateto de Mário Laginha durante o festival Jazz em Agosto; as composições e arranjos eram totalmente seus. Nesse mesmo ano, foi considerado pela crítica o melhor músico de Jazz português.
Ao longo dos anos tem vindo a trabalhar em parceria com outros grandes nomes da música portuguesa.
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Clara WiecK (Schumann): Esposa e musa inspiradora



Aos 17 anos, em Leipzig, Robert Schumann conheceu aquela que veio a ser a sua mulher e musa inspiradora durante toda a sua vida.
Com apenas oito anos, Clara Wieck, uma menina loura de olhos claros, tocava como um anjo...
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Jaime Cortesão: Política, história e cidadania

 (1884-1949)

A vida e obra de Jaime Cortesão são bem conhecidas, havendo, sobre tal matéria, numerosa bibliografia, mas esta realidade não impede que esta personalidade deva continuar a merecer a nossa atenção, pelo que é de enaltecer a edição do livro de Elisa Maria Mendes das Neves Travessa, aqui apresentado, e que resulta da revisão de um trabalho apresentado inicialmente em 2002 como tese de mestrado em História Contemporânea na Universidade de Lisboa. De ora avante este volume passa a constituir um dos trabalhos mais completos que se publicou sobre uma das personalidades mais importantes da cultura portuguesa do século XX, e quel traz novidades resultantes de pesquisas de arquivo.

A autora começou por acompanhar o percurso de Jaime Cortesão centrado em iniciativas culturais, tais como as revistas Águia e Renascença, para depois acompanhar o seu pensamento pedagógico e actividade na Seara Nova, analisando de seguida a sua acção política e o pensamento histórico.
Seria benéfico que Elisa Neves Travessa, depois de um trabalho tão esforçado, que se queda em 1940, o continuasse para a última fase da vida do autor que corresponde aos vinte anos após 1940, quando foi obrigado a exilar-se no Brasil, até ao regresso a Portugal, onde veio a morrer em 1960.
FCGulbenkian/ASA/recenseador José Manuel Garcia, 2005.
Elisa N. Travessa/JDACT (Jaime Cortesão)

Joly Braga Santos: Um «inventor» de música

Joly Braga Santos (1924-1988), nasceu em Lisboa e foi um compositor de música erudita e maestro português. Durante a sua vida, que terminou quando estava no máximo da sua criatividade, escreveu seis sinfonias. Desde «tenra» idade se interessou pela música, nomeadamente ao tocar violino. Estudou violino e composição no Conservatório de Lisboa, onde foi aluno de Luís de Freitas Branco. Provando ser o seu aluno mais talentoso, Joly herdou do mais «proeminente compositor da altura» a paleta de cores das suas orquestrações.
Para a sua formação musical muito contribuiu o maestro Pedro de Freitas Branco, dando a conhecer a obra de Braga Santos em todo o mundo. O próprio compositor lembra: «Ele ajudou-me de uma forma espantosa e abriu caminho à formação que mais tarde eu viria a ter.»

Durante a sua juventude procurou inspiração na tradição portuguesa, especialmente na obra do seu mestre Luís de Freitas Branco. O antigo folclore português e o polifonismo renascentista está bem presente no seu primeiro período, durante o qual compõe as suas primeiras quatro sinfonias. Estas obras foram compostas entre os 22 e os 27 anos de idade. Mas antes de completar os seus 20 anos, o compositor transpôs para música textos de Antero de Quental, Fernando Pessoa e Luís de Camões, que voltaria a ser fonte de inspiração da sua 6ª Sinfonia.
O contacto com a Europa acontece com a sua ida para Itália, onde foi bolseiro para musicologia, composição musical e direcção de orquestra.
No seu regresso a Portugal, Joly tornou-se uma figura de destaque na direcção de orquestra e durante um longo período de tempo deixou de lado a composição. Foi um período «sabático».
A sua maior criação, a Quinta Sinfonia foi composta em 1965, o seu último trabalho orquestral, pois a Sexta Sinfonia foi composta para coro e soprano.

A música de Joly Braga Santos pode ser vista como uma fusão dos vários estilos Europeus, particularmente da Europa Ocidental. Mas é o próprio quem diz: «Desde sempre entendi que tinha de criar o meu próprio estilo e a minha música devia ser o resultado dessa criação.»
A melodia era a razão de ser da música.
A UNESCO elegeu Joly Braga Santos como um dos 10 melhores compositores da música contemporânea.

Jazz: Bernardo Sassetti Trio

«Por esta energia, quase telepática  e pelos caminhos da música no momento que nos deixamos levar, a descobrir a empatia, que contamina o palco e a plateia...



 
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(riffsstrides.blogspo...)

Damião de Góis: Escritor e Humanista do Renascimento

(1502-1574)
UMinho
Damião de Góis nasceu em Alenquer e foi um historiador e humanista português, relevante personalidade do renascimento em Portugal. De mente enciclopédica, foi um dos espíritos mais críticos da sua época, verdadeiro traço de união entre Portugal e a Europa culta do século XVI. Damião de Góis passou 10 anos da sua infância na corte de D. Manuel I como moço de câmara. Em 1523 foi colocado por D. João III como secretário da Feitoria Portuguesa de Antuérpia em atenção à sua ascendência flamenga.
Efectuou várias missões diplomáticas e comerciais na Europa entre 1528 e 1531. Em 1533 abandonou o serviço oficial do governo português e dedicou-se exclusivamente aos seus propósitos de humanista. Tornou-se amigo íntimo do humanista holandês Desiderius Eramus, com quem convive em Basileia em 1534 e que o guiou nos seus estudos assim como nos seus escritos. Estudou em Pádua entre 1534 e 1538 onde foi contemporâneo dos humanistas italianos Pietro Bembo e Lazzaro Buonamico.
Pela Europa muito se fala de um frade agostinho rebelado contra Roma, de nome Martinho Lutero e da sua excomunhão em 1520; que outro grande vulto da época, Erasmo de Roterdão (Desiderius) publica o Elogio da loucura, o humanista que, embora não renegue o catolicismo, é motivo de desconfiança para a Igreja, pela sua tolerância, pela defesa pertinaz do diálogo como forma de entendimento e concórdia; conhece Melanchton e frequentou a sua casa.

Damião de Góis foi feito prisioneiro durante a invasão francesa da Flandres mas foi libertado pela intervenção de Dom João III que o trouxe para Portugal. Em 1548 foi nomeado guarda-mor dos Arquivos Reais da Torre do Tombo, e dez anos mais tarde foi escolhido pelo cardeal D. Henrique para escrever a crónica oficial do rei D. Manuel I que foi completada em 1567.

Capa da Chronica do felicissimo rei Dom Manuel, Lisboa, 1566-1567

As suas maiores obras em latim e em português são históricas. Incluem a Crónica do Felicíssimo Rei Dom Emanuel (quatro partes, 1566–67) e a Crónica do Príncipe Dom João (1567). Ao contrário do seu contemporâneo João de Barros, ele manteve uma posição neutra nas suas crónicas sobre o rei Dom Manuel I e do seu filho o príncipe João, depois João III de Portugal.
No entanto este trabalho histórico desagradou a algumas famílias nobres, e em 1571 Damião de Góis caiu nas garras do Santo Ofício (Inquisição) de maneira brutal. Foi preso, sujeito a processo e depois, em 1572, foi transferido para o Mosteiro da Batalha.
Trágico fim de vida. Abandonado pela família, apareceu morto com suspeitas de assassinato, na sua casa de Alenquer, sendo enterrado na igreja de Santa Maria da Várzea, da mesma vila.
(Aconselho a leitura do texto de Orlando Neves, vidaslusofonas)
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domingo, 28 de março de 2010

Carlos Seixas:O compositor do barroco e o Cravo



Carlos Seixas gozava da fama de ser músico e professor excelente. Na capital, Lisboa, impôs-se como organista, cravista e compositor. No que diz respeito à composição, Carlos Seixas foi um dos maiores compositores portugueses para a música de tecla. Fez escola em Portugal criando um estilo próprio, que foi imitado durante algum tempo após a sua morte.

(1704-1742)
No século XVIII era exigido aos compositores que a sua música fosse fiel aos pensamentos e ideais estéticos do meio. A composição era limitada a um rol de características previamente definidas, facto que devemos levar em conta quando analisamos a obra dos compositores.
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