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quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

O Símbolo Perdido. Dan Brown. «Impossível. O sr. Solomon está preso num lugar nada agradável. O homem fez uma pausa. Ele está no Araf»

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«(…) Robert Langdon parou na soleira da porta do Salão Nacional das Estátuas, petrificado, e estudou a surpreendente cena à sua frente. A sala era exactamente como ele se lembrava, um semicírculo harmonioso, construído no mesmo estilo de um anfiteatro grego. As graciosas paredes curvas de arenito e marmorino italiano eram pontuadas por colunas de breccia multicolorida, entremeadas pela colecção nacional de estátuas, esculturas em tamanho natural de 38 norte-americanos importantes, dispostas ao redor de um vasto espaço revestido com ladrilhos de mármore preto e branco. Tudo estava do mesmo jeito que no dia da palestra que assistira ali. Excepto por um detalhe. Desta vez, o salão estava deserto. Nada de cadeiras. Nada de espectadores. Nada de Peter Solomon. Apenas um punhado de turistas zanzando para lá e para cá, alheios à entrada triunfal de Langdon. Será que Peter quis dizer na Rotunda? Ele espiou pelo corredor sul na direcção da Rotunda e viu turistas circulando por lá também. Os ecos das badaladas do relógio haviam silenciado. Agora Langdon estava oficialmente atrasado. Ele voltou às pressas para o corredor e encontrou um guia turístico. Com licença, onde será a palestra do evento do Smithsonian hoje à noite? O guia hesitou. Não saberia dizer, senhor. Quando vai começar? Agora! O homem balançou a cabeça. – Não estou sabendo de nenhum evento do Smithsonian hoje à noite..., pelo menos não aqui.

Atarantado, Langdon voltou depressa para o meio do salão, correndo os olhos por todo o espaço. Será que isso é algum tipo de brincadeira de Solomon? A hipótese lhe parecia inimaginável. Pegou no telefone móvel e o fax recebido naquela manhã e discou o número de Peter. O telefone levou alguns segundos para captar um sinal dentro do imenso prédio. Por fim, começou a tocar. O conhecido sotaque sulista atendeu. Escritório de Peter Solomon, Anthony. Em que posso ajudar? Anthony!, disse Langdon, aliviado. Que bom que você ainda está aí. Aqui é Robert Langdon. Parece que está havendo alguma confusão em relação à palestra. Estou no meio do Salão das Estátuas, mas não há ninguém aqui. A palestra foi transferida para alguma outra sala? Acho que não, professor. Deixe-me verificar. O assistente fez uma pausa. O senhor confirmou directamente com o sr. Solomon? Langdon ficou confuso. Não, eu confirmei com o Anthony. Hoje de manhã! Sim, eu me lembro disso. Houve um silêncio na linha. Foi um pouco descuidado da sua parte, não acha, professor? Àquela altura, Langdon estava totalmente alerta. Como disse? Pense no seguinte..., disse o homem. O senhor recebeu um fax pedindo-lhe que ligasse para um número de telefone, o que fez sem titubear. Falou com um total desconhecido que se apresentou como assistente de Peter Solomon. Em seguida, o senhor embarcou por livre e espontânea vontade num jacto particular para Washington e entrou num carro que o estava aguardando. Correto?

Langdon sentiu um calafrio percorrer seu corpo. Quem está falando, droga? Onde está Peter? Infelizmente, acho que Peter Solomon não tem a menor ideia de que o senhor está em Washington hoje. O sotaque sulista do homem desapareceu, e a sua voz se transformou num sussurro mais grave, açucarado. O senhor está aqui, professor Langdon, porque eu quero que esteja.

No Salão das Estátuas, Robert Langdon pressionou o telefone móvel contra a orelha e pôs-se a andar de um lado para o outro num círculo fechado. Quem é você, droga? A resposta do homem veio num sussurro sedoso, calmo. Não fique alarmado, professor. O senhor foi convocado a vir aqui por um motivo. Convocado? Langdon sentiu-se como um animal enjaulado. Que tal sequestrado? Não é bem assim. A voz do homem era de uma serenidade sinistra. Se eu quisesse machucá-lo, o senhor agora estaria morto dentro daquele Lincoln. Ele deixou as palavras pairarem no ar por alguns instantes. As minhas intenções são as mais nobres possíveis, posso garantir. Eu gostaria simplesmente de lhe fazer um convite.

Não, obrigado. Desde as suas experiências na Europa nos últimos anos, a indesejada celebridade o transformara num ímã de malucos, e aquele ali havia acabado de ultrapassar os limites. Olhe aqui, não sei que diabos está acontecendo, mas vou desligar... Eu não faria isso, disse o homem. A sua janela de oportunidade é muito pequena se deseja salvar a alma de Peter Solomon. Langdon puxou o ar com força. O que foi que você disse? Tenho certeza de que o senhor me ouviu. A forma como aquele homem pronunciara o nome de Peter deixou Langdon petrificado. O que você sabe sobre Peter? Neste exacto momento eu conheço os mais profundos segredos dele. O sr. Solomon é meu convidado, e eu sei ser um anfitrião persuasivo. Isto não pode estar acontecendo.

Você não está com Peter. Eu atendi o telemóvel dele. Isso deveria fazer o senhor parar e pensar. Vou chamar a polícia. Não precisa, disse o homem. As autoridades estarão com o senhor daqui a pouco. Do que esse louco está falando? O tom de Langdon ficou mais ríspido. Se está com Peter, ponha ele na linha agora mesmo. Impossível. O sr. Solomon está preso num lugar nada agradável. O homem fez uma pausa. Ele está no Araf». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.

Cortesia de BertrandE/JDACT

JDACT, Dan Brown, Washington D.C., Literatura, Maçonaria,

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Dan Brown. O Símbolo Perdido. «Então andou até ao detector de metais e esvaziou os bolsos. Ao tirar do pulso o Cartier de ouro, sentiu a costumeira pontada de tristeza. O relógio fora presente da mãe…»

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«(…) As badaladas de um relógio começaram a ecoar pelos corredores do Capitólio. Sete horas. Àquela altura, Robert Langdon estava correndo. Isso é o que eu chamo de entrada dramática. Ao passar pelo corredor de ligação da Câmara, viu a entrada do Salão Nacional das Estátuas e se encaminhou directo para lá. Ao se aproximar da porta, diminuiu o passo até um ritmo descontraído e respirou fundo várias vezes. Abotoando o casaco, ergueu o queixo só um pouquinho e fez a curva bem na hora em que soava a última badalada. Hora do show. Ao entrar no salão, o professor Robert Langdon ergueu os olhos e abriu um sorriso caloroso. Um segundo depois, o sorriso evaporou. Ele estacou na hora. Alguma coisa estava muito, muito errada.

Katherine Solomon atravessou apressada o estacionamento sob a chuva fria, desejando estar usando algo mais do que uma calça jeans e um blusa de caxemira. Ao se aproximar da entrada principal do complexo, o ronco dos gigantescos purificadores de ar ficou mais alto. Ela mal os escutou, pois os seus ouvidos ainda estavam zumbindo por causa do telefonema que acabara de receber. Aquilo que seu irmão acredita que está escondido na capital... pode ser encontrado. Katherine achava isso quase impossível. Ela e a pessoa do telefone ainda tinham muito a conversar e haviam combinado fazer isso mais tarde naquela noite. Quando chegou à entrada principal, ela se viu invadida pela mesma empolgação que sempre sentia ao entrar no edifício gigantesco. Ninguém sabe que este lugar existe. A placa na porta dizia: Centro de Apoio dos Museus Smithsonian (CAMS)

Apesar de contar com mais de uma dúzia de enormes museus no National Mall, o Instituto Smithsonian possuía uma colecção tão descomunal que apenas 2% do acervo podia ser exibido ao mesmo tempo. Os outros 98% precisavam ser guardados em algum lugar. E o lugar..., era ali. Não era de espantar que aquele complexo abrigasse uma colecção de artefactos surpreendentemente diversificada: Budas gigantes, códices escritos à mão, dardos envenenados da Nova Guiné, facas incrustadas de jóias, um caiaque feito de osso de baleia. Igualmente de cair o queixo eram os tesouros naturais do complexo: fósseis de plesiossauro, uma colecção de meteoritos de valor inestimável, uma lula gigante e até mesmo uma colecção de crânios de elefante trazida por Teddy Roosevelt de um safari na África. Mas não fora por nenhum desses motivos que o secretário do Smithsonian, Peter Solomon, havia levado sua irmã ao CAMS três anos antes. Ele a chamara até ali não para ver maravilhas científicas, mas sim para criá-las. E era exactamente isso o que Katherine vinha fazendo.

Bem lá no fundo desse complexo, na escuridão de seus recantos mais remotos, havia um pequeno laboratório científico diferente de todos os outros do mundo. As recentes descobertas feitas ali por Katherine no campo da ciência noética tinham ramificações em todas as disciplinas, da física à história, à filosofia e à religião. Logo tudo irá mudar, pensou ela. Quando Katherine chegou ao saguão, o guarda que ocupava o balcão da entrada guardou rapidamente o rádio e arrancou das orelhas os fones de ouvido. Sra. Solomon! Ele deu um largo sorriso. Redskins? Ele corou, parecendo culpado. O jogo ainda não começou. Ela sorriu.

Então andou até ao detector de metais e esvaziou os bolsos. Ao tirar do pulso o Cartier de ouro, sentiu a costumeira pontada de tristeza. O relógio fora presente da mãe no seu aniversário de 18 anos. Quase 10 anos já haviam transcorrido desde que a mãe morrera de forma violenta..., seu corpo aninhado nos seus braços. Então, sra. Solomon?, sussurrou o guarda em tom de brincadeira. Algum dia vai contar a alguém o que está fazendo lá atrás? Ela ergueu os olhos. Algum dia, Kyle. Hoje não. Por favor, insistiu ele. Um laboratório secreto..., dentro de um museu secreto? A senhora deve estar fazendo alguma coisa bacana. Muito mais que bacana, pensou Katherine enquanto juntava os seus pertences. A verdade era que ela estava praticando uma ciência tão avançada que nem sequer parecia mais ciência». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.

Cortesia de BertrandE/JDACT

JDACT, Dan Brown, Washington D.C., Literatura, Maçonaria,

domingo, 17 de janeiro de 2021

Dan Brown. O Símbolo Perdido. «Centenas de anos atrás, há quem diga que em 1703, foi fundado um braço feminino chamado Estrela do Oriente»

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«(…) Pelo contrário. Um dos pré-requisitos para se tornar maçom é que precisa acreditar numa força superior. A diferença entre a espiritualidade Maçónica e uma religião organizada é que os maçons não impõem a esse poder nenhuma definição específica ou nomenclatura. Em vez de identidades teológicas definitivas como Deus, Alá, Buda ou Jesus, os maçons usam termos mais genéricos como Ser Supremo ou Grande Arquitecto do Universo. Isso possibilita a união de maçons de crenças diferentes. Parece meio esquisito, comentou alguém. Ou, quem sabe, estimulante e libertador? – sugeriu Langdon. Nesta época em que culturas diferentes se matam para saber qual é a melhor definição de Deus, poderíamos afirmar que a tradição maçónica de tolerância e liberdade é louvável. Langdon caminhou pelo tablado. Além do mais, a Maçonaria está aberta a homens de todas as raças, cores e credos, e proporciona uma fraternidade espiritual que não faz qualquer tipo de discriminação.

Não faz discriminação? Uma integrante da Associação de Alunas da universidade se levantou. Quantas mulheres têm permissão para serem maçons, professor Langdon? Langdon ergueu as mãos, rendendo-se. Bem colocado. As raízes tradicionais da Franco-maçonaria são as guildas de pedreiros da Europa, o que a tornava, portanto, uma organização masculina. Centenas de anos atrás, há quem diga que em 1703, foi fundado um braço feminino chamado Estrela do Oriente. Essa organização possui mais de um milhão de integrantes. Mesmo assim, disse a mulher, a Maçonaria é uma organização poderosa da qual as mulheres estão excluídas. Langdon não sabia ao certo quão poderosos os maçons ainda eram e não estava disposto a enveredar por essa seara. As opiniões sobre os maçons modernos iam de um bando de velhotes inofensivos que gostavam de se fantasiar..., até um conluio secreto de figurões que controlava o mundo. A verdade estava sem dúvida em algum lugar entre essas duas concepções.

Professor Langdon, disse um rapaz de cabelos encaracolados na última fileira, se a Maçonaria não é uma sociedade secreta, nem uma empresa, nem uma religião, então o que é? Bem, se perguntasse isso a um maçom, ele daria a seguinte definição: a Franco-maçonaria é um sistema de moralidade envolto em alegoria e ilustrado por símbolos. Isso me parece um eufemismo para seita de malucos. Malucos, disse? É isso!, disse o aluno, levantando-se. Sei muito bem o que eles fazem dentro desses prédios secretos! Rituais esquisitos à luz de velas, com caixões, forcas e crânios cheios de vinho para beber. Isso, sim, é maluquice! Langdon correu os olhos pela sala. Alguém mais acha que isso é maluquice? Sim!, entoaram os alunos em coro. Langdon deu suspiro fingido de tristeza. Que pena. Se isso é maluco demais para vós, então sei que nunca vão querer entrar para a minha seita. Um silêncio recaiu sobre a sala. A integrante da Associação de Alunas pareceu incomodada.

O senhor faz parte de uma seita? Langdon assentiu com a cabeça e baixou a voz até um sussurro conspiratório. Não contem para ninguém, mas, no dia em que o deus-sol Rá é venerado pelos pagãos, eu me ajoelho aos pés de um antigo instrumento de tortura e consumo símbolos ritualísticos de sangue e carne. A turma toda fez uma cara horrorizada. Langdon deu de ombros. E, se algum de vós quiser se juntar a mim, vá à capela de Harvard no domingo, ajoelhe-se diante da cruz e faça a santa comunhão. A sala continuou em silêncio. Langdon deu uma piscadela. Abram a mente, meus amigos. Todos nós tememos aquilo que foge à nossa compreensão». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.

Cortesia de BertrandE/JDACT

JDACT, Dan Brown, Washington D.C., Literatura, Maçonaria,

sábado, 16 de janeiro de 2021

O Símbolo Perdido. Dan Brown. «Os maçons são uma sociedade supersecreta! Supersecreta? É mesmo? Langdon se lembrou do grande anel maçónico que seu amigo Peter Solomon ostentava…»

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«(…) A pedra angular foi assente nessa data e hora simplesmente porque, entre outras coisas, a auspiciosa Caput Draconis estava em Virgem. Todos trocaram olhares intrigados. Espere aí, disse alguém. O senhor está falando de..., astrologia? Exacto. Embora seja uma astrologia diferente da que conhecemos hoje em dia. Alguém levantou a mão. Está querendo dizer que os nossos pais fundadores acreditavam em astrologia? Langdon deu um sorriso. E muito. O que diria se eu lhe contasse que a cidade de Washington tem mais signos astrológicos na sua arquitectura do que qualquer outra cidade do mundo..., zodíacos, mapas de estrelas, pedras angulares assentes em datas e horários astrológicos precisos? Mais da metade dos homens que elaboraram a nossa Constituição eram maçons, estavam convencidos de que as estrelas e o destino eram interligados e prestavam muita atenção à posição dos astros no céu enquanto estruturavam seu novo mundo. Mas essa história toda de a pedra angular do Capitólio ter sido assente quando Caput Draconis estava em Virgem... Que diferença faz? Não pode ser só coincidência? Uma coincidência impressionante, considerando-se que as pedras angulares das três estruturas que formam o Triângulo Federal, ou seja, o Capitólio, a Casa Branca e o Monumento a Washington, foram todas assentes em anos diferentes, mas tudo foi cuidadosamente programado para que isso ocorresse exactamente nessas mesmas condições astrológicas.

Langdon se deparou com uma sala cheia de olhos arregalados. Algumas cabeças se abaixaram à medida que os alunos começavam a tomar notas. Alguém levantou a mão no fundo da sala. Porque eles fizeram isso? Langdon deu uma risadinha. A resposta para essa pergunta é material para um semestre inteiro. Se estiver curioso, deve fazer o meu curso sobre misticismo. Para ser franco, não acho que estejam emocionalmente preparados para ouvir a resposta. Como assim?, gritou o aluno. Experimente! Langdon fez uma pausa exagerada, como se estivesse pensando no assunto, e em seguida balançou a cabeça, brincando com os alunos. Desculpe, não posso. Alguns de vós são calouros. Tenho medo de impressioná-los. Conte para nós!, gritaram todos. Langdon deu de ombros. Talvez devessem virar maçons ou membros da Ordem da Estrela do Oriente e descobrir a resposta na origem. Nós não pode entrar, argumentou um rapaz. Os maçons são uma sociedade supersecreta!

Supersecreta? É mesmo? Langdon se lembrou do grande anel maçónico que seu amigo Peter Solomon ostentava com orgulho na mão direita. Então porque os maçons usam anéis, prendedores de gravatas ou broches maçónicos à vista de todos? Porque os prédios maçónicos possuem indicações claras? Porque os horários das suas reuniões são publicados no jornal? Langdon sorriu ao ver todas as expressões intrigadas. Meus amigos, os maçons não são uma sociedade secreta..., eles são uma sociedade com segredos. Dá na mesma, murmurou alguém. É?, desafiou Langdon. Diria que a Coca-Cola é uma sociedade secreta? É claro que não, respondeu o aluno. Bom, e se batesse na sede da corporação e pedisse a receita da Coca-Cola original? Eles nunca iriam me dar. Exactamente. Para conhecer o maior segredo da Coca-Cola, precisaria entrar para a empresa, trabalhar por muitos anos, provar que é de confiança e, depois de muito tempo, alcançar os mais altos escalões, nos quais essa informação poderia ser compartilhada. E então assinaria um termo de confidencialidade. Então o senhor está dizendo que a Franco-maçonaria é como uma grande empresa?

Só na medida em que tem uma hierarquia rígida e leva a confidencialidade muito a sério. Meu tio é maçom, entoou a voz aguda de uma moça. E a minha tia detesta, porque ele não conversa sobre isso com ela. Ela diz que a Maçonaria é tipo uma religião estranha. Um equívoco muito comum. Mas então não é uma religião? Façam a prova dos nove, disse Langdon. Quem aqui assistiu ao curso do professor Whiterspoon sobre religião comparada? Várias mãos se levantaram. Muito bem. Então me digam, quais são os três pré-requisitos para uma ideologia ser considerada religião? Garantir, acreditar, converter, respondeu uma jovem. Correcto, disse Langdon. As religiões garantem a salvação; as religiões acreditam numa teologia específica; e as religiões convertem os não fiéis. Ele fez uma pausa. Mas a Maçonaria não se enquadra em nenhum desses três critérios. Os maçons não fazem promessas de salvação, não têm uma teologia específica, nem tentam converter ninguém. Na verdade, nas lojas maçónicas, conversas sobre religião são proibidas. Então..., a Maçonaria é antireligiosa?» In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.

Cortesia de BertrandE/JDACT

JDACT, Dan Brown, Washington D.C., Literatura, Maçonaria,

domingo, 20 de dezembro de 2020

Dan Brown. O Símbolo Perdido. «O mural mostra o pai do nosso país usando um tripé e uma polia para assentar a pedra angular do Capitólio em 18 de Setembro de 1793, entre 11h15 e 12h30»

 

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«(…) Interessante, disse Langdon, mas está longe de ser convincente. Se traçar um número suficiente de linhas de intersepção num mapa, obrigatoriamente vai encontrar todo o tipo de forma. Mas não pode ser coincidência!, exclamou o aluno. Com paciência, Langdon lhe mostrou que as mesmas formas podiam ser desenhadas num mapa de Detroit. O rapaz pareceu profundamente desapontado. Não desanime, disse Langdon. Washington de facto tem alguns segredos incríveis..., só que nenhum deles está neste mapa. O jovem se empertigou. Segredos? De que tipo? Todas as Primaveras, eu dou um curso chamado Símbolos Ocultos. Falo muito sobre a capital. Você deveria se matricular. Símbolos ocultos! O caloiro pareceu novamente animado. Então existem mesmo símbolos demoníacos na capital! Langdon sorriu.

Desculpe, mas a palavra oculto, apesar de remeter a imagens de adoração ao demónio, na verdade significa escondido ou velado. Em épocas de opressão religiosa, todo o conhecimento que contrariasse a doutrina tinha de ser escondido ou oculto e, como a Igreja se sentia ameaçada por isso, redefiniu tudo o que fosse oculto como uma coisa má, e o preconceito perdurou. Ah. O rapaz encurvou os ombros. Ainda assim, naquela Primavera, Langdon reconheceu o rapaz sentado na primeira fila no meio dos 500 alunos que enchiam o Teatro Sanders de Harvard, uma antiga sala de conferências cheia de ecos, com assentos de madeira que rangiam.

Bom dia a todos, exclamou de cima do grande tablado. Ligou um projector de slides, e uma imagem se materializou às suas costas. Enquanto se acomodam, quantos de vocês reconhecem o prédio desta foto? O Capitólio dos Estados Unidos!, ecoaram em uníssono dezenas de vozes. Em Washington! Isso mesmo. Há mais de quatro milhões de quilos de ferro nessa cúpula. Um feito incomparável de engenhos idade arquitectónica para os anos 1850. Surreal!, gritou alguém. Langdon revirou os olhos, desejando que alguém banisse aquela expressão. Muito bem, e quantos de vocês já foram a Washington? Umas poucas mãos se levantaram. Só isso? Langdon fingiu surpresa. E quantos de vocês já foram a Roma, Paris, Madrid ou Londres? Quase todas as mãos da sala se levantaram.

Como sempre. Um dos ritos de passagem para os universitários norte-americanos era viajar de trem pela Europa nas férias de verão antes de encarar a dura realidade da vida. Parece que há mais gente aqui que já visitou a Europa do que a sua própria capital. Qual a explicação para isso? Na Europa não existe idade mínima para beber!, gritou alguém no fundo da sala. Langdon sorriu.

E por acaso a idade mínima daqui impede algum de vocês de beber? Todos riram. Era o primeiro dia de aula, e os alunos estavam demorando mais do que de costume para se acomodarem, remexendo-se e fazendo ranger os bancos de madeira. Langdon adorava lecionar naquela sala porque podia medir o grau de interesse da turma escutando quanto as pessoas se agitavam nos bancos.

Falando sério, disse Langdon, a arquitectura, a arte e o simbolismo de Washington estão entre os mais interessantes do mundo. Porque cruzam oceano antes de visitar a sua própria capital? As coisas mais antigas são mais legais, disse alguém. E por coisas antigas, esclareceu Langdon, suponho que queira dizer castelos, criptas, templos, esse tipo de coisa? Cabeças aquiesceram simultaneamente. Muito bem. Mas e se eu dissesse que Washington tem todas essas coisas? Castelos, criptas, pirâmides, templos..., está tudo lá.  Os rangidos diminuíram. Meus amigos, disse Langdon, baixando a voz e avançando até à beira do tablado, ao longo da próxima hora, vão descobrir que o nosso país transborda de segredos e de histórias ocultas. E, exactamente como na Europa, todos os melhores segredos estão escondidos à vista de todos. Os bancos de madeira silenciaram por completo.

Pronto.

Langdon diminuiu as luzes e passou para o slide seguinte. Quem me pode dizer o que George Washington está fazendo aqui? O slide era de um conhecido mural que mostrava George Washington vestido com os trajes completos de um maçom, parado diante de uma estranha engenhoca, um gigantesco tripé de madeira com um sistema de cordas e polias, no qual estava suspenso um imenso bloco de pedra. Um grupo de espectadores bem-vestidos o rodeava. Levantando esse grande bloco de pedra?, arriscou alguém. Langdon não disse nada, pois preferia, sempre que possível, que algum outro aluno fizesse a correcção. Na verdade, sugeriu outro aluno, acho que Washington está baixando a pedra. Ele está vestido com trajes maçónicos. Já vi imagens de maçons assentando pedras angulares. Na cerimónia sempre tem essa espécie de tripé para colocar a primeira pedra. Excelente, disse Langdon. O mural mostra o pai do nosso país usando um tripé e uma polia para assentar a pedra angular do Capitólio em 18 de Setembro de 1793, entre 11h15 e 12h30. Langdon fez uma pausa, correndo os olhos pela sala. Alguém pode me dizer o significado dessa data e hora?

Silêncio.

E se eu dissesse que esse momento exacto foi escolhido por três famosos maçons: George Washington, Benjamin Franklin e Pierre L'Enfant, o principal arquitecto da capital?

Mais silêncio». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.

Cortesia de BertrandE/JDACT

JDACT, Dan Brown, Washington D.C., Literatura, Maçonaria,

sábado, 19 de dezembro de 2020

O Símbolo Perdido. Dan Brown. «Não era nenhum segredo a capital norte-americana ter uma rica história maçónica. A própria pedra angular daquele prédio havia sido assentada por George Washington em pessoa durante um ritual completo de Maçonaria»

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«(…) O tecto era uma vasta superfície de vidro com uma série de impressionantes luminárias que lançavam um brilho ténue sobre os acabamentos interiores em tom de pérola. Normalmente, Langdon teria se demorado ali uma hora inteira para admirar a arquitectura, mas, com cinco minutos faltando para o início da palestra, abaixou a cabeça e percorreu apressado o saguão principal em direcção ao posto de controle de segurança e às escadas rolantes. Relaxe, disse a si mesmo. Peter sabe que está a caminho. O evento não vai começar sem você. No posto de controle, um jovem guarda hispânico conversou com Langdon enquanto ele esvaziava os bolsos e retirava do pulso o relógio antigo. Mickey Mouse?, indagou o guarda, parecendo achar um pouco de graça. Langdon assentiu, acostumado com aquele tipo de comentário. A edição de coleccionador do relógio do Mickey tinha sido presente dos pais no seu aniversário de 9 anos. Uso este relógio para me lembrar de ter calma e levar a vida menos a sério. Acho que não está dando certo, comentou o guarda com um sorriso. O senhor parece muito apressado.

Langdon sorriu e pôs a bolsa de viagem na esteira de raios X. Para que lado fica o Salão das Estátuas? O guarda fez um gesto em direcção às escadas rolantes. O senhor vai ver as placas. Obrigado. Langdon pegou a bolsa da esteira e se afastou depressa. Enquanto a escada rolante subia, ele respirou fundo e tentou organizar os pensamentos. Olhou para cima, através do tecto de vidro salpicado de chuva, para a cúpula iluminada do Capitólio, cujo formato parecia o de uma montanha. Era uma construção espantosa. A pouco mais de 90 metros de altura do chão, a estátua Liberdade Armada fitava a escuridão enevoada como uma sentinela fantasmagórica. Langdon sempre achara irónico o facto de os trabalhadores que haviam erguido cada pedaço da estátua de bronze de seis metros até lá em cima terem sido escravos, um segredo do Capitólio que raramente constava do currículo das aulas de História do ensino médio. Na verdade, todo aquele prédio era uma mina de ouro de mistérios bizarros, que incluíam uma banheira da morte responsável pelo assassinato por pneumonia do vice-presidente Henry Wilson, uma escadaria com uma mancha de sangue indelével na qual um número exagerado de visitantes parecia tropeçar, e uma câmara lacrada no subsolo dentro da qual, em 1930, trabalhadores descobriram o falecido cavalo empalhado do general John Alexander Logan.

Mas nenhuma lenda era tão longeva quanto os 13 fantasmas que supostamente assombravam o prédio. Muitos diziam que o espírito do arquitecto da cidade, Pierre L'Enfant, perambulava pelos salões tentando receber os seus honorários, a essa altura 200 anos atrasados. O fantasma de um operário que caíra da cúpula do Capitólio durante a construção era visto vagando pelos corredores com uma caixa de ferramentas. E, é claro, a mais famosa aparição de todas, que teria sido vista diversas vezes no subsolo do Capitólio, um gato preto efémero que percorria o sinistro labirinto de passagens estreitas e cubículos da subestrutura. Langdon saiu da escada rolante e tornou a verificar as horas. Três minutos. Percorreu apressado o corredor amplo, seguindo as placas que indicavam o Salão das Estátuas e ensaiando mentalmente as palavras inaugurais. Precisava admitir que o assistente de Peter tinha razão; o tema de sua palestra era perfeitamente adequado a um evento organizado em Washington por um célebre maçom.

Não era nenhum segredo a capital norte-americana ter uma rica história maçónica. A própria pedra angular daquele prédio havia sido assentada por George Washington em pessoa durante um ritual completo de Maçonaria. A cidade fora concebida e projectada por mestres maçons, George Washington, Benjamin Franklin e Pierre L'Enfant, mentes poderosas que enfeitaram a sua nova capital com simbolismo, arquitectura e arte maçónicas. As pessoas, é claro, projectam nesses símbolos todo tipo de ideias malucas. Muitos teóricos da conspiração alegam que os pais fundadores dos Estados Unidos esconderam poderosos segredos e mensagens simbólicas no desenho das ruas de Washington. Langdon nunca deu importância a isso. Informações equivocadas sobre os maçons eram tão comuns que mesmo alunos de Harvard pareciam ter noções surpreendentemente distorcidas a respeito da irmandade. No ano anterior, um caloiro havia entrado na sala de aula com os olhos esbugalhados, trazendo uma página impressa da internet. Era um mapa da capital no qual determinadas ruas haviam sido destacadas para formar diversos desenhos, pentáculos satânicos, um esquadro e um compasso maçónicos, a cabeça de Baphomet, provando aparentemente que os maçons que projectaram Washington estavam envolvidos em algum tipo de conspiração obscura e mística». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.

Cortesia de BertrandE/JDACT

JDACT, Dan Brown, Washington D.C., Literatura, Maçonaria,