Na Galiza e entre Douro e Minho, floresceu uma poesia, escrita em galaico-português. Desde os começos da nacionalidade (século XII) até, pelo menos, à morte de D. Dinis (1325) cantigas de amigo, cantigas de amor e cantigas de escárnio e mal dizer, constituem prova da vitalidade da poesia galaico portuguesa.
Há quem estabeleça uma cronologia da poesia galaico-portuguesa, dividindo-a por períodos e designando-as pelos nomes dos reis trovadores ou protectores de trovadores que a cultivaram ou protegeram. Assim, teria havido um período pré-afonsino até 1245; o período afonsino de 1245 a 1284; o dionisíaco – de D. Dinis - fixar-se-ia pelos anos de 1300.
Cantigas de amor, de amigo e de escárneo e mal dizer são classificações que decorrem de as primeiras tratarem dos males de amor, sendo uma característica das cantigas de amigo. O fingirem que são lidos por uma mulher, que lamenta a ausência do amigo, conta como o amigo partiu e não dá notícias, etc. As cantigas de escárneo e mal dizer são composições satíricas, em que, com maior ou menor violência, se atacam pessoas, se criticam acontecimentos. As cantigas de amor quer pelos temas abordados, quer pela estrutura, parece estarem próximas e ter recebido acentuadas influências da chamada lírica trovadoresca provençal. Há uma série de elementos, como os louvores e exaltação da mulher, misticamente reverenciada, a obrigação de guardar segredo da paixão, certas regras da arte de servir e amar sua dama, que justificam o parentesco entre as cantigas de amor provençais e as cantigas de amor galaico-portuguesas.
A ironia de D. Dinis que «à maneira de proençal» declara querer fazer um cantar de amor e, com intenção de crítica, censura certas regras do trovar provençalesco.
Qual é a originalidade da nossa poesia trovadoresca? A resposta não é fácil. A nossa poesia trovadoresca tem, sobretudo, nas cantigas de amigo, um frescor e uma qualidade que levou já alguns especialistas a serem os defensores da originalidade desta poesia. Disse-se já que a saudade é portuguesa. D. Duarte no seu Leal Conselheiro, Duarte Nunes de Lião, D. Francisco Manuel de Melo e tantos outros procuraram na saudade, de certo modo, a definição do ser português. Nesta perspectiva, a originalidade da nossa poesia trovadoresca, estaria na obcessão da saudade, nascida do amor e da ausência. Quase não há cantiga de amigo que o não seja de saudade.
Que soidade de mha senhor ei,
quando me nembra d’ela qual a vi
e que me nembra que bem a oí
falar, e, por quant ben d’ela sei,
rogu’eu a Deus, que end’ á o poder,
que mha leixe, se lhi prouguer, ver
(D. Dinis)
(D. Dinis)
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