quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Dan Brown. O Símbolo Perdido. «Então andou até ao detector de metais e esvaziou os bolsos. Ao tirar do pulso o Cartier de ouro, sentiu a costumeira pontada de tristeza. O relógio fora presente da mãe…»

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«(…) As badaladas de um relógio começaram a ecoar pelos corredores do Capitólio. Sete horas. Àquela altura, Robert Langdon estava correndo. Isso é o que eu chamo de entrada dramática. Ao passar pelo corredor de ligação da Câmara, viu a entrada do Salão Nacional das Estátuas e se encaminhou directo para lá. Ao se aproximar da porta, diminuiu o passo até um ritmo descontraído e respirou fundo várias vezes. Abotoando o casaco, ergueu o queixo só um pouquinho e fez a curva bem na hora em que soava a última badalada. Hora do show. Ao entrar no salão, o professor Robert Langdon ergueu os olhos e abriu um sorriso caloroso. Um segundo depois, o sorriso evaporou. Ele estacou na hora. Alguma coisa estava muito, muito errada.

Katherine Solomon atravessou apressada o estacionamento sob a chuva fria, desejando estar usando algo mais do que uma calça jeans e um blusa de caxemira. Ao se aproximar da entrada principal do complexo, o ronco dos gigantescos purificadores de ar ficou mais alto. Ela mal os escutou, pois os seus ouvidos ainda estavam zumbindo por causa do telefonema que acabara de receber. Aquilo que seu irmão acredita que está escondido na capital... pode ser encontrado. Katherine achava isso quase impossível. Ela e a pessoa do telefone ainda tinham muito a conversar e haviam combinado fazer isso mais tarde naquela noite. Quando chegou à entrada principal, ela se viu invadida pela mesma empolgação que sempre sentia ao entrar no edifício gigantesco. Ninguém sabe que este lugar existe. A placa na porta dizia: Centro de Apoio dos Museus Smithsonian (CAMS)

Apesar de contar com mais de uma dúzia de enormes museus no National Mall, o Instituto Smithsonian possuía uma colecção tão descomunal que apenas 2% do acervo podia ser exibido ao mesmo tempo. Os outros 98% precisavam ser guardados em algum lugar. E o lugar..., era ali. Não era de espantar que aquele complexo abrigasse uma colecção de artefactos surpreendentemente diversificada: Budas gigantes, códices escritos à mão, dardos envenenados da Nova Guiné, facas incrustadas de jóias, um caiaque feito de osso de baleia. Igualmente de cair o queixo eram os tesouros naturais do complexo: fósseis de plesiossauro, uma colecção de meteoritos de valor inestimável, uma lula gigante e até mesmo uma colecção de crânios de elefante trazida por Teddy Roosevelt de um safari na África. Mas não fora por nenhum desses motivos que o secretário do Smithsonian, Peter Solomon, havia levado sua irmã ao CAMS três anos antes. Ele a chamara até ali não para ver maravilhas científicas, mas sim para criá-las. E era exactamente isso o que Katherine vinha fazendo.

Bem lá no fundo desse complexo, na escuridão de seus recantos mais remotos, havia um pequeno laboratório científico diferente de todos os outros do mundo. As recentes descobertas feitas ali por Katherine no campo da ciência noética tinham ramificações em todas as disciplinas, da física à história, à filosofia e à religião. Logo tudo irá mudar, pensou ela. Quando Katherine chegou ao saguão, o guarda que ocupava o balcão da entrada guardou rapidamente o rádio e arrancou das orelhas os fones de ouvido. Sra. Solomon! Ele deu um largo sorriso. Redskins? Ele corou, parecendo culpado. O jogo ainda não começou. Ela sorriu.

Então andou até ao detector de metais e esvaziou os bolsos. Ao tirar do pulso o Cartier de ouro, sentiu a costumeira pontada de tristeza. O relógio fora presente da mãe no seu aniversário de 18 anos. Quase 10 anos já haviam transcorrido desde que a mãe morrera de forma violenta..., seu corpo aninhado nos seus braços. Então, sra. Solomon?, sussurrou o guarda em tom de brincadeira. Algum dia vai contar a alguém o que está fazendo lá atrás? Ela ergueu os olhos. Algum dia, Kyle. Hoje não. Por favor, insistiu ele. Um laboratório secreto..., dentro de um museu secreto? A senhora deve estar fazendo alguma coisa bacana. Muito mais que bacana, pensou Katherine enquanto juntava os seus pertences. A verdade era que ela estava praticando uma ciência tão avançada que nem sequer parecia mais ciência». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.

Cortesia de BertrandE/JDACT

JDACT, Dan Brown, Washington D.C., Literatura, Maçonaria,